Vamos hoje adentrar no que se refere à VIDA, como Vida Humana
Ir. Elvira Maria Perides Lawand – No Catecismo da Igreja Católica (§2258) encontramos: “A vida humana é sagrada porque desde sua origem ela encerra a ação criadora de Deus e permanece para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. Só Deus é o dono da vida, do começo ao fim; ninguém, em nenhuma circunstância, pode reivindicar para si o direito de destruir diretamente um ser humano inocente.”[1]
É complementada a definição dizendo que: Toda vida humana, desde o momento da concepção até a morte, é sagrada, porque a pessoa humana foi querida por si mesma à imagem e à semelhança do Deus vivo e santo. (§2319)[2]
E, ainda na V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, ou Conferência de Aparecida (42) encontramos em seu documento: “A pessoa humana é, em sua própria essência, o lugar da natureza para onde converge a variedade dos significados em uma única vocação de sentido.”[3]
Deus é o autor da Vida. Em Gênesis (2, 26) lemos: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança”. É Ele quem gera a vida e a dotou como um organismo concatenado dotado de alma, que o vivifica, e que o torna em ser o que é ‘a Obra prima’ de toda a Criação.
Por isso com muito respeito se deve ter diante de cada um, de cada homem ou mulher.
“A vida do homem é dom de Deus e é o maior talento que Deus deu ao homem; ela encera uma infinidade de graças, de potencialidades. A partir da vida o homem pode desenvolver-se, pode crescer, experimentar as suas capacidades, pode contribuir para o crescimento da humanidade e do mundo”.[4]
São João Paulo II, grande defensor da Vida escreveu a Encíclica Evangelho da Vida, que é um compêndio sobre a Vida Humana. Ele nos convida a:
“…. cultivar, em nós e nos outros, um olhar contemplativo. Este nasce da fé no Deus da vida, que criou cada homem fazendo dele um prodígio (cf. Sal 139 138, 14). É o olhar de quem observa a vida em toda a sua profundidade, reconhecendo nela as dimensões de generosidade, beleza, apelo à liberdade e à responsabilidade. É o olhar de quem não pretende apoderar-se da realidade, mas a acolhe como um dom, descobrindo em todas as coisas o reflexo do Criador e em cada pessoa a sua imagem viva (cf. Gn 1, 27; Sal 8, 6). Este olhar não se deixa cair em desânimo à vista daquele que se encontra enfermo, atribulado, marginalizado, ou às portas da morte; mas deixa-se interpelar por todas estas situações procurando nelas um sentido, sendo, precisamente em tais circunstâncias, que se apresenta disponível para ler de novo no rosto de cada pessoa um apelo ao entendimento, ao diálogo, à solidariedade. ”[5]
Desta forma se adquire um respeito à vida, ao outro, que é seu semelhante. E ele continua nos entusiasmando:
“É tempo de todos assumirem este olhar, tornando-se novamente capazes de venerar e honrar cada homem, com ânimo repleto de religioso assombro, como nos convidava a fazer Paulo VI numa das suas mensagens natalícias. 108 Animado por este olhar contemplativo, o povo novo dos redimidos não pode deixar de prorromper em hinos de alegria, louvor e gratidão pelo dom inestimável da vida, pelo mistério do chamamento de todo o homem a participar, em Cristo, na vida da graça e numa existência de comunhão sem fim com Deus Criador e Pai.” [6]
Vemos assim como a Vida humana tem uma unidade de corpo e alma, que o vivifica, o anima e o faz gerar uma nova vida.
É empolgante ler o texto acima citado que nos coloca o quão precioso é a Vida que deve ser vivida como um dom recebido e com todo o respeito. São João Paulo II nos convida a Celebrar a Vida Eterna, a celebrar Deus que habita em cada Vida Humana e nos esclarece que a vida procede de Deus,
“Dela recebe a vida (Vida Eterna), na proporção das respectivas capacidades, todo o ser que, de algum modo, participa da vida. Essa Vida divina, que está acima de qualquer vida, vivifica e conserva a vida. Toda a vida e qualquer movimento vital procedem desta Vida que transcende cada vida e cada princípio de vida. A Ela devem as almas a sua incorruptibilidade, como também vivem, graças a Ela, todos os animais e todas as plantas que recebem da vida um eco mais débil. Aos homens, seres compostos de espírito e matéria, a Vida dá a vida. Se depois nos acontece abandoná-la, então a Vida, pelo transbordar do seu amor pelo homem, converte-nos e chama-nos a Si. E mais… Promete também conduzir-nos — alma e corpo — à vida perfeita, à imortalidade. É demasiado pouco dizer que esta Vida é viva: Ela é Princípio de vida, Causa e Fonte única de vida. Todo o vivente deve contemplá-la e louvá-la: é Vida que transborda de vida ».[7]
Podemos concluir com São João Paulo II que destaca a Vida como dom Supremo.
“Como o Salmista, também nós, na oração diária individual e comunitária, louvamos e bendizemos a Deus nosso Pai que nos plasmou no seio materno, viu-nos e amou-nos quando estávamos ainda em embrião (cf. Sal 139 138, 13.15-16), e exclamamos, com alegria irreprimível: « Eu Vos louvo porque me fizestes como um prodígio; as vossas obras são admiráveis, conheceis a sério a minha alma » (Sal 139 138, 14). Sim, « esta vida mortal, não obstante as suas aflições, os seus mistérios obscuros, os seus sofrimentos, a sua fatal caducidade, é um fato belíssimo, um prodígio sempre original e enternecedor, um acontecimento digno de ser cantado com júbilo e glória ». Mais, o homem e a sua vida não se revelam apenas como um dos prodígios mais altos da criação: Deus conferiu ao homem uma dignidade quase divina (cf. Sal 8, 6-7). Em cada criança que nasce e em cada homem que vive ou morre, reconhecemos a imagem da glória de Deus: nós celebramos esta glória em cada homem, sinal do Deus vivo, ícone de Jesus Cristo.
Somos chamados a exprimir assombro e gratidão pela vida recebida em dom e a acolher, saborear e comunicar o Evangelho da vida, não só através da oração pessoal e comunitária, mas sobretudo com as celebrações do ano litúrgico. No mesmo contexto, há que recordar, de modo particular, os Sacramentos, sinais eficazes da presença e ação salvadora do Senhor Jesus na existência cristã: tornam os homens participantes da vida divina, assegurando-lhes a energia espiritual necessária para realizarem plenamente o verdadeiro significado do viver, do sofrer e do morrer. Graças a uma genuína descoberta do sentido dos ritos e à sua adequada valorização, as celebrações litúrgicas, sobretudo as sacramentais, serão capazes de exprimir cada vez melhor a verdade plena acerca do nascimento, da vida, do sofrimento e da morte, ajudando a viver estas realidades como participação no mistério pascal de Cristo morto e ressuscitado.”[8]
Referências
[1] Catecismo da Igreja Católica, nº 2258
[2] Ibidem, nº2319
[3] Documento de Aparecida, nº 42
[4] PERDIGÃO, G. Bioética – a defesa da Vida, Edições Shalon, 2005, Ceará, Fortaleza, p. 21
[5] João Pualo II, Evangelho da Vida, nº 83, http://www.catolicoorante.com.br/docs/enciclicas/jpii/hf_jp-ii_enc_25031995_evangelium-vitae_po.html acessado em 23/12/2018
[6] Ibidem
[7] Ibidem, 84
[8] Ibidem