Período eleitoral é tempo de viver a Aliança e estar em saída.
Iago Rodrigues Ervanovite – Em poucos dias, milhares de brasileiros, eleitores, serão convidados a estar diante de uma urna eleitoral. É novamente período de eleição, agora, a nível municipal. Somos convidados a escolher nossos representantes na Prefeitura e na Câmara de Vereadores. Muito além de saber o que fazem prefeitos e vereadores, muito além de conhecer os candidatos, muito além do direito de votar e ser votado, será que estamos, de fato, nos politizando?
Longe de pensar que a política se restringe a isso (votar e ser votado), Aristóteles já nos lembrava que a política é uma ciência humana, relacionada à ética, e que se preocupa, principalmente, com a felicidade coletiva.
Alguns querem fazer crer que apenas podemos nos preocupar com a felicidade coletiva (ou seja, fazer política) no ato de votar e ser votado. Mas será que isso é mesmo verdade?
É óbvio que não.
Não por outra razão, o Papa Francisco nos lembra em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium que embora “a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política”, a Igreja “não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça”, de forma que “todos os cristãos, incluindo os pastores, são chamados a preocupar-se com a construção dum mundo melhor” (EG, 183).
O Santo Padre ainda completa: “Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).
Ou seja, não nos parece que exercer nossa vida política deve ficar restrito ao direito de votar. Com efeito, embora o direito ao voto somente nos seja permitido a partir dos 16 anos, todos – incluindo crianças e adolescentes – são convidados a ser politicamente participativos.
Ser político sem ter partido
Quase sempre que ouvimos falar em “política”, as primeiras imagens que nos vêm à cabeça são de homens, de terno, falando sobre promessas e dinheiro, envolvidos em seus partidos políticos, e da urna eletrônica. Além disso, em não raras vezes também nos lembramos de um ou outro jingle (aquelas musiquinhas que ouvimos durante as campanhas) que sempre nos marcam.
Contudo, precisamos acabar com diversas (senão todas) essas impressões, para entendermos, de fato, o que é uma vida política.
Primeiro, a política não se restringe (e nem deve!) a homens, muito menos de terno, afinal, a representatividade política é para todos, homens e mulheres, de terno ou de chinelo.
Essas impressões são reflexos daquilo que vemos hoje em nossas Câmaras de Vereadores e em nosso Congresso Nacional. Muito embora as mulheres representem 52% da população brasileira, apenas 9% das cadeiras do parlamento são ocupadas por elas. A ideia do “terno” também precisa cair de nossas mentes. As lideranças políticas são possíveis a qualquer pessoa, de qualquer lugar, e não apenas para aquelas que podem comprar um terno (ou para aquelas que gostam de usá-lo).
E por que ainda achamos que a urna eletrônica é o único instrumento para exercício de nossos direitos políticos? Quem aqui nunca fez ou participou de um abaixo-assinado? Pode ser em nossa escola, em nosso bairro, em nossa Igreja, enfim, seja de onde for, manifestando nosso pensamento, nossa opinião, concordando ou discordando, agimos politicamente.
Sabiam, ainda, que podemos opinar sobre projetos de lei em trâmite perante o Congresso Nacional, seja na Câmara dos Deputados, seja no Senado Federal? E o acesso é livre para qualquer pessoa, independentemente de ter título de eleitor, basta ter acesso à internet e se conectar nos sites do Legislativo (www2.camara.leg.br ou www12.senado.leg.br).
Vejam vocês que todos esses questionamentos que aqui fazemos são políticos! Fizemos política! Aqui, nesse texto, nesse site, e nem sequer falamos de qualquer partido político em específico. Essas ideias são para demonstrar que fazer política está, principalmente, no ato de questionar a realidade e propor soluções, e não apenas naqueles itens que mencionamos no começo do texto.
Mas e o voto?
Embora não seja a única ferramenta de participação política, o voto é sim a mais importante delas. Hoje, na democracia brasileira, é por meio do voto que exprimimos nossas intenções e desejos para com nossa sociedade e nosso Estado.
Embora seja um direito, o voto também é um dever. E nem falo aqui apenas pelo fato de que, no Brasil, o voto é obrigatório. Digo com toda a sinceridade, é dever de todos ajudar a construirmos uma sociedade melhor, principalmente do cristão. Como nos ensina o Papa Francisco, “uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela” (EG, 183).
Se podemos, concretamente, em nosso Estado Democrático de Direito, manifestar nossas opiniões e nossos anseios, somos convidados (também, mas não exclusivamente) a fazê-lo por meio do voto. É por isso que precisamos estar sempre atentos aos/às candidatos/as que nos propõem mil maravilhas; é preciso saber quem são, se já têm experiência na vida política, o que realmente pensam sobre outros assuntos que também nos interessam…
E reconheça a importância do seu voto; dê valor à sua opinião. Jamais devemos pensar: “apenas o meu voto, um voto, não fará diferença”. Madre Teresa de Calcutá já nos alertava: “Eu sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele o oceano seria menor”.
Eleições municipais 2016
Prefeitos e vereadores compõem a esfera do Poder mais próxima da população. No dia 2 de outubro deste ano, somos convidados a escolher nossos representantes em nossos municípios.
Particularmente, gosto de pensar que, por maiores e mais importantes que pareçam os Estados e a União, a vida cotidiana das pessoas, dos cidadãos, acontece em nossos municípios, cidades e bairros.
Por isso, não deixemos de nos atentar à participação política deste ano, seja pelo voto direto, na urna eletrônica, seja participando e ouvindo, com atenção, as propostas daqueles que trabalharão pelo bem da população.
Afinal, ser político é exercer um direito além do voto, é estar presente nos problemas da sociedade em que vivemos.
Fonte: jovensconectados.org.br
*Este artigo foi originalmente publicado na edição de setembro de 2016 do Boletim Salesiano, cuja versão digital da revista você pode acessar pelo site: boletimsalesiano.org.br