Peregrinar é também colocar-se em saída, se abrir para descobrir algo novo, novas experiências. Sob a luz do Ano Nacional Mariano, com o jubileu de Aparecida, também vivendo as graças do centenário de Fátima, um grupo da Família de Schoenstatt do regional Sudeste se pôs a caminho. De 5 a 24 de julho, 24 peregrinos viajaram pelos Santuários Marianos de Portugal e pela Alemanha. O grupo teve, ainda, a graça de celebrar os 75 anos de fundação da Obra das Famílias de Schoenstatt no campo de concentração de Dachau, onde essa Obra iniciou. Sobre toda a experiência vivida, ainda que de forma compacta, Antonio Carlos e Sueli Vilarinho, da Liga de Famílias de Schoenstatt do Jaraguá, em São Paulo/SP, compartilham seu ‘diário de bordo’:
A peregrinação é uma jornada empreendida, por motivos religiosos, a um lugar considerado de algum modo sagrado ou milagroso. O seu postulado fundamental é que a divindade exerce, em determinado lugar, influxos e benefícios especiais para os que a visitam. Assim começamos nossa peregrinação, nos fazendo peregrinos, abertos à ação da natureza.
Neste ano de 2017, com muitos impulsos, fomos movidos a peregrinar. Juntos, éramos 24 pessoas, mais os assessores. Período em que celebramos 100 anos das aparições de Nossa Senhora de Fátima, em Leiria/Portugal, e completamos 75 anos da fundação da Obra das Famílias de Schoenstatt. Como símbolo da peregrinação, tivemos conosco uma Cruz da Unidade, confeccionada com madeira da construção do futuro Santuário Filial de Caieiras/SP e madeira de árvore do Santuário do Jaraguá.
Partimos enviados do Santuário Sião do Jaraguá com destino a Portugal, no dia 6 de julho. Nessa etapa da peregrinação o Pe. Carlos Shimura, do Instituto dos Padres de Schoenstatt, esteve conosco. Conhecemos a história dos quatro Santuários de Schoenstatt que lá existem: Aveiro, Braga, Lisboa e Porto. Passamos pelo Santuário de Santa Luzia, em Viana do Castelo e nos colocamos no caminho de Santiago de Compostela e de Bom Jesus de Braga.
Na noite do dia 12 de julho participamos do terço luminoso no Santuário de Fátima e em seguida participamos da missa, que termina já no dia 13 de julho, quando se celebra uma das cinco aparições de Nossa Senhora aos pastorzinhos Jacinta, Lucia e Francisco – Jacinta e Francisco recém-elevados aos altares como Santos no dia 13 de maio de 2017.
“É minha terra natal”
Partimos de Portugal com destino à Alemanha, lá nossa peregrinação foi acompanhada pela Ir. M. Isabel Machado e pelo Pe. Antonio Bracht e tomou forma de Aliança de Amor, no dia 18, com a renovação depois da missa na Igreja dos Peregrinos. Queimar as contribuições ao Capital de Graças na origem tem uma força especial. Numa vivência no Santuário Original, assinamos solenemente o livro da Aliança. Parece mesmo que no dia 18 de outubro de 1914 a Mãe de Deus já nos esperava. Origem da Aliança e meio de vinculação que a Mãe torna-nos todos unidos, numa grande Família de Schoenstatt.
Peregrinamos nas diversas partes de nossa história de Schoenstatt. Passamos pela Igreja onde se encontra a imagem da Mãe Três Vezes Admirável de Ingolstadt, que dá o nome ao nosso quadro da Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt. No Santuário de Ingolstadt pudemos ver o paralelo Schoesntatt-Ingolstadt com mais detalhes. No Santuário de Munique – Pequeno Schoenstatt – um quadro da Mãe com uma palma de ouro representa a vitória e o título que a Mãe tem: Mãe Rainha Vitoriosa Três Vezes Admirável de Schoenstatt. No Santuário de Stuttgart pudemos ver e rezar cada um num momento particular com a Cruz da Unidade Original, também rezamos pelo futuro Santuário de Caieiras, que será inaugurado no Brasil sob a responsabilidade espiritual das Senhoras de Schoenstatt.
Cantar a beleza da vida
Grupo de brasileiros em Dachau, no jubileu das Famílias
Com uma guia especializada e a companhia da Ir. M. Isabel, visitamos o campo de concentração de Dachau com o olhar nos passos percorridos pelo Pe. José Kentenich, desde a entrada, com sua foto inicial, sua tomada de roupa e dificuldades que passou. Vimos tudo isso sob a ótica do testemunho de fé, cheio de esperança, com o qual o Pe. Kentenich funda a Obra das Famílias de Schoenstatt, no bloco 14 do campo, juntamente com Dr. Friedrich Kühr, em meio a colchões que costuravam – um singelo momento, sob condições materiais inimagináveis e com perigo às suas vidas. Também vimos o local onde se plantavam as flores que eram mensageiras de bilhetes que o Pai enviava para fora e lhe chegavam, de maneira oculta, as partículas para a comunhão, usadas nas missas que ele celebrava secretamente em Dachau.
Houve momento de reflexão e missa solene no Campo de Concentração. Em pouco revivemos esses acontecimentos e nos tornamos mais agradecidos pela fundação da Obra das famílias de Schoenstatt. O nosso grupo foi convidado a cantar o canto de comunhão, que hoje pode nos motivar a uma reflexão em particular sobre todos os que passaram no campo de concentração: “Cantar a beleza da vida, presente do amor sem igual: Missão do teu povo escolhido! Senhor, vem livrar-nos do mal!”.
O peregrino leva um destino na mente e um propósito no coração. Durante a caminhada há, normalmente, um sentimento de discernimento de si e do mundo e uma maior abertura e entendimento espiritual, pelo contato com natureza, com novas realidades das terras e gentes que cruzam. Também nós, em lugares de descontração, conhecemos lugares distantes de nossa cultura, Castelos, comidas típicas, que nos revelam a face de muitas tradições que temos no Brasil trazidas de nossos imigrantes.
Várias figuras do cristianismo foram peregrinos com a missão de espalhar a palavra de Deus, como foi o caso de São Francisco de Assis. Agora vivemos a figura do Pe. Kentenich, não como história, mas como viva alma que nos motiva ao peregrinar na terra, mais próximos de Deus e no caminho que Deus nos envia. Forma e educa como professor e pai, que tem na própria alma sabedoria e amor.
Fotos: Sueli Vilarinho