Schoenstatt é um Movimento essencialmente missionário, pedagógico e mariano e, dessa mesma forma, o Pe. Alexandre Awi Mello pretende colaborar com a Igreja no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Confira esse e outros comentários na entrevista feita por Nicola Gori à edição italiana do jornal L’Osservatore Romano:
A próxima edição da JMJ será sob o signo de Maria, porque a Igreja, cada vez mais, aprende a ser como uma mãe que escuta, acompanha e caminha com os jovens. Está convicto disso o Pe. Alexandre Awi Mello, desde junho secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. A um ano do encontro no Panamá, o sacerdote brasileiro, nesta entrevista ao L’Osservatore Romano fala da tarefa que lhe foi confiada pelo Papa Francisco.
Nos próximos dois anos, os jovens serão protagonistas de dois grandes eventos: o Sínodo e a JMJ. Como valorizar sua contribuição?
Nos meus dezesseis anos de vida sacerdotal, sempre fui assistente da pastoral juvenil, tanto dentro como fora do Movimento de Schoenstatt. Aprendi a acreditar nos jovens e a me surpreender com eles. Creio que poucas vezes na história da Igreja universal, os jovens estiveram tão no centro das preocupações, reflexões e ação eclesial. Seria grave se os pastores não aproveitassem essa oportunidade para promover o protagonismo dos jovens; especificamente: deixá-los falar, ouvi-los, tomar a sério suas inquietudes, apoiá-los para que sejam eles próprios os sujeitos da mudança que propõem, acompanhá-los em seus sucessos e fracassos, enfim, dar-lhes espaço e confiança, deixando que se surpreendam com a sua criatividade e generosidade. A Jornada Mundial da Juventude de 2019 é colocada pelo Papa sob o signo de Maria. A partir dela, devemos continuar aprendendo a ser uma Igreja mãe, que confia no potencial de seus filhos, os acompanha, os educa e promove seu protagonismo.
Qual foi a sua experiência em Aparecida ao lado do então Cardeal Bergoglio?
Sem dúvida, é a pessoa que mais me impressionou na Conferência do Episcopado Latino-Americano. Naquela época, eu já testemunhei isso, nunca imaginei que ele poderia se tornar Papa. Foram apenas 20 dias de atividade juntos, sendo eu um dos secretários da comissão de redação do documento final que ele presidia, mas foram suficientes para ter a graça de experimentar sua humildade, sua lucidez intelectual, sua capacidade de trabalhar em equipe, sua sensibilidade humana e espiritual, bem como seu profundo senso de responsabilidade eclesial.
Qual contribuição sua experiência pastoral na América Latina pode dar à atividade do Dicastério?
Com o Papa Francisco, a experiência eclesial latino-americana está se refletindo para a Igreja universal. A rica tradição desta Igreja de periferia agora chega ao centro da Igreja. De “Igreja receptiva”, a América Latina pode, de alguma forma, ser uma “Igreja fonte” para o catolicismo, segundo conceitos propagados por Alberto Methol Ferré, grande amigo do cardeal Bergoglio. O dinamismo eclesial, a vitalidade do laicato, o entusiasmo juvenil, a grande apreciação da instituição familiar, o profundo amor a Maria, a força evangelizadora da piedade popular, o compromisso profético com os pobres são, entre outros, contribuições da Igreja da qual provenho e com a qual também me identifico.
Como recebeu a nomeação do Pontífice de lhe confiar o cargo de secretário do Dicastério?
Sinceramente, devo dizer que aceitei seu convite com muita resistência interior, porque estou bem consciente das minhas limitações para uma tarefa dessa magnitude; além disso, nunca pensei ou desejei trabalhar na Cúria. Venho da pastoral e penso que lá é meu lugar, mas prefiro acreditar que a decisão do Cardeal Farrell, confirmada pelo Santo Padre, é uma expressão da vontade de Deus. Confiando nisso e de que o trabalho é de Deus, não meu, aceitei a tarefa.
Quais são suas competências específicas que colocará ao serviço do Dicastério?
Mais do que qualquer outra coisa, espero colocar minha pessoa a serviço do Dicastério, com minhas capacidades e minhas limitações. Eu sei que aquilo que vou aprender dia a dia é mais do que posso oferecer. Creio que a coisa mais importante é estar disponível para a Igreja universal: o Papa, os bispos, os leigos, as famílias, os jovens, as associações e os movimentos; movido pelo amor à Igreja. Dilexit Ecclesiam é a frase que sintetiza a vida do meu Fundador, Pe. José Kentenich (1885-1968), e que me motiva nessa nova tarefa.
Em quais atividades se ocupa exatamente?
Essa é ainda uma fase de aprendizagem das minhas funções, mas posso dizer que, em geral, a secretaria ajuda o prefeito em todas as tarefas. É um papel de coordenação interna de todo o pessoal e de seu trabalho, de co-responsabilidade com o prefeito por todo o Dicastério e eventualmente também de representação externa.
Como o carisma e a espiritualidade de Schoenstatt influenciaram sua formação?
Devo em grande parte à Aliança de Amor com Maria e ao carisma do Pe. José Kentenich a minha personalidade e a minha vida espiritual, isto é, aquilo que sou como sacerdote e como ser humano. A pertença a uma Família espiritual federativa também ajuda a viver e trabalhar em comunidade, a cultivar uma cultura de encontro, que nós chamamos de “cultura da aliança”, em todas as dimensões da vida. Schoenstatt é um Movimento essencialmente missionário, pedagógico e mariano. De tal modo eu espero contribuir com esse carisma a serviço de todas as realidades que estão relacionadas ao Dicastério.
Entrevista publicada no jornal L’Osservatore Romano, edição italiana, em 02.02.2018