Entrevista com o diretor nacional do Movimento.
Karen Bueno – É Ano dos Leigos no Brasil e, junto com toda a Igreja, a Família de Schoenstatt encontra grandes oportunidades e novo impulso nesse período.
“Precisamos de uma nova atitude espiritual do cristianismo e esta repousa na grande ideia, na grande verdade: Todos fomos enviados por Deus. Não só o sacerdote, mas também o leigo tem uma missão para todo o mundo, para a cristianização do mundo e do povo”, dizia o Pe. José Kentenich já em 1934. Seu pensar profético se mostra hoje atual e corresponde aos anseios da Igreja brasileira, que deseja formar leigos protagonistas em todos os setores da sociedade.
A Obra de Schoenstatt é constituída essencialmente por leigos com o desejo de ser “sal da terra e luz do mundo” a partir da vivência da Aliança de Amor. Sobre isso, o diretor nacional do Movimento Apostólico de Schoenstatt, Pe. Ivan Simicic, indica algumas linhas entre o pensar do Pe. Kentenich e o Ano do Laicato:
O que Schoenstatt traz de “novo”, com sua espiritualidade, para a Igreja e a sociedade?
Desde o início o Pai e Fundador pensou um Movimento para leigos e, de fato, a espiritualidade de Schoenstatt não está pensada para consagrados ou sacerdotes, mas, essencialmente, para leigos. Por exemplo, um dos pilares da nossa espiritualidade é a santidade da vida diária, que pretende, justamente no dia a dia, que cada pessoa – e nesse sentido especialmente os leigos – possa viver esse vínculo com Deus, com o trabalho, com o mundo, com a família, enfim, todo o organismo de vinculações, como chamamos. E isso realizado da forma mais perfeita possível, na perfeição do amor: amor ao trabalho, ao próximo, à família, a Deus, apontando para uma personalidade integrada no meio da sociedade. Agora nossos bispos, pela CNBB, nos fazem um chamado particular nesse contexto, na grande perspectiva do Concílio Vaticano II. Estamos chamados à santidade, especialmente com esse acento ao leigo na sua própria vocação: santidade no meio do mundo. E Schoenstatt sempre quis isso. O Pe. Kentenich foi, nesse sentido, um profeta, assim como outros movimentos que foram surgindo e que querem desenvolver uma espiritualidade para o homem, a mulher, a família de hoje. Acho que Schoenstatt tem uma contribuição nova nesse sentido, na sua força e espiritualidade.
Na perspectiva da Aliança de Amor, o que representa ser “sal da terra e luz do mundo”?
A Aliança de Amor não pode ser vista separada da espiritualidade de instrumento. Nossa tríplice espiritualidade – santidade da vida diária, vida de Aliança e espírito de instrumento – estão unidas. A Aliança de Amor quer, no fundo, transformar a cada um de nós em verdadeiros instrumentos na mão de Deus. Acho que o leigo, e essa missão que o Documento 105 quer novamente acentuar, está chamado especialmente a cumprir essa missão de instrumento de Deus nos afazeres do mundo. A grande maioria da Igreja é formada por leigos, que estão chamados a ser “sal da terra e luz do mundo” e a Aliança de Amor quer educar instrumentos nas mãos de Deus no meio do mundo.
Em quais setores devemos atuar com mais acento este ano? Por quê?
Schoenstatt não propõe apenas um âmbito, mas que as pessoas possam, cada uma, descobrir sua vocação apostólica e desenvolvê-la. Em termos gerais, onde faltam cristãos é nos âmbitos que são mais difíceis, como a política e a comunicação, por exemplo. Faltam políticos e jornalistas cristãos. É um desafio formar verdadeiros cristãos nesses campos das realidades sociais, por assim dizer. É um chamado; sempre respeitando as vocações. O que Schoenstatt mais quer é formar apóstolos e o “onde” atuam vai de acordo com a vocação de cada um. Mas, hoje em dia, a Igreja quer chamar a atenção especialmente para essas realidades do serviço no mundo, que muitas vezes têm a ver com os serviços sociais, as realidades temporais.
Que relação podemos encontrar entre o Ano Pe. Kentenich e o Ano dos Leigos?
Penso que a resposta está também nas outras perguntas. O que o Pe. Kentenich queria de seus filhos espirituais? Que vivessem a Aliança de Amor e a espiritualidade de Schoenstatt de forma exemplar e radical, conforme a vocação de cada um. O Pe. Kentenich espera de seus filhos espirituais essa consciência de missão, de viver a força da espiritualidade como homens novos, uma nova comunidade para o tempo de hoje. Quando ele faz um diagnóstico da realidade, ele propõe uma espiritualidade e um tipo de homem que seja uma resposta para essa época. E esse tipo de homem que ele propõe somos todos nós, que queremos dar respostas aos desafios do tempo de hoje. Esses desafios, eu penso, são os mesmos colocados, de outra maneira, no Documento 105 (da CNBB) que descreve a realidade do tempo na sociedade brasileira. Schoenstatt quer contribuir na formação dos leigos no Brasil.
* Pe. José Kentenich, Conferência na Jornada Pedagógica, Schoenstatt 22 a 26 de maio de 1934. Livro: Sua missão, nossa missão – Peter Wolf.