“O desafio não é mudar os princípios, mas adaptá-los”.
Karen Bueno – Ele chegou e conquistou a atenção de todos os presentes durante o I Congresso Internacional Schoenstatt de Educação. Com sua ampla bagagem de pesquisas e experiências pessoais, somado ao espírito jovem e a paixão pelas tecnologias, o Prof. Dr. José Manoel Moran, professor aposentado da Universidade de São Paulo, deixa sua contribuição sobre as maneiras inovadoras de ensinar, que colocam o aluno como protagonista de sua história pessoal.
Prof. Moran é uma figura conhecida no mundo acadêmico e se mostra sempre “com a mão no pulso do tempo”, buscando aproveitar ao máximo o melhor aspecto das novas tecnologias. Ele comenta suas impressões e desafios para a Pedagogia de Schoenstatt a partir de sua experiência com metodologias de ensino inovadoras:
Professor Moran, o Pe. José Kentenich sempre priorizou a formação pessoal, individual, “olho no olho”. É possível fazer isso hoje por meio da tecnologia? Como tirar o melhor proveito dos meios digitais nesse sentido?
Esse princípio básico do encontro, do acolhimento, de estar junto, aprender individualmente, mas ao mesmo tempo com o apoio de alguém mais experiente, que é o professor ou um especialista, com alguém que conhece mais o assunto, e aprender também com o que está ao lado, com o colega. A tecnologia permite fazer isso de uma forma diferente do que era possível dez, vinte, trinta anos atrás. Hoje, a tecnologia móvel combinada a esse estar conectado em tempo real permite que você converse, que se vejam e, se quiserem, compartilhem o que estão fazendo, o que antes não era possível. Então a tecnologia pode manter o mesmo princípio do aprender autonomamente, ou seja, você pode aprender por si mesmo, fazer suas pesquisas, assistir vídeos, compartilhar isso com alguém, debater os assuntos com um colega ou especialista. A tecnologia faz ampliar essas possiblidades em que os princípios são os mesmos. Assim, a pedagogia do Pe. Kentenich é a mesma, o contexto só está ampliado, isso é o que queria deixar como o eixo principal, não pensando que porque agora a tecnologia está aí, a gente não pode fazer a mesma coisa. Nós podemos fazer a mesma coisa de várias formas. Em síntese, o que a tecnologia nos permite hoje é aprender em qualquer espaço, a qualquer hora e de múltiplas formas – eu posso aprender sozinho, ou em grupo, ou com orientação de alguém, posso aprender numa mesma sala ou estando em lugares diferentes, conectados. Esse é o mundo que está aí.
Até que ponto é saudável inserir a tecnologia na formação dos jovens, adolescentes e crianças?
O primeiro princípio, que agora está claro, é que se na vida nós aprendemos informalmente, também com o apoio das tecnologias do dia-a-dia – o celular conectado, smartphone – de alguma forma isso deve estar inserido na aprendizagem formal. Agora, a gente utiliza a tecnologia para o que nos ajuda no momento, quando ela nos distrai, nós temos que parar. Por exemplo, se estou conversando com alguma pessoa, almoçando com ela, ficar atendendo o celular nesse momento atrapalha a conversa; então muitas vezes eu tenho que saber dizer não. Há momentos em que a tecnologia se faz uma dinâmica de brincadeiras, de objetos e aí eu não vou usar, necessariamente, o celular – a não ser que o celular faça parte desse objeto. Há momentos em que ele faz sentido e há momentos em que não, mas isso tem que ser planejado, para que ela [a tecnologia] não nos distraia e sim ajude, nós temos que incorporá-la, não basta só dizer “não use!”, proibir como algumas instituições e colégios fazem; a gente tem de saber discernir e estabelecer bem a dinâmica e as regras do jogo, para que elas fiquem claras para os alunos.
Pelo que captei de sua palestra, o senhor defende, assim como nosso Fundador, a formação integral do homem (não mede, por exemplo, o sucesso de um educando, na vida futura, apenas por aspectos financeiros). Para o senhor, como o professor pode contribuir para essa formação integral?
Não se trata só de ser feliz, mas de ter uma vida com significado, com relevância, com algum sentido, como eixo importante do que nós aprendemos. Então, é preciso colocar esse contexto sempre, dessa dimensão humana que significa construir a vida como um projeto vivo, como uma trilha de aprendizagem, onde em cada momento você aprende, até com seus próprios erros, e refaz um pouco o percurso. Colocar essa ideia de percurso, de trilha, que hoje está mais clara; a ideia de projeto, mas de um projeto que vai se fazendo dia a dia. E o professor pode primeiro aplicá-lo na vida dele, o professor também está desenvolvendo a sua trilha de aprendizagem quando está em contato com o aluno, quando está preparando a aula, quando está em contato com a cidade, com a família – ele está aprendendo e está desvendando essa trilha. Então ter essa consciência, também explicitada no cotidiano em vários momentos, de associar o que estamos aprendendo a que cada um, em algum momento, faça uma aplicação em sua vida. Fazer sempre essa ponte com a vida, fazer esse link com um projeto maior, senão o aluno não entende porque tem que estudar isso ou aquilo. Isso porque quando algo está ligado à sua vida, à sua realidade, você aprende a perceber aquilo de uma forma mais ampla, a desenvolver novos horizontes e competências, tanto cognitivas como socioemocionais, então trabalhar todas essas dimensões o tempo todo, para que o aluno perceba que aquilo não é uma colcha de retalhos, mas faz parte dessa visão maior de engajamento em algo que te interesse. Com isso você encontra significado e amplia seu conhecimento e sua competência.
O senhor traz uma ampla bagagem de estudo e pesquisa na área da educação e conhece muitos modelos de ensino. Hoje, olhando a Pedagogia de Schoenstatt, ainda que brevemente, quais são suas impressões?
Realmente eu não a conheço a fundo, conheço alguns princípios e concordo com esses princípios. Já faz muito tempo que [a Pedagogia de Schoenstatt] é praticada em vários lugares do mundo, então primeiro é um projeto bem sucedido. Quando você tem durante tantas décadas, no mundo inteiro, em vários países, grupos que estão organizando-se a partir desses rumores, significa que eles têm relevância. O desafio hoje não é mudar os princípios, mas como adaptá-los às realidades, às situações que exigem, por exemplo, uma aprendizagem mais complexa. O mundo é mais complexo, é mais dinâmico, as mudanças são mais rápidas e exigem mais atenção do que antes às adaptações sucessivas. Então, na verdade, é como você não se perder no meio dessas adaptações, encontrar equilíbrio, manter a autonomia individual e, ao mesmo tempo, saber compartilhar – essa é uma dimensão que hoje é mais importante do que em outros períodos, aprender através do compartilhar e não somente do adquirir individualmente o conhecimento, não basta cada um guardar para si, quanto mais você compartilha, mais você aprende. Então é necessário adaptar essa Pedagogia a uma complexidade maior de viver na incerteza de um mundo que muda rapidamente e isso é um desafio para qualquer filosofia educacional, para qualquer organização, de se adaptar sem perder sua identidade.
A ênfase, o que mudou entre antes e depois é que antes parecia mais conveniente a gente educar trazendo as pessoas mais experientes e elas nos diziam o que é melhor. Através da fala e de textos a gente dava conta de entender o mundo. Hoje você tem que dar mais ênfase ao aprender fazendo, experimentando e refletindo. Na verdade, a ênfase hoje é mais no aluno, na motivação que ele tem, nas expectativas. O currículo tem que se adaptar a essas necessidades e não simplesmente permitir que todo mundo execute as mesmas coisas ao mesmo tempo, como antes parecia mais benéfico. Hoje não é mais eficiente aquele modelo centrado no professor, temos que centrar mais a aprendizagem ativa dos alunos, ajudando-os, envolvendo-os, mas ajudando-os a refletir e aprofundar, e não simplesmente a ação pela ação. É uma ênfase na aprendizagem que antes não estava assim tão evidente.