Cultura da Aliança gera solidariedade.
Ir. M. Nilza P. da Silva/Karen Bueno – “Esse projeto reforça a cultura da aliança, mostra o concreto, mostra realmente o que é uma aliança aplicada na vida. Não adianta ficar no Santuário só rezando o tempo todo, eu acho que nós temos que sair e ajudar as pessoas que precisam. É tão simples, é tão fácil”. Com essas palavras de estímulo, Valquiria Teresinha Martins, da Liga Apostólica Feminina de Schoenstatt, revela seu espírito missionário.
Valquiria é professora de Arte em Santa Maria/RS e traz um grande exemplo do que é viver a Aliança de Amor em saída, levando a misericórdia às periferias. Nessa cidade, a Família de Schoenstatt mantém o projeto Cefasol (Centro de Referência Familiar Recanto do Sol), que atende as famílias carentes no bairro Camobi, uma região muito pobre de Santa Maria.
O Centro de Referência Familiar tem como objetivo retirar as crianças da rua, para que não fiquem expostas às suas mazelas – como a prostituição e a droga. Para isso, são desenvolvidas várias atividades no projeto, sempre no contra turno do horário das aulas. Ali as crianças recebem reforço escolar, participam de recreação, têm danças e atividades culturais, também dentistas e psicólogos atendendo. Algo entre 90 e 110 crianças são acompanhadas pelo projeto.
Mãe da Vila
Em paralelo a esse trabalho, Valquiria coordena outro projeto, chamado “Artesãs de Marias”. Nele, as mães da região têm aulas de artesanato, criando peças manuais como fonte de renda alternativa. “Nós ensinamos elas a desenvolverem um trabalho, para a autovalorização, para que elas vejam que têm condições de fazer muitas coisas. A gente tenta dar um incentivo para que se sintam valorizadas; é um trabalho que elas aprendem e ganham com ele, tem algumas que já estão fazendo [peças] por fora e já recebem com ele também”.
Atualmente 12 mães participam do projeto e têm aulas com Valquiria. “Eu as ensino a bordar, elas fazem tricô, crochê, todo um trabalho de artesanato. Esses trabalhos são vendidos em feiras e a verba é toda revertida para elas”.
Vidas que se transformam
Com o tempo, alguns testemunhos foram se somando à história das mães da vila. Valquiria conta um exemplo:
Entrou no projeto uma senhora muito depressiva. Ele chegou, mas não gostava de fazer nada, não queria nada. Eu sentia que ela não estava satisfeita, estava com medo de que fosse embora, por isso pedi uma luz para a Mãe de Deus. Veio-me, então, a ideia de pegar tiras de tecido e pedir para ela resgar aquelas tirinhas. Ela cortou vários pedaços e fez um rolo bem grande, como um rolo de lã. Eu lhe dei umas agulhas lhe disse para fazer uma bolsa com aquilo. E ela gostou de fazer. Todo mundo se encantou com seu trabalho, foi uma coisa diferente, bem criativa, que não tinha igual. Ela fez a bolsa e começou a vender, aquilo foi o que deslanchou para ela. Depois eu faltei duas vezes nas aulas e, quando voltei, uma mãe chegou e me disse que ela estava, de novo, daquele jeito, depressiva. Eu tinha dentro da minha bolsa o livrinho com a novena da Ir. M. Emilie Engel, então a chamei de lado e disse: “Eu sei que tu não é católica, mas lê a história dessa Irmã, porque eu acho que vai se identificar contigo, pois ela não se achava, também procurava alguma coisa. Lê, lê essa história”. Ela levou o livro para casa e na outra semana chegou e disse assim para mim: “Eu li, gostei e estou fazendo a novena”. Isso foi em novembro. No início do outro ano, ela chegou e disse que tinha uma coisa para me contar. Eu perguntei o que era e ela respondeu: “Eu estou participando da Igreja Católica”. E hoje, na casa dela, uma vez por semana é rezado o terço com a Mãe Peregrina.
A professora diz que é gratificante participar dessas histórias: “Para mim é a realização, eu me realizo. É algo que eu me propus a fazer, eu me sinto feliz e faço com amor, com desprendimento. Deixo de fazer muitas coisas para mim, coloco esse trabalho em primeiro, assumi esse compromisso e estou sempre junto com elas e procuro lhes mostrar também esse lado do desprendimento, de entrega”.
A Peregrina chega à Vila
Sobre o bairro atendido, Valquiria conta: “A gente sente, nessa vila, que a miséria não é tanto na comida, no material, a miséria está mais na maneira de agir, na forma com que eles vivem, a maior miséria está na droga, na prostituição, tudo isso. Vocês não têm ideia de como é”.
Para amenizar as carências sociais e espirituais, uma presença discreta caminha entre seus filhos. “Nós levamos a Mãe Peregrina para lá, ela passa pelas famílias, também entre as crianças, uma vez por semana. Mudou muito lá, a gente sente uma mudança bem grande”.
Sobre o Santuário, ela ressalta: “É tudo, representa o ‘Nada sem vós, nada sem nós’. Nós somos nada sem a Mãe e temos que ir ao Santuário buscar força para levar às pessoas – nós somos seus pés”.
O Projeto Cefasol é mantido com verba da Prefeitura de Santa Maria e também por doações de muitas pessoas generosas. Para conhecer mais, o endereço é Rua Angelin Bortoluzzi, 485, Camobi, Santa Maria. Telefone: (55)
3217-2325.