“Na primeira vez que eles vieram, eu tinha falado para eles do meu fogão. E quando foi um dia eu assustei, porque estavam me chamando ali. Quando eu fui ver, eles tinham vindo com um fogão para mim”
Entre as paredes de madeira de uma casa simples, dona Zelita Moreira Rodrigues, que é aposentada, vive com a filha, o genro e os dois netos. Mesmo com o orçamento apertado neste fim de ano, a mesa de Natal não ficou vazia. Graças a um projeto social de Poços de Caldas/MG, chamado Família Belém, a ceia vai ter mais sabores, alegria e gratidão.
O projeto existe na cidade há quatro anos e aposta na união e na cultura do encontro para promover um Natal mais digno e feliz para as famílias que enfrentam alguma dificuldade, seja financeira, de relacionamento ou por problemas de saúde de algum dos membros. Ele é coordenado por pessoas do Movimento Apostólico de Schoenstatt, com o apoio de vários outros voluntários que aderiram a essa missão.
Não vou esquecer tão fácil
As famílias acolhidas precisam passar pelas diversas fases do projeto, que termina com um jantar especial e cheio de surpresas, que aconteceu na segunda-feira, 17 de dezembro, no Santuário da Mãe e Rainha, Tabor Fonte de Vida Nova. No final da confraternização, os participantes ainda voltam para casa com uma miniceia de natal e presentes para as crianças.
“Eu gostei foi de tudo. Eu cheguei lá e já topei com a bondade. Daquele jeito, com as mulheres, aqueles rapazes que estavam lá, se me chamassem para fazer todo dia, eu ia, de tanto que eu gostei. Foi bom demais. Valeu a pena, eu não vou esquecer tão fácil”, diz Zelita sobre o jantar.
Cultura do Encontro
Na primeira etapa do projeto, algumas famílias são indicadas por creches e escolas para serem acolhidas. Neste ano, foram escolhidos 30 participantes que seguiram para a próxima fase: receber a visita dos missionários.
Os voluntários do Família Belém formaram trios e receberam algumas orientações antes de irem às casas. A primeira delas foi que ninguém poderia terminar a visita sem antes dar um abraço apertado em cada membro da família. Camila de Lourdes Muniz faz parte da comissão organizadora do projeto e explica que a importância das ações dos missionários é vencer a indiferença.
“As famílias são convidadas a terem uma ceia, um jantar especial e ganham a cesta. Para as pessoas e para as famílias que participam, isso representa, muitas vezes, o ápice. Mas, para nós, isso tudo é só uma desculpa, porque o nosso grande intuito é a cultura do encontro, que acontece nas visitas, quando os trios vão às casas”, explica.
“Eu acho que amizade vai ser é forte”
E na casa de dona Zelita, o objetivo foi alcançado. Ela conta que os missionários foram como uma bênção para ela. “Eles chegaram aqui já conversando comigo. Disseram que iam voltar de novo e eles tornaram a voltar. Eles são uma benção. Aqueles ali quando eu topar com eles, agora eu acho que amizade vai ser é forte. É bom demais”, afirma.
Neste primeiro encontro, o trio também tem de perceber quais são as dificuldades da família e, se possível, contribuir para resolvê-las na próxima visita.
Nas famílias em que havia problemas de relacionamento, alguns missionários levaram um café para que todos se sentassem à mesa juntos. Na casa de dona Zelita, o que faltava era um fogão.
“Na primeira vez que eles vieram, eu tinha falado para eles do meu fogão. E quando foi um dia eu assustei, porque estavam me chamando ali. Quando eu fui ver, eles tinham vindo com um fogão para mim. Foram os meninos de lá”, relata a aposentada.
De família para família
Durante as visitas, acontecem as próximas etapas do projeto. Cada criança pode escolher uma peça de roupa ou calçado como presente e fica sabendo que vai receber o que escolheu em um dia marcado para uma confraternização.
Ao mesmo tempo em que isso acontece, outras famílias participam de um cadastro em que se dispõem a se tornar uma família doadora. Cada uma recebe os pedidos das crianças e uma foto de toda a família que vai apadrinhar. Os doadores ficam responsáveis por comprar os presentes e montar uma miniceia de natal com os ingredientes indicados pelos voluntários do projeto.
A outra dose de solidariedade é entregue no dia da confraternização. Mais de uma centena de voluntários dividem funções e se empenham para proporcionar uma noite memorável às famílias acolhidas e também às doadoras.
Depois de assistirem a uma peça natalina de teatro, as duas famílias seguem juntas para o salão, onde é servido o jantar, e se sentam à mesa. Ali, podem se conhecer, trocar experiências e compartilham, mais uma vez, da cultura do encontro pregada pelo projeto.
Corações generosos
A professora Dulce Pecinato de Oliveira participa como família doadora pelo segundo ano consecutivo. Ela conta que, depois da primeira experiência, a satisfação de ajudar aos outros a fez querer voltar. “É muito bom ver a alegria das famílias que ajudamos e o brilho nos olhos das crianças. Isso faz bem pro nosso espírito.”
Ela foi ao jantar acompanhada dos netos. Uma delas, Ana Clara Oliveira Souza, de 9 anos, fez questão de contar que adorou participar. “Eu achei muito legal e fiquei muito feliz por poder ajudar as pessoas mais necessitadas”.
Boas lembranças
Depois de toda a experiência com o Projeto Família Belém, dona Zelita voltou para a casa junto da família com sentimento de gratidão aflorado. Ela, que já havia participado de outros projetos sociais, conta que todos foram bons, mas este foi surpreendente.
“Eu e a minha filha ficamos encantadas com o tanto que fomos bem recebidas. Sabe quando a gente chega com o coração todo limpo de lá? Eu tava assim”.
Junto ao Santuário, além das boas lembranças, a família terminou a noite com a possibilidade de desfrutar do sentimento de esperança e ainda mais união neste Natal. Ao redor da mesa, estavam os alimentos que o orçamento não permitiu comprar. Dentro do coração, a fé renovada de que é sempre possível viver coisas boas e conquistar os sonhos.
“Na noite de Natal é diferente. Uma benção de Deus. Uma jantinha boa, a família mais unida, pra ficar bem demais. E a gente ainda pode ir lá pedir as bênçãos de Deus pra gente construir pelo menos uns cômodos nessa casa aqui. A gente tendo fé em um instantinho a gente consegue uma coisa que a gente quer.”
Texto escrito por Camilla Resende para o portal G1.com, com adaptações do editor: leia o texto original
Fotos: Cafétografia