A Família de Schoenstatt se reuniu em Roma, no dia 13 de novembro, para a celebração do Ano Pe. Kentenich, recordando os 50 anos de falecimento do Pai e Fundador. A Santa Missa foi igreja Santa Maria del’anima, presidida pelo prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Cardeal Kevin Farrell. Confira sua homilia:
Caros irmãos e irmãs,
Na ocasião em que nos reunimos para recordar o quinquagésimo aniversário da morte do Pe. José Kentenich, foi escolhido utilizar as orações e leituras da Santa Missa da Virgem das Dores, memorial litúrgico que a Igreja celebra todos os anos no dia 15 de setembro. Foi nesse dia, há 50 anos, que o Pe. Kentenich, depois de ter celebrado a Missa de Nossa Senhora das Dores, morreu na sacristia da Igreja da Santíssima Trindade, em Schoenstatt. Maria assim colocou seu selo na vida deste seu filho predileto.
A Maria nós também voltamos nosso olhar neste momento. O Evangelho proclamado nos coloca diante de uma imagem que nos é muito querida: “Junto à cruz de Jesus estava sua mãe”. Com estas simples palavras, o evangelista descreve a presença silenciosa de Maria ao lado do seu filho moribundo. Uma presença que não é passiva e resignada, mas é plena de oração, de participação interior nos sofrimentos do Filho, de oferta de seu sacrifício pela salvação do mundo.
Neste momento, dramático e solene, em que se aproxima a “hora” de ir ao Pai, Jesus, da cruz, confia ao ‘discípulo que ele amava’ sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!”. E sua mãe ao discípulo: “Eis tua mãe!” A tradição eclesial tem entendido, desde tempos antigos, que essas palavras não tinham um valor privado, não eram um “caso de família”, de simples piedade filial para com uma mãe prestes a permanecer sozinha, mas tinham um profundo significado universal. Nem Maria nem João, na verdade, são chamados pelo nome, mas fala-se, apenas, da “mulher” e do “discípulo”. E assim podemos entender que em João são representados todos os discípulos “amados do Senhor”. Enquanto Maria, neste momento, encarna em si a “filha de Sião”, da qual falou o oráculo profético, que haveria de acolher não só os “filhos dispersos de Israel”, mas também “todas as gentes” que viriam ao Templo Jerusalém em busca do “rosto de Deus”. Ela é, agora, a mãe universal que acolhe todos aqueles que vão para Cristo.
E é significativo o fato de que somente depois dessa entrega do discípulo a sua mãe, e da mãe ao discípulo, Jesus diga: “Tudo está consumado!” Somente depois de nos ter confiado a Maria, Jesus sente que completou a sua missão! A instituição da maternidade universal de Maria para todos os crentes conclui, assim, o trabalho de redenção.
Caríssimos, essa maternidade mariana foi, para o Pe. Kentenich, não uma verdade teológica aprendida nos livros, mas uma experiência vivida em sua própria carne, quando, aos oito anos de idade, no momento em que entrou no orfanato, foi confiado por sua mãe a Nossa Senhora. Foi um episódio doloroso, mas, ao mesmo tempo, providencial. De fato, a partir daquele momento, o cuidado materno de Maria, sua proteção e proximidade, foram as bases seguras sobre as quais se desenvolveu toda a vida espiritual do jovem José.
Podemos dizer que o Pe. Kentenich recebeu, desde cedo, a grande graça de ter seu próprio coração enraizado no amor a Maria e, por meio dela, no amor ao Senhor. Este é o segredo de uma vida cristã autêntica: o coração unido a Deus, a mente e as obras animadas por esta união! Se a vida cristã permanece estéril é porque muitas vezes acontece o contrário: a mente se aplica às verdades divinas, a ação se esforça para obter resultados eficazes, mas o coração está longe de Deus.
Tendo o coração enraizado em Deus, através de Maria, Pe. Kentenich soube enfrentar com extraordinária coragem, força e perseverança as muitas cruzes que a vida lhe apresentava: a saúde muitas vezes enferma, o aprisionamento no campo de concentração de Dachau, a amarga incompreensão por parte da Igreja e a separação forçada de sua pátria e de sua Obra por 14 longos anos. Em todas essas provas, ele também, como Maria, “permaneceu perto da cruz”, oferecendo seu sacrifício, unido ao sacrifício de Cristo, para o bem das almas e confiante de que Maria teria o cuidado sobre as provações dolorosas que estava vivendo: “Mater habebit curam”, gostava de repetir.
A experiência pessoal guiou também a sua extraordinária ação pedagógica. Ele sabia que os jovens estão expostos ao risco de se desviar e se perder quando permanecem sob o domínio de emoções e paixões fúteis e passageiras, por isso ele entendeu que o primeiro passo a dar, também para eles, era fazer uma “Aliança de Amor” com Maria, que desde então se tornou a marca original da espiritualidade de Schoenstatt. Na prática, trata-se de viver “em Aliança” com Maria para que, por sua intercessão, faça frutificar o compromisso de santificação pessoal e o apostolado no mundo.
Pe. Kentenich, portanto, desde o ato de fundação do Movimento de Schoenstatt, teve a certeza de que, antes de iniciar qualquer trabalho educativo, é preciso “ligar” o coração a um fundamento seguro, para evitar que ele permaneça “à mercê das ondas”. Ele sabia, por ter experimentado pessoalmente, que quando o coração está ligado a Maria, ele espontaneamente se orienta para amar a Deus e amar os outros em Deus. E, de fato, Pe. Kentenich foi um grande educador: teve sempre o propósito de formar personalidades fortes e maduras, e, acima de tudo, livres. Livre do condicionamento externo, livre de pressões sociais, livre dos falsos valores do mundo, capaz de aderir do íntimo do próprio coração, não só na aparência, à fé cristã. Capaz de testemunhar essa fé em todo ambiente social e de tomar iniciativas apostólicas com autonomia, com audácia e prudência.
Pe. Kentenich se tornou, assim, um verdadeiro Pai para muitos jovens, leigos, seminaristas, sacerdotes, mulheres consagradas, grupos de famílias que encontraram nele um guia seguro e sábio para acompanhá-los com amor e clareza de ideias para o crescimento da fé e na adesão plena à própria vocação.
Este homem de Deus foi, sobretudo, um autêntico filho da Igreja. Amou a Congregação dos Palotinos, na qual, pelo desígnio da Providência, sua vocação sacerdotal nasceu e se desenvolveu. Gastou-se generosamente pela formação espiritual de tantos sacerdotes que, aos milhares, se reuniram para seguir seus retiros e conferências. Amou toda a numerosa Família espiritual que deu vida ao Movimento de Schoenstatt, uma “árvore”, podemos dizer, da qual cresceram muitos “ramos”: os Institutos Seculares, o Movimento de Peregrinos, as Ligas Apostólicas, as Uniões Apostólicas.
Caríssimos irmãos e irmãs, como todos os fundadores das novas realidades eclesiais suscitadas pelo Espírito Santo para renovar a Igreja, também o Pe. Kentenich é um instrumento que Deus escolheu e que Deus enriqueceu com muitos dons e graças especiais. Talvez não seja possível reproduzir toda a riqueza espiritual de sua personalidade, mas vocês, seus filhos espirituais, podem se inspirar em alguns traços de seu carisma e de sua Obra, que são mais próximos de sua natureza e que se sente mais urgente para ser repetido no contexto social em que vivemos. Para alguns, será o trabalho pedagógico de formação dos jovens, para outros, a proposta de um sério caminho pessoal de santificação, para outros, o testemunho cristão no ambiente de trabalho, ou o impulso missionário, ou o trabalho de paternidade e direção espiritual, ou o apostolado pela oração, a difusão da devoção mariana nas famílias, e tantos outros. Lembre-se que os carismas eclesiais continuam a permanecer vivos ao longo dos anos se são acolhidos e abraçados fielmente por pessoas generosas e sinceras, que o atualizam a cada nova geração que vem.
Que a Virgem Maria, especialmente venerada por vocês como Mãe Três Vezes
Admirável, os acompanhe e assista no caminho pessoal e comunitário de santificação e de apostolado.
Amém.