A Igreja no Brasil deixa um questionamento para este ano.
Geni Maria Hoss / Karen Bueno – Diversos movimentos eclesiais e associações atenderam ao convite para a 9ª reunião convocada pela comissão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o Laicato e Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB). O encontro realizou-se entre 17 a 19 de março de 2017, no Centro de Formação Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista/SP. Representando o Movimento Apostólico de Schoenstatt, participou a Prof. Dra. Geni Maria Hoss, da União Apostólica Feminina de Schoenstatt.
Os assessores do encontro foram a Prof. Lúcia Pedrosa (PUC-Rio) e o Prof. Francisco Catão. Dom Remídio Bohn, bispo de Cachoeira do Sul/RS, um dos assessores da comissão da CNBB para o Laicato, também se fez presente e deixou sua mensagem por ocasião das celebrações eucarísticas. O objetivo proposto para o evento foi “aprofundar a comunhão entre os carismas, em vista de uma eficaz e provocadora revitalização das Associações Laicais, dos Movimentos e Serviços Eclesiais na Igreja e na Sociedade”. Um grande impulso para isso é o Ano do Laicato, que será celebrado em 2017-2018, com início e fim marcados para a Festa de Cristo Rei, em novembro, dia da vocação laical.
Na reunião foram apresentados e debatidos dois relevantes documentos relativos à missão dos leigos:
1. Documento 105 da CNBB: “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – Sal da Terra e Luz do mundo”.
2. Carta Iuvenescit Ecclesia (a Igreja rejuvenesce), sobre a relação entre os dons hierárquicos e carismáticos.
Houve um debate intenso e compartilhamento em grupos sobre o documento 105 e diversas referências quanto às ações concretas durante o Ano do Laicato. Os debates resultaram em questionamento para todos os Movimentos e Serviços Eclesiais, que deverão ser respondidos ao longo deste ano:
– Como compartilhar e viver os temas abordados nos documentos estudados em cada realidade?
– Como viver, na prática, o Ano do Laicato em sua associação/movimento, na Igreja local?
As reflexões
Na primeira apresentação, a Prof.ª Lúcia Pedrosa mostrou a estrutura do documento 105, que é iluminado pela passagem evangélica: “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor?” (Mt 3, 13). O leigo é o sal da terra: O sal dá sabor, cauteriza as feridas e preserva da corrupção. O documento se concentra na missão do leigo “como verdadeiro sujeito eclesial” (n. 1). Ele é sujeito na vida interna da Igreja e na ação no mundo à luz dos valores do Evangelho. Sua “vocação própria é administrar e ordenar as coisas temporais em busca do Reino de Deus” (n.5). Sua tarefa como sujeito eclesial na sociedade é abrangente: “Sua primeira e imediata tarefa é o vasto e complicado mundo da política, da realidade social, da economia, da cultura, das ciências e das artes, etc.” (n.6). “Seu mandato de caridade alcança todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da convivência e todos os povos. Nada do humano pode lhe parecer estranho” (Papa Francisco, Evangelium Gaudium, EG, 2013, n. 181). Cabe ao leigo também “participar na ação pastoral da Igreja” (n.7), como “verdadeiros sujeitos eclesiais” (n.10).
O documento apresenta alguns desafios em relação à inserção no mundo e do discernimento. É preciso superar a atitude negativa em relação ao mundo. Para isso há necessidade de discernimento. A presença muito tímida na sociedade tem sido preocupação da Igreja, especialmente abordada pelo Papa na EG n. 81ss. Ele ressalta, sobretudo, a falta de engajamento e uma espécie de fuga do comprometimento cristão. Mas não é só o reconhecimento da missão do leigo como tal que vai tornar a Igreja mais dinâmica e mais coerente com sua autoimagem de Povo de Deus, de Igreja em saída, é preciso que o próprio leigo se prepare e assuma essa missão.
Outro momento de estudo e reflexão foi orientado pelo Prof. Francisco Catão (na época do Concílio Vaticano II, era estudante de Teologia em Roma, o que lhe permitiu participar como ‘ouvinte’ dos debates dos teólogos assessores do Concílio). O Prof. Catão esclareceu a terminologia “Povo de Deus”, paradigma eclesiológico do Concílio Vaticano II, mas que muitas vezes é atribuída apenas aos leigos, acentuando uma Igreja dividida. Segundo Catão, a Igreja é Povo de Deus, porém, Povo de Deus ordenado, ou seja, onde há funções próprias de acordo com o modo de pertença. Há diferenças entre leigos e clérigos, porém, todos estão a serviço da mesma Igreja, o que constitui o laço de unidade da Igreja.
Segundo a carta Iuvenescit Ecclesia (IE), a diversidade de carismas (dons divinos) é ação do Espírito Santo. Nos últimos anos, a Igreja foi enriquecida com multiformes agregações eclesiais: “Tanto antes como depois do Concílio Vaticano II, surgiram numerosas agregações eclesiais que constituem uma grande fonte de renovação para a Igreja e para a urgente «conversão pastoral e missionária» de toda a vida eclesial” (IE n.2)
O Prof. Catão comenta, em sua visão, que os Papas anteriores se preocupavam com a interpretação do Concílio e agora, com o Papa Francisco, a Igreja vive um momento histórico, pois a principal preocupação é viver o Concílio. O principal, segundo ele, é não entender a Igreja como hierarquia à qual pertencem leigos, mas comunhão de pessoas livres, comunhão de homens e mulheres, presidida por Jesus e animada pelo Espírito Santo.