Primeira catequese rumo ao Encontro Mundial das Famílias:
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Os Evangelhos nos narram poucas histórias sobre os acontecimentos da Sagrada Família de Nazaré. Muito é deixado ao nosso imaginário, considerando que foram cerca de 30 anos que Jesus viveu em Nazaré com os seus. Os poucos episódios transmitidos tornaram-se fundamentais para compreender o mistério dessa família. A única história que nos apresenta Jesus aos 12 anos (naquela época, a idade não era apenas de um menino, mas de uma pessoa que atingiu recentemente a idade da maturidade) que interage com seus pais, está no Evangelho de Lucas e é assim dita a história da “descoberta de Jesus no templo para discutir com os doutores da lei”.
Nós certamente esperamos a narração de uma página idílica da Sagrada Família, um pouco como a dos comerciais, em que todos os membros da família são lindos, sempre sorridentes e brilhantes, em total e absoluto entendimento mútuo, no entanto, com a nossa grande maravilha, o Evangelho nos dá outra história. Para usar um termo muito na moda hoje, a Família de Nazaré “entra em crise”. Maria e José são pessoas muito religiosas, vão pontualmente todos os anos ao templo de Jerusalém para a festa da Páscoa, como nos narra Lucas, eles trazem com eles Jesus para educá-lo também nesses ritmos religiosos, mas, de repente, durante a viagem de retorno de Jerusalém, depois de uma jornada de caminhada, eles não encontram Jesus na comitiva. Essa família vai para rezar, mas aparentemente sua oração e sua devoção religiosa não os preservam desse tipo de vicissitudes familiares.
Imaginemos o que Maria e José podem experimentar diante desse evento absolutamente imprevisto. Um pai e, acima de tudo, uma mãe pode bem entender a angústia absurda em que um pai experimenta quando ele não encontra o filho e não sabe onde procurá-lo. Portanto, essa Família Santa não nos causa uma boa impressão, não nos dá um bom testemunho e não pode ser-nos um exemplo. Por que o evangelista Lucas nos mantém contando e deixando essa história dramática assim? Tudo isso destrói a maneira como pensamos esta Família e certamente nos projeta para outra coisa, em outro lugar, em direção a um mistério maior que escapa à nossa compreensão.
Papa Francisco, então, em Amoris laetitia abre os nossos olhos precisamente sobre este mistério: «A Bíblia é povoada por famílias, gerações, histórias de amor e de crises familiares, desde a primeira página, onde entra em cena a família de Adão e Eva, com sua carga de violência, mas também com a força da vida que continua (cfr. Gên 4)» (Al 8). A Palavra de Deus não nos apresenta de modo algum uma imagem idealista e abstrata de família, como esperávamos, mas oferece ao nosso olhar, diferentes histórias de famílias concretas, com a singularidade e unicidade de seus problemas, dificuldades e desafios. A Palavra nos projeta em realidade com «a presença da dor, do mal, da violência que dilacera a vida da família e a sua íntima comunhão de vida e de amor» (Al 19). Da mesma forma «apresenta o ícone da família de Nazaré, com sua vida quotidiana feita de trabalhos e até pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes, uma experiência que é tragicamente repetida ainda hoje em muitas famílias de refugiados rejeitados e desamparados». O ponto fundamental, então, não é a ausência de crise nas famílias (não há uma única família, nem mesmo a Sagrada Família, que esteja isenta), mas como reagir diante de qualquer crise…
Essa reflexão continua, para ler o texto completo e visualizar as perguntas acesse: laityfamilylife.va
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Foto: Karen Bueno