Londrina/PR celebra os 70 anos da chegada do Pai e Fundador a cidade.
Karen Bueno – A foto acima é do dia 12 de abril de 1947 e foi tirada em frente à entrada do colégio Mãe de Deus, quando o Pe. José Kentenich chegou pela primeira vez a Londrina/PR.
Com muita gratidão e alegria, os alunos, pais, professores e funcionários do colégio se reuniram para recordar e celebrar essa data. Com roupas típicas da época e grande alvoroço pela “acolhida ao Pai”, o resultado da vivência é a foto abaixo, uma reprodução da original:
70 anos esta manhã
Para essa comemoração, foi lido um texto com palavras ao Pai e Fundador, escrito pelo jornalista Paulo Briguet, que pesquisou e escreveu a história do colégio Mãe de Deus. Acompanhe:
Padre Kentenich,
Que alegria encontrá-lo de novo! Fez boa viagem? Encontrou muitos amigos pelo caminho? E o Dr. Hugo Cabral, é um bom motorista? Dirige tão bem o automóvel quanto dirigiu a Prefeitura? As crianças estavam achando que o senhor não vinha mais. Mas agora, Padre, o senhor está aqui e tudo se encheu de alegria. Até as flores, que estavam murchando por causa do calor, voltaram a vicejar.Alguns acham que o senhor demorou. Mas o que são 70 anos diante da eternidade? Menos que um piscar de olhos. E, de certa forma, nós podemos dizer que o encontramos todos os dias, quando visitamos o Santuário, quando rezamos o Terço, quando pedimos a proteção da Mãe de Deus, quando cuidamos dos nossos filhos amados, quando fechamos os olhos e pensamos nos nossos entes queridos que já se foram, quando recordamos todos aqueles que ajudaram a construir este colégio, este Santuário, esta cidade.
Eu posso dizer, Padre, que tenho o raro privilégio de vê-lo todos os dias. Ao escrever a história do colégio Mãe de Deus, é como se o senhor conversasse comigo, como se estivesse perto de mim, da mesma forma que estava perto dos londrinenses naquela manhã de sábado, 70 anos atrás. Sim, o senhor chegou num sábado, Pe. Kentenich. O primeiro sábado depois da Páscoa de 1947. E esse detalhe também é simbólico, porque nada, numa vida profética, acontece por acaso. Jesus Cristo já havia ressuscitado e começava a construir o seu Reino aqui no Norte do Paraná, por intercessão da Santíssima Virgem. Naquele dia, o senhor disse, Padre: “O Brasil inteiro deve tornar-se Schoenstatt. Um dia, quando a Mãe de Deus for reconhecida em toda parte, nós nos sentiremos muito bem aqui. O mundo precisa tornar-se mariano, aberto para Deus, configurado à imagem de Cristo”. Recordamos suas palavras, Pe. Kentenich, em 2017, Ano Mariano. Tricentenário de Aparecida. Centenário de Fátima.
Alguns talvez tenham achado que essa visita fosse impossível. Afinal, apenas dois anos antes o senhor estava preso no campo de concentração de Dachau, onde sobreviveu à fome, ao ódio, à escravidão, à epidemia de peste bubônica e aos famigerados transportes para a câmara de gás. Certo dia, a Ir. M. Agneta [Baum] caíra em lágrimas ao dizer às outras Irmãs: “Acabo de ouvir dizer que o Senhor Padre morreu”. Era apenas um boato, mas quanto sofrimento até a verdade aparecer! Apesar de tudo, as Irmãs souberam esperar, enquanto cuidavam das crianças na sala de aula. O coração das Irmãs estava pequeno naqueles dias, mas o Coração da Mãe é forte. É um coração que sente dor para evitar a dor maior.
Há 70 anos, senhor saiu do carro da mesma forma que saiu da cela escura onde permaneceu por quatro semanas em Coblença: sorridente. E já nas primeiras palavras anunciou uma boa nova: o Brasil seria o novo Monte Tabor, o Monte da Transfiguração, onde a face de Jesus brilhou com toda honra e toda glória, antecipando o milagre maior da ressurreição. Pedro ficou tão fascinado que disse a Jesus: “É bom estarmos aqui!” Exatamente a mesma frase que o Senhor usou ao chegar a Londrina. “É bom estarmos aqui!” Nada é por acaso.
Muitas coisas pareciam impossíveis. Sobreviver ao campo de concentração. Sobreviver ao drama do exílio. Levar o Santuário da Mãe Três Vezes Admirável ao mundo inteiro. Construir este colégio. Escrever uma longa e bela história. Voltar para Schoenstatt na noite de Natal, junto com o Menino Jesus. Tudo isso parecia impossível, Senhor Padre. Assim como parecia impossível a existência de uma cidade no meio da floresta, de uma civilização que unisse povos do mundo inteiro no ideal de trabalho, no ideal da educação, no ideal da cultura, nas virtudes da fé, da esperança e do amor.
Em 1947, o senhor se surpreendeu com o crescimento da cidade: “Já me contaram como era aqui há treze anos, quando tudo era mato. Agora vemos uma cidade bem desenvolvida. Faz parte desse processo o crescimento religioso-moral representado por nós”. Imagine o que o senhor diria se visse a metrópole que aquela cidade se tornou! Veja só, Padre Kentenich, como o Jardim de Maria floresceu! Veja quantas gerações se formaram aqui! Veja quantas almas receberam graças no Santuário da Mãe! Veja quantos mestres dedicaram sua vida a esta escola! Aos olhos humanos, tudo isso parecia impossível. Mas, para Deus, tudo é possível.
Eu gostaria de terminar essas breves palavras, Pe. Kentenich, com um agradecimento em nome de Londrina. Naquele sábado, 12 de abril de 1947, o senhor citou o “Hino da Minha Terra”, poema que compôs quando estava preso em Dachau:
Sim, eu conheço esta terra maravilhosa,
é o prado de sol no brilho do Tabor,
onde nossa Senhora Três Vezes Admirável
impera no meio de seus filhos prediletos
e retribui fielmente todos os dons de amor,
revelando sua glória, sua infinda e rica fecundidade:
é minha terra natal, minha terra de SchoenstattPadre, o Senhor deu uma imensa honra à nossa cidade. Em Londrina, criou a primeira escola de Schoenstatt fora da Europa. Em Londrina, anunciou o Ideal Tabor para a Província do Brasil. De certa forma, podemos dizer que o senhor fundou uma nova Schoenstatt em nossa terra fértil e abençoada. Até parece que o senhor já conhecia o Hino de Londrina, que só seria composto doze anos depois e diz em seus primeiros versos:
Londrina, cidade de braços abertos
A todos os filhos do nosso Brasil!
E a todos aqueles de Pátrias distantes,
Que aqui confiantes
Sob um pálio anil,
Seu lar construíram e aos filhos se uniram,
E aos filhos se uniram do nosso Brasil!