“Podia se perceber que foi um homem de Deus, que tem ligação com o outro mundo e para quem Deus efetivamente é uma pessoa”.
Heinrich Brehm – Conforme um comunicado da Presidência Geral da Obra Internacional de Schoenstatt, o Pe. Ángel Strada, até o momento postulador do processo de beatificação do Pe. José Kentenich, vai passar essa tarefa para o Padre de Schoenstatt chileno Pe. Eduardo Aguirre Cancino. Numa entrevista ao site do Movimento Apostólico na Alemanha (schoenstatt.de), o Pe. Ángel Strada elucidou alguns aspectos de sua atividade para a qual ele investiu 20 anos de sua vida.
Pe. Ángel Strada, no início de 2017, o senhor vai passar a sua função de postulador do processo de beatificação do Pe. José Kentenich para o Pe. Eduardo Aguirre. Desde quando o senhor se engajou nesta tarefa?
Eu vim para a Alemanha no ano de 1984 e minha primeira tarefa foi como reitor do centro de formação [dos seminaristas dos Padres de Schoenstatt] “Josef Kentenich Kolleg”, em Münster. Eu atuei oito anos ali. Depois, em 1992, fui eleito para ser membro da Direção da Comunidade e desde então estou aqui [em Schoenstatt]. Enquanto era membro da Direção Geral, me foi confiada a missão de postulador, em 20 de janeiro de 1997. Portanto, em janeiro de 2017 faz exatamente 20 anos que estou exercendo essa função.
Quando o senhor se lembra do início, qual é a impressão mais forte ao assumir esta tarefa, na época, das mãos do primeiro postulador ou do processo de beatificação, Pe. Engelbert Monnerjahn?
A posse tinha de acontecer rapidamente. Eu só pude falar duas ou três vezes com o Pe. Monnerjahn. Em setembro de 1997, ele já faleceu. Naturalmente eu tinha dezenas de perguntas, mas não pude esclarecê-las com ele. Além disso, o processo ainda estava muito próximo do início. Sobretudo, o segundo delegado episcopal quase tinha se ocupado com o processo ainda. Por isso, em muitos aspectos foi possível praticamente começar de novo.
Desde o início, eu fiquei impressionado com a quantidade de documentos, textos, escritos e cartas. Existem 12.000 cartas – do Pe. Kentenich, para o Pe. Kentenich e sobre o Pe. Kentenich –, 6000 palestras, etc. Só aos poucos me dei conta de que esse processo é muito maior do que eu tinha imaginado. Além disso, o Pe. Kentenich alcançou idade avançada. Mario Hiriart só chegou aos 32 anos e escreveu muito pouco. João Pozzobon, também uma pessoa maravilhosa e de grande santidade, igualmente quase não deixou escritos. Em relação ao Pe. Kentenich, a situação é bem diferente: ele escreveu muito e, sobretudo, formulou uma mensagem bem nova para a Igreja que, em função de sua novidade, trouxe muitas dificuldades como, por exemplo, a visitação [apostólica]. De um lado, estava a alegria de, por meio desta tarefa, me aproximar da pessoa, dos pensamentos, da vida e santidade do Pe. Kentenich. De outro, naturalmente existiam questões difíceis para serem estudadas e solucionadas.
O senhor, com certeza, já teve um vínculo anterior com o Pe. Kentenich. Este mudou ou se aprofundou ao ocupar-se com ele no decorrer do processo de beatificação?
Conheci o Pe. Kentenich ainda nos últimos três anos de vida dele. Em setembro de 1965, ele foi de Milwaukee/EUA a Roma e depois, na Noite Santa, para Schoenstatt. Eu vi o Pe. Kentenich pela primeira vez no dia 29 de março de 1966, no Santuário das Irmãs de Maria, por ocasião de uma palestra para os vocacionados dos Padres de Schoenstatt. No dia seguinte, nós fomos para Münster/Alemanha, a diocese de Dom [Heinrich] Tenhumberg, onde o nosso estudo começou. Em agosto de 196, ele próprio veio para Münster e pregou retiro para nós. Dia 23 de agosto, após o café da manhã, eu pude falar com o Pe. Kentenich, por mais de meia hora. Esse momento foi, de fato, muito impressionante, apesar de, como pessoa de pequena estatura, não impressionar muito. Era preciso também se acostumar à sua fala. Na ocasião, eu o conheci como uma pessoa simples, humana, humilde e feliz e, ao mesmo tempo, podia se perceber que foi um homem de Deus, que tem ligação com o outro mundo e para quem Deus efetivamente é uma pessoa.
Durante esses anos como postulador, o senhor teve de se confrontar com as nuances da pessoa do Pe. Kentenich, que são difíceis de serem compreendidas. Elas adiaram e adiam o processo?
Sim, com certeza, com certeza! Esses pontos provavelmente serão analisados de novo na segunda fase do processo, em Roma. Pode-se tomar como exemplo o tom da “Epistola perlonga” ao bispo de Treves, Dom Bernhard Stein: Ela foi escrita num tom muito duro. A gente pode se questionar se esse tom era necessário. Provavelmente não. Mas cada pessoa tem sua maneira própria… No lado oposto, porém, está a inacreditável generosidade na entrega da pessoa do Pe. Kentenich. Um detalhe, mas não irrelevante: Ele tinha 80 anos quando pregou retiro em Münster para nós. Sou testemunha de que ele, na idade avançada, ainda trabalhava 18 horas por dia. Por exemplo, ele não se permitia fazer pausa após o almoço só para ter tempo a fim de falar com cada um de nós.
Nesse longo tempo de postulador existiram somente momentos difíceis e preocupação com as dificuldades do processo ou houve também destaques e bons momentos?
Houve muitos bons momentos. Por exemplo, conversas fraternais específicas com o Dr. Georg Holkenbrink, o delegado episcopal de Treves. Também as sessões com a comissão histórica, que me convidava para todas as sessões, foram pontos altos, um bom trabalho em conjunto.
Da atual perspectiva, olhando para os 20 anos passados, o senhor está satisfeito ou tinha desejado um desenvolvimento diferente?
Estou satisfeito. Só o “descanso” do processo nos últimos anos é uma pena. Teria sido possível levar o processo a Roma mais rapidamente. Nós estamos esperando ainda a conclusão no nível diocesano. Estou contente com a compilação da documentação. Roma não vai poder se queixar. Nós compilamos quase 80.000 páginas. O processo inclui um índice de 32.000 documentos, que estão no arquivo. Não se trata só de dados técnicos, mas também um resumo do conteúdo desses documentos. Dezenas de pessoas, como Irmãs de Maria, membros dos Padres de Schoenstatt, Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt, leigos… com muita generosidade contribuíram muito para esse trabalho. Alguns eu nem conheço pessoalmente. Sempre que pedi ajuda, eu recebi respostas positivas. Era possível perceber que toda a Família de Schoenstatt estimava o trabalho em prol do processo e se engaja pela beatificação do Pe. Kentenich.
Agora termina o seu tempo como postulador. O que o senhor vai fazer agora? Vai voltar para a Argentina?
Não, eu fico aqui na Alemanha e vou ajudar, tanto quanto for possível, o Pe. Eduardo Aguirre. Ele vai precisar de ajuda, pois vai se confrontar com 100.000 páginas e ao mesmo tempo tem que preparar a etapa do processo de beatificação em Roma. Naturalmente também vou assumir outras tarefas na comunidade, nos terciados e retiros. E vou tentar escrever alguma coisa sobre a vida do Pe. Kentenich.
Recentemente um menino de dez anos perguntou: “Por que é tão importante que o Pe. Kentenich seja beatificado? A gente pode ter ele assim mesmo como companheiro!”. O que o senhor responderia para ele?
Eu responderia assim: os santos são “pessoas especiais na Igreja” e eu acredito que o Pe. Kentenich merece essa singularidade. Eles são exemplos claros da forma como podemos viver o Evangelho e eles são bons intercessores no céu. Naturalmente sou bem livre para me dirigir ao meu avô no céu ou ao Pe. Kentenich. Porém, é diferente quando a Igreja, com sua autoridade, me diz que o Pe. Kentenich é um bom modelo de vida cristã e um poderoso intercessor.
A canonização também seria importante para a reabilitação plena do Pe. Kentenich. Muitos sabem que surgiram dificuldades, mas quase ninguém sabe exatamente a história. A canonização elimina essa questão. Isso é importante para a glória do Pe. Kentenich.
Como a Família de Schoenstatt pode ajudar a apoiar o processo de beatificação?
Naturalmente por meio de orações e contribuições ao Capital de Graças, mas também de forma bem prática, como, por exemplo, os casais que em Treves ajudaram a tabeliã com a autenticação, carimbando 100.000 páginas e as Irmãs de Maria mais idosas que gravaram em voz as páginas manuscritas do Pe. Kentenich, de modo que depois pudessem ser digitalizadas.
Eu acredito que a gente não pode falar de beatificação próxima. A etapa em Roma vai exigir muita coisa. A Congregação para a Causa dos Santos tem poucos recursos humanos. Há um único responsável para cada 4-500 processos de beatificação em língua espanhola. É preciso aceitar a realidade como ela é.
Muito Obrigada, Pe. Ángel Strada, pela conversa.
Fonte: schoenstatt.de
Tradução: Geni Maria Hoss