Para uma democratização do ensino.
Karen Bueno – O último dia do I Congresso Internacional Schoenstatt de Educação recebe o Prof. Dr. Michael W. Apple, professor da Universidade de Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos. Ele fala sobre a democratização das práticas educacionais, com a mediação e apoio do Prof. Dr. Alípio Dias Casali, da PUC de São Paulo/SP.
Prof. Michael, numa postura assumidamente esquerdista, faz ataques diretos ao neoliberalismo. “É muito importante ter cuidado e observar os grupos de opressão. Quem manda é o poder dos grupos dominantes. Nós temos uma educação ‘política’, mas não é um político em geral, apenas político para alguns grupos”.
Os grupos dominantes que ele cita são os neoliberais, os novos conservadores, os populistas autoritários – onde ele inclui os ‘religiosos conservadores’ – e os professionais e empresários da nova classe média.
Prof. Apple participa deste Congresso a convite da Universidade Estadual de Londrina e não poupa ataques à Igreja, mesmo afirmando que não “tem nada contra a religião”. A postura dos schoenstattianos, segundo comentam alguns, é de respeito ao ouvir os pontos de vista divergentes, ainda que não concordem com muito do que foi é dito, sempre buscando o crescimento com um olhar mais amplo sobre a realidade.
“Democracia é sempre mais escolha, mas, quantos poderão escolher? A prática é outra. A palavra mais difícil para o inglês, português e espanhol é ‘nós’. Ela nos reconfigura, significa que todos têm voz, precisamos construir uma nação para que sejamos um ‘nós’, construir uma pedagogia que ajude a formar essa consciência, nós estamos formando algo juntos e isso tem que ser feito de um modo democrático, todos tem que ter voz, mas isso nunca foi feito, então a democracia não existe”, diz ele.
Schoenstatt
Michael Apple acompanhou uma parte do Congresso de Educação e do Fórum dos Estudantes e se mostra empolgado com a pedagogia Kentenichiana. “Eu tenho muito respeito pela pedagogia de Schoenstatt e sua tentativa de enviá-la para outras escolas, escolas públicas, de regiões carentes. É muito bonito saber que a pessoa que criou a pedagogia de Schoenstatt [o Pe. Kentenich] viveu muitos anos no meu estado [em Wisconsin]. Descobri isso somente agora, com esse Congresso, então eu peço a vocês que passem isso à frente, que transmitam tudo isso ao mundo”.
Pelo Fórum, ele percebe – diz – a democracia nas escolas schoenstattianas: “Se nós formos falar em democracia nas escolas de Schoenstatt, vemos a voz que os estudantes têm, nós vimos eles ontem no palco dizendo o que pensam, temos os professores e funcionários falando”.
Construir a utopia
No final da palestra, Apple convida à ação: “Nós nãos somos marionetes, nós não seremos controlados. Em cada cidade desse estado há professores que dizem: ‘Eu não!’ Há professores que defendem uma pedagogia do carinho, do amor. Isso não é uma fábrica, nós não somos produtos, temos que exigir nossos direitos, nós somos os professores do mundo”.
O Prof. Alípio comenta o conteúdo da palestra e faz suas observações sobre o Movimento Apostólico: “Schoenstatt é a pronuncia de uma utopia. Como construir o ‘belo lugar’ no mundo contemporâneo? Parece que essa é a grande questão. Michael falou disso, de um contexto para construir em nosso mundo o ‘belo lugar’. O único modo de construí-lo é a inovação. Precisamos sim de inovações tecnológicas, mas, qual o alcance dessas inovações? ‘Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância’. Se existir algo mais inovador para construir o belo lugar do que isso, eu não sei o que seria”.
Muito interessante a forma pontual, ousada do Prof. Dr. Michael Applle em chamar atenção para o modelo opressor. Quem manda é “o poder dos grupos dominantes”. Gratificante constatar que, o renomado pesquisador evidencia seu respeito pela Pedagogia Kentenichiana, incentivando que a levemos as escolas de todos os níveis e lugares do mundo.