Schoenstatt quer ajudar a construir homens capazes de desenvolver uma nova sociedade
Karen Bueno – Já faz quase cinco anos que o Pe. Ivan Simicic está no Brasil e acompanha a realidade, em seus variados contextos, do vasto país. Às vésperas de iniciar o “Ano do Pe. José Kentenich”, ele assume a missão de ser o novo diretor nacional do Movimento Apostólico de Schoenstatt no Brasil, um período que traz “uma grande oportunidade, um momento de graças e também desafios”.
Pe. Ivan integrou o Núcleo de Assessores do Movimento nesses últimos anos, como diretor do Regional Paraná, e pretende, essencialmente, “dar continuidade ao trabalho que fazia o Pe. Alexandre Awi Mello”, que fora o diretor nacional nos últimos sete anos e meio. A experiência anterior, os anos vividos no Brasil e a fé prática na Divina Providência apontam um trabalho fecundo, segundo o chamado do Pai para essa nova missão.
Sobre as perspectivas e o que já viveu no Brasil, Pe. Ivan nos conta:
Qual é a tarefa do diretor nacional, o que esse cargo representa?
O diretor do Movimento, em nível nacional, é aquele que coordena a Central de Assessores. A responsabilidade direta do diretor do Movimento é em relação aos assessores, em primeiro lugar, e, em segundo, representar o Movimento Organizado, formado fundamentalmente pelas Ligas Apostólicas e os peregrinos em geral. O diretor do Movimento está orientado a, junto com a Central Nacional, animar, assessorar, assistir as Ligas Apostólicas e os peregrinos e representar essas comunidades em nível de Movimento e de Igreja.
O senhor já foi diretor nacional em outros países – em Portugal, no Chile e no Peru – e também ficou um longo período em Schoenstatt, na direção internacional do Instituto dos Padres. A experiência nesses diferentes locais pode ajudar em sua nova tarefa no Brasil? De que forma?
Na perspectiva de fé prática na Divina Providência, acho que Deus prepara a cada pessoa, por meio dos caminhos de formação que recebeu antes, para a tarefa atual. E, nesse sentido, penso que não somente como diretor nacional no Chile, no Peru, em Portugal. Deus vai formando a pessoa para um cargo determinado. Eu penso que o Pe. Alexandre, por exemplo, Deus preparou a ele para esse cargo que vai assumir, por meio de tudo o que ele realizou até agora. A Divina Providência escolhe tudo o que a gente realizou antes, de alguma maneira, preparou a pessoa para isso. O que eu agradeço ao assumir esse trabalho é ter estado aqui esses anos, como diretor regional do Paraná, e participar do núcleo da Central Nacional – o que é bem diferente do que ser diretor do Movimento no Chile, por exemplo. E aí, junto com os outros diretores regionais e com o Pe. Alexandre como diretor do Movimento, por todo esse tempo, foi um aprendizado para cumprir a tarefa já com bastante preparação, porque é bem diferente do trabalho que fiz no Chile ou em Portugal.
Em breve entraremos num período muito especial para o Movimento, que é o Ano Internacional do Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, proclamado pela Presidência Internacional do Movimento. Como o senhor vê isso? Que desafios e oportunidades esse ano nos trará?
Na reflexão que fizemos com a Central Nacional, já vimos que é uma grande oportunidade, porque, ao cumprir os 50 anos do falecimento do Fundador – o Pe. Kentenich já dizia –, uma comunidade tem que ser refundada e, nesse sentido, o Movimento não é só uma comunidade, mas uma Família, uma comunidade de comunidades, e então representa um trabalho bem maior de ajudar a todos os schoenstattianos a refundarem, no mesmo espírito original do Pai e Fundador, esta Família. E, nesse sentido, é uma grande oportunidade, um momento de graças e também um desafio. O que falávamos na Central Nacional é que temos de revisar qual é a imagem, a pessoa do Pai e Fundador que nós temos passado à sociedade e qual é a que Deus quer, agora, que passemos. E aí falamos muito de que, nos tempos atuais, como nunca, se precisa de uma palavra e mensagem de uma pessoa profética, como é nosso Pai e Fundador, para anunciar algo que oriente o mundo de hoje nas suas lutas, nos desafios que experimentamos em nossa sociedade do Brasil, em todo lado, e por isso falamos muito do Pai e Fundador como um profeta do tempo atual. Aí temos um grande desafio como Central, como Família de Schoenstatt, para realmente apresentar essa profecia do Pe. Kentenich.
Já faz quase cinco anos que o senhor trabalha no Brasil e acompanha a realidade do Tabor. Há alguma característica da Família de Schoenstatt nacional que lhe chama a atenção, o que destacaria?
O Brasil é uma Família na qual existe uma grande diversidade. São quatro regiões [do Movimento], mas poderiam ser dez, poderiam se desenvolver outras. Isso a gente se dá conta de que é diferente. É difícil falar em nível nacional… Por exemplo, o Movimento, como um todo, nunca se reúne nacionalmente, só a Presidência e a Central Nacional. Algumas comunidades – a Jufem (Juventude Feminina), o Jumas (Juventude Masculina) – têm essa característica, porque é mais próprio da juventude, mas para as outras comunidades é muito difícil, é um país muito grande. Eu acho que o Movimento no Brasil tem essa característica que pode ajudar a outros países assim, também grandes. A gente aprendeu aqui que existem muitas maneiras de ser brasileiro: tem o nordestino, o gaúcho… são todas pessoas que têm uma cultura própria. As diferentes regiões têm suas características próprias, mas têm garantida a unidade nacional por meio das ‘cabeças’, dos assessores e diretores regionais, do núcleo da Central Nacional, enfim, temos canais para isso.
Em sua opinião, o que a missão Tabor tem a presentear para a Família de Schoenstatt no mundo, para o Brasil, na situação atual, e para a Igreja?
E acho que aquilo que o Pai e Fundador esperava do Brasil, esse grande dom da filialidade, que ele descobriu como algo característico da alma brasileira: uma pessoa filial, religiosa, aberta, com uma confiança natural. Ele pensava como uma missão que tem de transformar numa filialidade heroica. O heroísmo, assim como Cristo é o Filho heroico do Pai. Acho que essa dimensão do ideal Tabor é uma contribuição para o mundo. E o Pai e Fundador pensava na assistência trinitária na América Latina: O Pai na Argentina, o Filho no Brasil e o Espírito Santo no Chile, que depois foi se estendendo a outros países. Eu acredito que existe uma contribuição própria, que primeiro precisamos vivê-la aqui para poder transmiti-la.
Vivemos uma realidade complexa no Brasil, com crises de ordem política, econômica, moral, familiar… Em sua visão, o que Schoenstatt tem a oferecer à nação nesse contexto?
Eu acho que o que tem se demonstrado muito nessa crise é como as estruturas estão corrompidas, ruíram. Aí nos damos conta de que as novas estruturas precisam de homens e mulheres novos. E Schoenstatt o que quer? Não é construir uma nova sociedade política, mas ajudar a construir homens que sejam capazes de desenvolver uma nova sociedade. Não existe uma nova ordem social sem homens e mulheres novos. Eu acho que com isso, com nossa filialidade heroica, nosso ideal Tabor, temos uma grande missão para construir a renovação da nossa pátria, da nossa sociedade e do mundo inteiro. Não haverá estruturas novas sem homens novos.
Foto: Karen Bueno