Ciclo de palestras com Ir. Dra. M. Doria Schlickmann.
Karen Bueno – A Família de Schoenstatt dos regionais Sudeste e Paraná recebeu no final de agosto e começo de setembro a visita de Ir. Dra. M. Doria Schlickmann, do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt da Alemanha.
Ir. M. Doria é doutora em Pedagogia Kentenichiana e formada em Alemão, História e Pedagogia. Desde 1999 ela trabalha na área da pesquisa biográfica e de documentação sobre o Pe. José Kentenich e desde 2004 integra o IKF (Instituto Internacional José Kentenich para pesquisa e doutrina).
Encantada com a acolhida e as vivências no Brasil Tabor, ela deixa um pouco de sua riqueza no campo de pesquisa biográfica:
Ir. M. Doria, como o Pai e Fundador pensa a liberdade, quem é o homem livre para ele?
Ele tem um pensamento bem abrangente sobre liberdade. Para ele é importante a liberdade política, dos meios de comunicação, da publicidade, a liberdade de se movimentar… Ele deu muita importância a todas essas liberdades exteriores, mas o mais importante, o mais essencial para ele é a liberdade interior. Uma pessoa é livre quando ela pode se decidir e agir a partir dos seus valores interiores. E, para ele, a última liberdade consiste em fazer a vontade de Deus, pois Deus é aquele absolutamente livre e se nós agimos nele, então nós também nos tornamos livres.
A senhora fala muito sobre a Pedagogia do Amor, o que pode nos dizer sobre essa Pedagogia?
Sobre a palavra ‘amor’ temos que dizer que se trata de algo mais que somente um sentimento ou uma emoção. Significa que cada pessoa encontra em si mesma o pensamento original de Deus, por isso também o amor é individual. O importante para o pedagogo, o educador, é a valorização, o amor que quer que o outro cresça, quer que o outro possa crescer e desenvolver todas as suas capacidades e talentos, se tornando mais maduro. Por isso é importante que o responsável faça tudo para ajudar a que a outra pessoa – ou seja, a criança, o filho, o aluno – possa se desenvolver sempre mais.
A qual valorização a senhora se refere?
Falo para o pedagogo, ele mesmo necessita de uma consciência de autovalorização para não se deixar tornar inseguro por meio de algumas atitudes da criança e para isso ele precisa de uma personalidade firme. Mas também a valorização em relação ao aluno, àquele que está em nossa frente. Segundo o pensar do nosso Pai e Fundador, também como Jesus ensina, o amor sempre deve ser sem interesse, desprendido de si mesmo. Isso significa que o pedagogo, o educador, observa tudo aquilo que ele sente ser importante para o aluno, para a criança, ele pode sentir o que é importante para o outro.
A fase de infância e juventude do Pe. Kentenich era um tanto desconhecida para a Família de Schoenstatt devido aos fatores históricos. Seu trabalho de pesquisa nos trouxe uma luz sobre essa etapa tão importante. O que a senhora pode nos contar sobre a pesquisa e escrita dos “Anos Ocultos”?
No início se tinham poucas informações sobre a mãe do Pai e Fundador [Katarina Kentenich] e precisaria mesmo se fazer uma grande pesquisa, porque, normalmente, depois de 50 anos que uma pessoa morreu, se tira os documentos, a prefeitura elimina esses arquivos. Uma vivência pessoal que experimentei é que o Pe. Kentenich ajudou para que eu encontrasse algumas dicas. Era como um quebra-cabeças, que depois foi se juntando até conseguir se formar essa imagem. O trabalho histórico se torna como que um trabalho de detetive.
Em todo esse trabalho de pesquisa, há algo que descobriu que lhe marcou pessoalmente?
Descobrir o amor muito íntimo e terno da mãe natural junto com o Pe. Kentenich. Encontraram-se, por exemplo, cartas e pela pesquisa histórica pode até se saber quantas vezes um papel foi aberto e fechado. Então dava para ver que o papel estava gasto e que o Pe. Kentenich carregava essas cartas junto consigo. Numa biografia fala que o amor entre o Pe. Kentenich e sua mãe foi muito terno e íntimo, mas sem um documento concreto que demonstre isso. Porém, esses documentos [as cartas gastas] provam isso.
Em uma opinião mais pessoal, só por causa dessas cartas e de outras acusações que ele recebeu e respondeu, ele poderia ser beatificado – mas é uma opinião bem pessoal.
Outro ponto é que encontrei cartas que o Pai e Fundador escreve sobre a sua situação, que ele nasceu de maneira ilegítima – fora de um casamento, de um matrimônio. Mas como ele era livre em relação a sua história, ele depois comenta sobre isso. Também impressiona como ele, enquanto jovem, fez um trabalho de autoconhecimento e autocritica, mas também de autoeducação. Como era convicto da forma com que Deus conduziu a vida dele. Duas vezes ele disse: “Isso devia ter acontecido assim”. Embora seja um sofrimento, ele aceita isso como dentro de um plano divino de amor.
Para encerrar, o que a senhora achou do Brasil? Quais suas impressões?
O Brasil é um país maravilhoso, muito rico; rico em frutas, verduras, tem uma vegetação e plantação lindas. Rico também porque tem petróleo, minerais, tem ouro, pedras preciosas. E, de modo especial, ele é rico em seres humanos. Os brasileiros conquistaram todo o meu coração. São pessoas amáveis, que vão ao encontro dos demais. Os valores são muito importantes para eles, como a religião e os vínculos, as relações. Os problemas – por exemplo, as drogas – estão vinculados à pobreza. A grande crítica é para o governo. É trágico, porque esse país merecia um governo melhor, ele deveria fazer mais pela população vulnerável. Experimentei algumas vivências de pessoas que saíram das favelas, pessoas boas que mereciam educação e um lugar melhor para morar. [Ele brinca]: Também aprendi que o horário no Brasil é diferente: cinco minutos no Brasil significa uma coisa e na Alemanha significa outra [em relação aos atrasos]. E que é preciso se acostumar com a maneira desregulada de dirigir [risos]. Muito obrigada!