A juventude, com a ‘mão no pulso do tempo’, aponta reflexões e caminhos para a Igreja rumo ao Sínodo dos Bispos.
Karen Bueno – “Nós, jovens, construímos o documento com o coração, sem medo e vergonha de expressar o que trazemos no nosso íntimo”. Isso é o que diz Lucas Galhardo sobre o documento final do encontro dos jovens em preparação ao próximo Sínodo dos Bispos.
Lucas, natural de Caieiras/SP, representou o Movimento Apostólico de Schoenstatt no encontro que ocorreu em Roma e esteve na equipe de redação do documento final (leia mais sobre esse encontro). O material foi elaborado com a contribuição de jovens de todo o mundo, de diferentes crenças – até mesmo não-crentes – e será utilizado pelos padres sinodais em outubro. O texto não está divulgado (somente os jovens inscritos no grupo online têm acesso) e sobre esse documento, ele conta:
Como você analisa esse encontro? O que ele trouxe de positivo para a juventude e a Igreja?
Uma experiência incrível, um exemplo para toda a Igreja e para todo o mundo sobre diálogo, cultura de encontro, unidade na diversidade e trabalho em equipe. O que é mais positivo deste encontro é esse exemplo de processo e de diálogo.
No documento final encontra-se muitas vezes a palavra “autêntico/autêntica”. Essa expressão também é muito cara ao Pe. Kentenich. Como Schoenstatt pode ajudar na construção de personalidades autênticas, de uma Igreja autêntica?
“Sob a proteção de Maria queremos aprender a autoeducar-nos para sermos personalidades firmes, livres e sacerdotais”… Creio que essa é a grande essência da pedagogia que o Pai e Fundador nos presenteou e, portanto, é peça fundamental dos ideais de Schoenstatt. Em termos mais claros, Schoenstatt pode contribuir com a formação de personalidades autênticas por meio da cultura da autoeducação, da sua pedagogia (Pedagogia do Ideal, das Vinculações, do Amor, da Confiança e do Movimento) e através dos meios ascéticos (Capital de Graças, Horário Espiritual, Caderno Espiritual, Direção Espiritual). Acho importante destacar a forte vinculação a Jesus e Maria como educadores, modelos e companheiros nessa jornada de autoeducação.
Vemos uma juventude repleta de dúvidas e desafios pessoais e, ao mesmo tempo, profundamente preocupada com as grandes questões sociais do mundo (desigualdade, violência, corrupção, guerra, degradação do meio ambiente, etc). Nesse contexto, qual deve ser o fio condutor para tantas questões?
Concordo com o Pe. Kentenich. Não adianta reclamar da corrupção e tirar vantagem na primeira oportunidade que aparecer; ou lutar pelo meio ambiente, mas jogar lixo no chão, etc. Acredito sim que as transformações devem começar por nós mesmos. É claro no documento [final do encontro], mas também pude perceber ao longo dos processos do Sínodo que é generalizado esse anseio da juventude por um mundo melhor, seja católico, cristão, não cristão, não crente, etc. São muitos os jovens que não têm relação com nenhuma instituição de fé, mas estão envolvidos em projetos sociais em várias partes do mundo. Acredito que o fio condutor que pode ajudar é o acompanhamento, tanto para ajudar os jovens amadurecerem com as dúvidas e desafios pessoais, como para ajudar a direcionar e somar esforços para um mundo melhor.
Em certos temas tratados, percebe-se que não houve um consenso. A juventude se mostrou repleta de opiniões e com pontos de vista variados. Na sua visão, que posição a Igreja deve tomar diante disso?
É importante ter em conta que para a construção deste documento participaram jovens de diversas partes do mundo, diferentes culturas, realidades, carismas e até mesmo crenças. Impossível um consenso entre todos, o que por outro lado vejo que essa diversidade ajudou a enriquecer o documento. Algumas questões – como, por exemplo, uma Igreja aberta e acolhedora – são mais uniformes entre a juventude, enquanto outras são realidades mais particulares. Na minha visão, espero que a Igreja, com sua sabedoria, consiga captar o essencial de cada questão apresentada no documento. Nós jovens construímos o documento com o coração, sem medo e vergonha de expressar o que trazemos no nosso íntimo. Espero que a Igreja consiga extrair esse sentimento do documento e, assim, ajudar a nós jovens no que é essencial para nossas vidas.
O documento reconhece que “os movimentos e as novas comunidades na Igreja têm desenvolvido vias enriquecedoras não só para evangelizar os jovens, mas também para dar-lhes protagonismo”. Olhando as diversas expressões juvenis eclesiais, como você se sente sendo parte de um Movimento? Tendo, de fato, um maior acompanhamento e formação na juventude, como transmitir isso a outros jovens?
Eu acredito que os carismas na Igreja são apenas diferentes caminhos que nos levam a Cristo. Eu me sinto honrado e muito grato por Deus ter me conduzido através de um Movimento, em especial o Movimento de Schoenstatt. A espiritualidade e a pedagogia me encantam cada vez mais, quanto mais me aprofundo, mais descubro riquezas e conteúdos preciosos. E posso afirmar o mesmo de outros carismas que já tive a oportunidade de conhecer.
Para transmitir isso a outros jovens acredito que devemos ter humildade e coração aberto e atento ao próximo. Às vezes o jovem não precisa de formação. Ele precisa ser apenas ouvido, precisa conversar, etc. Outro ponto importante é saber qual a melhor forma de transmitir uma mensagem, ensinamento ou formação, adaptando a linguagem que melhor será compreendida pelo jovem.
“Somos conscientes de que temos de nos encontrar conosco mesmos e com os outros para gerar laços profundos”, diz o documento. Isso, em Schoenstatt, se traduz no organismo de vinculações. Para onde esses laços devem nos levar? Todo vínculo é válido? Com quem se deve ter essa vinculação?
Esses laços devem ser com Deus, com nós mesmos, com os outros e com a natureza, e procurando equilibrar todos estes vínculos da melhor maneira possível. Estes laços devem nos levar a caminhos de amor, verdade e vida. Se não nos levam a esses caminhos, devem ser evitados.
O que você espera, a partir de agora, do Sínodo?
Espero que os Padres Sinodais escutem de coração aberto todos os anseios da juventude e que, iluminados pela ação do Espírito Santo, os trabalhos sejam bastante orgânicos e fecundos, para assim gerar frutos bem positivos para a juventude, para a Igreja e para todo o mundo.