Ir. M. Doria Schlickmann, historiadora e germanista, pesquisa sobre a vida e obra do Pe. Kentenich, atualmente, trabalha no lançamento de mais um livro. Vejamos o que ela diz sobre ele.
Trad. Ir. M. Isabel Machado – Ir. M. Doria, faz pouco tempo que a senhora publicou alguns livros sobre o Pe. Kentenich (Anos ocultos, Tempestades de outono, Anos decisivos.) O que a move, depois de tudo o que a senhora já escreveu, a escrever mais um livro sobre o Pe. Kentenich?
Na minha opinião, Pe. Kentenich ainda não é suficientemente conhecido, nem sua vida, nem seu trabalho, nem sua missão para a Igreja e a sociedade. Por isso, eu queria escrever uma biografia mais popular, com uma narrativa em linguagem acessiva para círculos mais amplos.
Nós não podemos mais experimentar pessoalmente o Pe. Kentenich hoje e, portanto, todos dependemos essencialmente da imagem dele que nos é apresentada por outros. Como a senhora lida com essa responsabilidade?
Sim, é uma grande responsabilidade – especialmente quando procuramos pesquisar sua vida e sentimos que ele é muito grande e é difícil abranger toda a grandeza humana e os mistérios de José Kentenich. O contato com uma variedade de material (palestras, declarações, publicações), o fato dele ser uma pessoa escolhida de modo especial por parte de Deus, a sua vida orientada de modo extraordinário pela graça, tudo isso podemos tocar apenas de leve. Embora a ciência histórica nos forneça uma ferramenta importante para a pesquisa e a abundância de material seja uma valiosa fonte de pesquisa, é preciso confessar humildemente que tudo o que conseguimos é apenas uma visão parcial.
É por isso que não quero dar uma imagem específica do Pe. Kentenich, mas tentar “sondar” quem e como ele era. Eu tento deixar as fontes falarem e só posso pedir repetidas vezes ao Espírito Santo que eu consiga de modo correto e seja guiada pelo alto! Na nova biografia, eu procuro mostrar especialmente o seu crescimento pessoal pelo caminhar com a graça, seu amadurecimento como pessoa, a partir de uma perspectiva natural e sobrenatural. E isso, de tal maneira, que também uma pessoa que ainda não conhece o Pe. Kentenich, se estiver de coração aberto, possa, por assim dizer “crescer junto”.
Seu livro tem o título: “Uma vida à beira do Vesúvio”…
Essa imagem me veio, porque eu estava procurando uma imagem que representasse esta vida, às vezes arriscada e perigosa em um nível mental, emocional e também físico. Então, me deparei com uma citação. Nietzsche refere-se as pessoas que ousam algo como um modelo, quando ele escreve: “Então acredite em mim! O segredo para uma vida de grande produtividade e prazerosa é: viver perigosamente! Construa suas cidades à beira do Vesúvio!”
Também hoje, “a vida de Schoenstatt” pode, de fato, ser perigosa em muitos aspectos: qualquer um que confessa ter fé e, ainda por cima, venerar Nossa Senhora, corre o risco de não ser mais compreendido. Além disso, mesmo no lugar Schoenstatt, muitas coisas se tornam menores… Existe na vida do Pe. Kentenich uma mensagem para tais desafios?
Estou convicta que a vida do Pe. Kentenich “fala” para muitas pessoas e as encoraja: A vida pode ter sucesso, mesmo sob más circunstâncias, e as dificuldades podem justamente conduzir à vitória. O Pe. Kentenich nunca contou com grandes números. Ele começou com um punhado de jovens e fundou um movimento mundial.
Na minha opinião, seus impulsos e inspirações, sobretudo em termos de desenvolvimento da personalidade, bem como todo o seu método pedagógico, estão longe de serem apresentados de modo adequado. Especialmente em um mundo midiático e tecnológico, que conhece tantas possibilidades de manipular o indivíduo. A educação da personalidade, mas também sua idéia de família e comunidade, se nós, por profunda convicção interior, transmitirmos suas ideias, pode ser uma chave para resolver questões difíceis da atualidade.
Não, eu não acho a vida de Schoenstatt seja perigosa nesse sentido, pelo contrário: eu acho cada vez mais fácil falar sobre isso, porque o interesse em questões de religião tornou-se mais imparcial, despertando a curiosidade de aprender algo sobre o que você ainda não sabe. Eu acho que depende inteiramente da nossa própria atitude e de nossas experiências de fé.
Na sua opinião, qual mensagem do Pe. Kentenich o mundo todo deveria conhecer?
A mensagem do valor humano em sua totalidade e da dignidade de cada pessoa, como origem e fundamento da responsabilidade da auto-aceitação e auto-educação e como medida para nos relacionarmos uns com os outros. A pessoa, em sua totalidade, e com ela também sua dimen-são religiosa, teriam que adquirir uma importância central. A educação matrimonial e a pastoral familiar do Pe. Kentenich deveriam ser capazes de lançar mais luz e “sacudir” a Igreja por dentro, não apenas em sua organização, mas também para investir muito mais na renovação e na vitalização da fé cristã, para uma renovação a partir das origens do cristianismo.
Na homilia, no funeral do Fundador, Dom Tenhumberg perguntou: “O que a Igreja dirá dele?” O que a senhora acha que se deve dizer do Pe. Kentenich?
O mesmo que, há 20 anos, disse um grupo não religioso, de doutores da ciência da educação, na Universidade de Münster: “Este homem é um fenômeno! Por que ele ainda não foi canoni-zado?”
A senhora não se encontrou pessoalmente com o Pe. Kentenich. Apesar disso, há algum “encontro” com ele que teve efeito sobre a sua vida?
Ele disse uma vez: “Quando eu morrer e vier alguém que queira ser educado por mim, então voltarei eu à vida.” (quer dizer: eu ajudarei na educação dessa pessoa, tanto como se ainda estivesse vivo!). Essa afirmação é uma realidade para mim.