“Podemos enriquecer o carinho do povo brasileiro pela Virgem com a nossa espiritualidade”
Ir. M. Nilza P. Silva / Karen Bueno – Com olhar experiente de quem vive todos os dias o ambiente de um grande Centro Mariano e, ao mesmo tempo, aberto a aprender novos caminhos e estratégias, o Pe. Carlos Cox Díaz chega ao Brasil para conhecer o Santuário Nacional de Aparecida. Ele é chileno e pertence ao Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt, trabalhando atualmente como reitor do Santuário Nacional da padroeira do Chile, Nossa Senhora do Carmo de Maipú. Pe. Carlos Cox esteve por seis dias em Aparecida, acompanhando as festividades do jubileu, e conta um pouco de tudo o que observou nesse período jubilar:
Que motivos lhe trouxeram a Aparecida?
Acredito que foram fundamentalmente três. Primeiro, eu sempre ouvi falar de Aparecida, como Santuário Nacional da Virgem do Brasil e, obviamente, pela Conferência dos Bispos. Também muita gente, que veio a encontros, comentou a história de Aparecida, me convidavam a vir alguma vez para ter essa experiência. O segundo (motivo) é que era uma ocasião especial, o jubileu de 300 anos, que nos traz um tempo de graças. E, em terceiro, eu queria conhecer um pouco como era o desenvolvimento pastoral. O Papa João Paulo II falava de uma rede que envolve o mundo e os Santuários, que a experiência de um alimenta a dos outros. Gostaria muito de conhecer a experiência pastoral de Aparecida e essas são as razões pelas quais vim: conhecer, viver o jubileu e aprender.
O que o senhor leva dessa experiência?
Como filho da Mãe Três Vezes Admirável, digo que levo três coisas admiráveis dela, daquilo que vivi. Primeiro a experiência de fé do povo brasileiro. Em todas as celebrações que pude participar, dos mais diferentes tipos – novenas, eucaristia, rosário, procissão, o festival da Padroeira – cada experiência era muito distinta da outra, mas em todas eu via uma alegria, uma tranquilidade, um espírito religioso, um ambiente familiar extraordinário. Via milhares de peregrinos a pé, também alguns de bicicleta, que percorreram grandes distâncias, por exemplo, 500 quilômetros, 200 quilômetros, pessoas de todas as idades e muitos jovens, não só pais com filhos, mas também jovens, muitos jovens. Então, em primeiro, o que mais admiro é a experiência de fé mariana do povo. Como já disseram várias vezes, realmente Aparecida é a capital mariana do povo brasileiro. Fiquei muito admirado.
O segundo, que para mim foi muito admirável – já tinha ouvido sobre isso – é que os Padres Redentoristas têm uma maneira de animar com muita proximidade e com uma característica muito importante daquilo que se chama “acontecimento fundamental”. Eu sempre via algo desse “acontecimento fundamental”, ou “relato de fundação”, daquilo que faz a originalidade de cada Santuário. Em todas as experiências distintas desses dias, sempre apontavam para o fundamental: os três pescadores, que estavam necessitados, a família que rezava para que a pesca fosse boa, o encontrar primeiro o corpo e depois a cabeça da imagem, e depois como tudo foi se desenvolvendo, os milagres mais importantes – a menina cega que vê, as velas que se acendem, o cavaleiro rebelde e orgulhoso, cujo cavalo não quis entrar na igreja, etc. – isso é fundamental, porque se apresenta a originalidade, a mensagem de cada lugar. Eles são muito conscientes disso, na pregação, nas confissões, são um exemplo maravilhoso. Admirei muito a consciência de transmitir o carisma original de Aparecida.
E por terceiro, diria que foi muito admirável para mim a entrega, especialmente da equipe pastoral, ou seja, de todas as pessoas, por todo o Santuário, que são muito amáveis. Isso está inscrito na frase que diz: acolher bem também é evangelizar. Você se dá conta de que não é só uma frase, mas um estilo de trabalho. Cuidar que todas as pessoas, durante todo o tempo, tenham essa atitude, isso é muito admirável, significa que ali há o cultivo do espírito, como disse o Pai e Fundador, notável e claro.
Ao fazermos uma analogia Schoenstatt-Aparecida, onde está o complemento entre ambos?
Eu diria que nosso complemento, para todos os Santuários, é o que o Pai (Pe. Kentenich) plantou na Jornada Pedagógica de 1934, com nosso estilo de pedagogia mariana. Creio que Schoenstatt passa de uma vinculação mariana a um estilo de vida mariano; dizendo de uma forma mais popular, do amor afetivo ao amor efetivo. Para nós, como principal presente para a Mãe, mais que flores e velas, são as contribuições ao Capital de Graças, o “nada sem vós, nada sem nós”, a educação do homem novo na nova comunidade. Creio que na maioria dos nossos Santuários se dá essa relação afetiva – que também se deve ver como uma relação efetiva –, mas na Família de Schoenstatt, os instrumentos pastorais, os caminhos pastorais – pedagogia de ideais, de vínculos… – estão mais definidos também para o mundo dos peregrinos, inclusive de uma forma bem popular. Vemos que as pessoas entregam no Santuário sua oferta, que não é somente um pedido e um agradecimento, mas o que eu vou fazer, o que eu vou presentear em minha vida pessoal e particular, ou familiar, de trabalho… Quando cheguei ao México – fui o primeiro Padre de Schoenstatt que cheguei –, um senhor me disse: “Padre, o que vem o senhor fazer aqui sendo chileno, em uma terra mariana, mexicana, guadalupana, com uma virgem alemã?” Eu lhe disse: “A Virgem tem um caminho muito especial em cada povo”. O que Schoenstatt pode presentear é uma espiritualidade mariana, da Mãe como companheira e colaboradora de Jesus, e uma pedagogia mariana que, concentradamente, se resume no “Nada sem vós, nada sem nós”. Acredito que essa é a riqueza, nós podemos gozar do carinho do povo brasileiro pela Virgem, da forma maravilhosa como vi esses dias, e enriquecer com a nossa espiritualidade e pedagogia.
Site do Santuário Nacional de Maipú
Tradução e colaboração: Selma Cammarota
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