(Foto: Juciellen Ribeiro)
Karen Bueno – Quando o joelho dói, após a queda, é ela que acolhe e passa pomada. Quando é difícil dormir, durante a noite, por medo ou insônia, é ela quem conta histórias ou prepara o leite quente. Quando há uma briga entre os irmãos, primos ou colegas, ela chega tentando amenizar os debates e fazendo todos se unirem novamente. Essa é a mãe, aquela que tem o dom de curar as feridas, de “tocar” o medo para bem longe, de restituir a vinculação.
Ao lembrar as histórias da infância, se destaca o papel central que tem a ‘mãe’ na vida de cada pessoa (em vários casos, essa tarefa é exercida com muito zelo pela avó, por uma tia, madrinha, etc.). Nos momentos de dificuldade, a figura materna aparece e tenta ajudar na solução dos conflitos. E, ao olhar para ela, sentimos a confiança de que coisas boas virão pela frente, mesmo que a situação seja de total desespero.
Num tempo de divisão, buscar a filialidade
É assim, com o olhar de criança e um coração filial, que tentamos contemplar o Brasil hoje. O contexto do país não é favorável. Nas rodas de conversa, nas redes sociais, nos meios de comunicação, nos ambientes diversos, tudo direciona para a divisão e separação. Pessoas amigas, familiares, colegas se voltam uns contra os outros por possuírem visões de mundo opostas. Discussões, ataques, extremismos de todos os lados desenham um Brasil que quer, sim, mudança, mas que ainda não está maduro o suficiente para ouvir a voz que está ao lado e respeitá-la.
Isso é sinal de que o Brasil precisa de Mãe. Somente ela pode unir uma nação fragmentada e fazer os irmãos se amarem e se respeitarem mutuamente. O desafio pode até ser grande, mas fica bem mais fácil quando a Mãe está ali para ajudar.
É significativo que o dia de Nossa Senhora Aparecida seja celebrado, em anos eleitorais, justamente nesse período de transição, entre o primeiro e o segundo turno das eleições. A Mãe e Padroeira certamente fica alegre ao ver o interesse de todos os seus filhos na tentativa de projetar o melhor destino para a nação. E ela fica ainda mais feliz se isso for feito com amor e respeito, com solidariedade e misericórdia.
Fragmentos de uma nação heroica
Lembramos que em 1978, houve um atentado à imagem original de Nossa Senhora Aparecida, que resultou na sua quebra em vários pedacinhos. Assim como está o Brasil hoje, dividido e machucado, o ícone da padroeira se fragmentou em muitas partes. Um fato chama a atenção nessa história, apesar da queda, as mãos da Mãe Aparecida permaneceram intactas, como se ela estivesse a rezar constantemente. Tendo passadas várias décadas, a Mãe continua nos ensinando a fazer o mesmo, a permanecer em oração diante das várias divisões e dificuldades.
O tempo e a dedicação, apoiados em muito esforço e carinho, permitiram que a imagem da padroeira fosse restaurada. Assim também pode ser o futuro da nação, se reinar o respeito e a cooperação.
Mas, dá para conviver com pessoas de opiniões diferentes da nossa? Um passo importante para esse avanço é olhar o outro sem julgamentos ou rótulos; se ele tem uma opinião diferente, certamente passou por experiências e situações que o fizeram chegar até essa visão de realidade, assim como nós. Seus argumentos podem até não nos convencer, mas partem de uma convicção pessoal que merece respeito.
O momento presente pede um posicionamento sem ataque ou ofensa, pede uma consideração misericordiosa sobre a opinião do outro. Antes de atacar a visão do próximo, podemos mostrar qual é o lado positivo da nossa visão: o que me faz compreender as coisas dessa forma? Se eu gosto, por exemplo, de “arroz”, o que posso dizer de positivo sobre ele? Talvez contar que o “arroz” fornece energia, proteína, tem vitaminas e minerais, etc. Se você defende determinado candidato, o que ele tem de bom? Quais são suas propostas? Isso é mais relevante do que atacar os adversários.
Temos Mãe!
O Papa Francisco nos fala sobre a imagem de Aparecida: “[os pescadores] Veem então a imagem da Imaculada Conceição. Primeiro o corpo, depois a cabeça, em seguida a unificação de corpo e cabeça: a unidade. Aquilo que estava quebrado retoma a unidade. […] Há aqui um ensinamento que Deus quer nos oferecer. Sua beleza refletida na Mãe, concebida sem pecado original, emerge da obscuridade do rio. Em Aparecida, logo desde o início, Deus dá uma mensagem de recomposição do que está fraturado, de compactação do que está dividido. Muros, abismos, distâncias ainda hoje existentes estão destinados a desaparecer. A Igreja não pode esquecer essa lição: ser instrumento de reconciliação”.
TEMOS MÃE! Essa é uma realidade que o Papa acentuou para a Família de Schoenstatt em 2014 e não podemos esquecer. A nação brasileira tem Mãe e é ela que vai restaurar a vida de cada filho, é ela que vai “passar pomada” e colocar um “band-aid” sobre as feridas da nação; é essa Mãe que já há tantos anos acolhe e dá seu abrigo, com “gosto de leite quente”, aos anseios do brasileiro. Temos Mãe, surgida das águas, para fazer do Brasil uma nova terra mariana, segundo o anseio do coração de Cristo.