As Universidades se adentram nesse mundo.
Karen Bueno – O I Congresso Internacional Schoenstatt de Educação, que ocorreu de 23 a 27 de agosto em Londrina/PR, realizou-se por meio de uma parceria entre o colégio Mãe de Deus e os programas de mestrado e doutorado em Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da Universidade Norte do Paraná (Unopar), chancelando cientificamente o evento.
Sobre esse fato, conversamos com a coordenadora do Departamento de Educação da UEL, Prof. Dra. Rosana de Sousa Pereira Lopes, que explica sobre essa parceria e conta o que espera a partir desse evento:
O que levou a UEL, uma universidade pública, portanto laica, a apoiar esse Congresso?
A UEL apoiou o Congresso pela relevância do colégio Mãe de Deus na história de Londrina. A história do colégio, de forma indireta, também se encontra com a história da Universidade. Há convênios, usos de espaços comuns, também pela importância que o [colégio] Mãe de Deus tem na construção cultural, educacional e social de Londrina. Esse foi o interesse, ainda que alguns posicionamentos [entre as instituições] sejam diferentes. Eu não acho que a diferença tenha que repelir, a diferença tem que aproximar, esse é o espírito. Imagino que a Unopar vai nesse mesmo tom.
Como a Pedagogia do Pe. Kentenich pode contribuir com a realidade acadêmica de ensino em nível superior?
A teoria, ou Pedagogia de Schoenstatt, como o colégio chama, é um mundo a ser descoberto pela ciência, pela universidade. Nesse momento, por exemplo, o que eu como pesquisadora e mesmo a Unopar temos feito, é tentar saber como é [a Pedagogia Kentenichiana], é tentar conhecer. Eu não tenho ainda condições, como professora do ensino superior, formadora de pedagogos, de dizer exatamente onde ela [a pedagogia de Schoenstatt] pode contribuir. Eu acho que uma pedagogia que ultrapassou 80 anos dentro de uma instituição e que envolve tantas escolas tem algo de bom e frutos bons. Mas a gente precisa de um tempo maior para entender como é, aprofundar um pouco esses estudos. Eu acredito que há possibilidade de se revelar coisas positivas em relação ao trabalho do colégio e dos demais trabalhos. Nesse momento, a Universidade de Londrina está no Congresso em respeito a toda história, o percurso e a caminhada que o Mãe de Deus tem na história da cidade e com um olhar curioso sobre a Pedagogia de Schoenstatt.
Como os alunos e professores da UEL reagiram à proposta de estudar a pedagogia de um sacerdote?
É um olhar curioso, até porque eu acho que, por muito tempo, a gente viveu essa divisão entre Igreja e ciência, parece que ciência não tem nada a ver com a religião. Eu acho que são duas áreas distintas, duas formas de conhecimento diferentes, mas eu não vejo como depreciação o fato de ser um padre que tenha pensado uma pedagogia, temos outros momentos da história em que vemos outros padres se tornando teóricos e sendo respeitados, inclusive no mundo acadêmico, eu acho que esse estranhamento não há. E nesse momento é que eu volto a dizer: é um olhar curioso apenas sobre isso, nada muito sistematizado. Há, sim, dissertações de mestrado feitas na UEL e em outras universidades, Trabalhos de Conclusão de Curso abordando isso, mas não existe ainda nada muito contundente, essa é uma vontade dos diretores das instituições que trabalham com a Pedagogia de Schoenstatt, mas isso não está sistematizado.
Qual sua visão para a Pedagogia Kentenichiana a partir desse Congresso?
Eu acho que a grande contribuição, para mim, talvez para quem está ouvindo e vendo com esse posicionamento, é primeiro descobrir o que permeia os 80 anos desse colégio – acho que é a primeira vez que o Mãe de Deus abre as portas para que alguém entenda como ele é. A segunda coisa que eu acho é que tem uma contribuição importante aí da pedagogia, do ponto de vista para a educação, que é o olhar ao educando. Esse movimento de autoeducação do educando, essa ideia de que o conhecimento depende de uma organização do educando e que nós somos sujeitos apoiadores desse processo, essa crença no sujeito é uma coisa importante diante do que a gente tem visto das novas correntes da pedagogia. As novas correntes muitas vezes atendem às tendências mercadológicas, neoliberais, com pouca presença da pessoa, com uma valorização excessiva de informação e não necessariamente de sistematização de conhecimento, acho que esses são alertas importantes para nós nesse momento.