Evangelizando a cultura, a educação, a política, a economia…
Karen Bueno – O recém-nomeado Arcebispo de Sorocaba/SP, Dom Julio Endi Akamine, abre suas férias com uma semana de retiro no Santuário de Atibaia/SP. Às vésperas de assumir a condução de uma nova região pastoral, ele se recolhe sob o abrigo da Mãe e Rainha, repetindo a mesma experiência de quando foi nomeado Bispo, em 2011.
Dom Julio pertence à Sociedade do Apostolado Católico e, como sacerdote Pallottino, conta suas impressões sobre a Obra de Schoenstatt:
Como e quando o senhor conheceu o Movimento Apostólico de Schoenstatt?
Bom, eu sou Pallottino, então as relações já são de longa data. Quando entrei no Seminário Menor, em Londrina/PR, já naquela época as Irmãs de Maria cuidavam da cozinha, da rouparia do seminário. Foi a partir das Irmãs que tive o primeiro contato com o Movimento e tínhamos muita proximidade com o Santuário. Depois também como Padre tivemos muitas oportunidades de encontros junto com as Irmãs.
Que aspectos da espiritualidade de Schoenstatt lhe chamam a atenção? O que o senhor destacaria?
A devoção mariana, acho que é algo muito comum entre os Pallottinos e entre o Movimento. Essa é uma marca importante, tanto da espiritualidade do nosso Fundador [São Vicente Pallotti] – ele tinha um grande amor a Nossa Senhora – e também do Movimento [de Schoenstatt]. O Pe. José Kentenich iniciou o Movimento em torno de um Santuário dedicado à Mãe Três Vezes Admirável e essa devoção mariana sempre esteve na base, tanto de Schoenstatt como da espiritualidade Pallottina.
Nosso Movimento tem origem na comunidade dos Pallottinos e nós trazemos algumas coisas muito bonitas dessa espiritualidade. Em sua visão pessoal, há também alguma contribuição que Schoenstatt tenha deixado à União do Apostolado Católico?
Eu acho que todo o trabalho feito com os leigos e as famílias. De fato, a União do Apostolado Católico foi fundada com esse objetivo, de fazer com que todos sejam apóstolos, também os leigos. Naquela época [da fundação da União] isso era uma novidade, os leigos eram encarados como aqueles que deviam escutar, aprender, ser conduzidos pelos sucessores dos apóstolos, ou seja, os bispos. São Vicente Pallotti desejava que todos fossem apóstolos e via em Nossa Senhora exatamente o sinal de que não é necessário ter ordem sagrada, a consagração, para ser apóstolo, mas que todo cristão batizado é um apóstolo. E o Movimento de Schoenstatt contribuiu e contribui muito nesse sentido, em torno do Santuário, em torno também da imagem que visita as famílias, para, de fato, formar discípulos missionários e de fazer com que as pessoas tomem consciência da própria missão apostólica.
Então essa característica sempre esteve presente na fundação de São Vicente Pallotti e o Movimento de Schoenstatt trouxe uma mobilização muito maior, muito grande dos leigos, creio que isso foi um enriquecimento também para os próprios Pallottinos.
Uma das heranças que nosso Fundador traz de São Vicente Pallotti é a Confederação Apostólica Universal, ou seja, a proposta de unir e integrar todas as forças pela evangelização. De que forma concreta nós podemos viver isso hoje?Eu vejo que há dois movimentos. Um movimento mais centrífugo, no sentido de que aglutina, une, atrai as pessoas em torno de um carisma, de uma espiritualidade, em torno do Santuário [no caso de Schoenstatt], em torno do Cenáculo [no caso dos Pallottinos]. As pessoas são atraídas para o centro e recebem, de fato, uma inspiração carismática, uma espiritualidade e também formação, que é necessária. Mas a união, ou a confederação, também não deve se fechar em si mesma, ela tem um movimento centrípeto, no sentido de que tem uma irradiação missionária. E aqui eu vejo os grandes desafios dos tempos atuais e as grandes necessidades, aquilo que o Papa Francisco tem falado de uma Igreja em saída. Acho que isso é um novo apelo para sermos fiéis à nossa espiritualidade, de sair ao encontro, de ir onde a Igreja não está presente, onde o evangelho não é ouvido – isso não só em terras de missão, às vezes existem ambientes que estão, de fato, totalmente secularizados, vivem como se não existisse Deus.
Então é necessária a atuação dos leigos bem formados, das famílias, dos jovens no mundo da Educação, com todo o desafio da Pastoral Universitária na evangelização em ambientes que estão, muitas vezes, muito secularizados ou até se posicionam contra Deus, contra a religião.
A atuação no mundo da cultura, da arte, pois hoje em dia ser católico, ter fé, não é “uma coisa da moda”. É necessária uma presença que não seja sectária, mas de fermento, que transforma por dentro o mundo da cultura, que valoriza aquilo que tem de bom, que eleva a cultura para uma verdadeira humanidade e também que se abre para o transcendente, para Deus, de modo especial para a fé em Jesus Cristo.
A atuação dos leigos, das famílias no mundo da política. Vemos agora o que está acontecendo em nosso país, com essa crise que não é só política, mas de valores. A lava-jato tem nos mostrado aquilo que já sabíamos e indica a profundidade e a gravidade na crise da administração pública. Então é uma atuação importante que está em falta, a gente precisa ter uma presença mais explícita, eficaz e transformadora no ambiente da política – se a política está nessa situação, também é por nossa culpa, porque não ajudamos, não formamos, não incentivamos as pessoas para isso. Acho que o Movimento, com seu trabalho com as famílias, os leigos, tem uma grande responsabilidade e também um grande privilégio de poder preparar cidadãos, de formar políticos para o futuro, para que possam, de fato, transformar esse estado de coisas em que a gente vive.
Também a atuação no mundo da economia, do trabalho é um desafio enorme. Por isso eu acho que o Movimento, e também a União do Apostolado Católico, tem esses dois movimentos: de atração para um centro, onde a gente possa receber, aprender, se formar, se preparar, ser fortalecido, mas esse centro não vive só para si, ele está aí para irradiar e enviar, ser o ponto para a saída missionária aos diversos ambientes. Isso é um grande desafio, acho que tanto para o Movimento quanto para a União do Apostolado Católico.
Pela segunda vez que recebe uma nova missão como Bispo – agora Arcebispo – o senhor escolhe fazer retiro no Santuário. Por quê?
Eu tinha tomado a decisão, já a algum tempo atrás, de começar as minhas férias com um retiro. Tem algumas coincidências, que para nós são a Providência. Por exemplo, a primeira vez que decidi fazer o retiro no Santuário foi quando fui nomeado Bispo, e de fato foi uma preparação para isso. Tinha escolhido o Santuário porque era o lugar que eu conhecia, morava perto e sempre gostei do ambiente de oração, de recolhimento. Agora, com a decisão de fazer um retiro no começo das férias, isso coincidiu com a nomeação para Arcebispo de Sorocaba.