Testemunhas dos valores fundamentais da vida em família
Adelmo e Ana Paula Dal Pozzolo – Novembro é mês de primavera, o verão aproxima-se e todos se preparam para o Advento. Logo nos organizamos para o Natal, família reunida, celebração, oração e partilha.
A família que tem a felicidade de contar com a presença dos avós deve se considerar muito abençoada. Detentores de mais tempo de vida e tendo sido jovens em outro tempo, os avós carregam consigo o saber que a vida proporciona. E são solícitos em partilhar suas histórias e testemunhos com os mais jovens. Em geral, avôs e avós manifestam sabedoria no modo de ser, na fala mais pausada, nos modos mais gentis e lentos, sem a urgência da juventude, mas portadores de conhecimento e da força de vida que o acúmulo dos anos proporciona.
Lugar privilegiado
Em 2013, quando estava no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco destacou que “São Joaquim e Sant’Ana fazem parte de uma longa corrente que transmitiu o amor a Deus, no calor da família, até Maria, que acolheu em seu seio o Filho de Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a nós. Vemos aqui o valor precioso da família como lugar privilegiado para transmitir a fé!” [1].
Em setembro de 2014, no Vaticano, a Praça São Pedro foi palco de um grande encontro do Papa Francisco com idosos e avós de várias partes do mundo. Nessa ocasião, o Santo Padre falou sobre a velhice como um tempo de graça, no qual Deus renova o chamado a guardar e transmitir a fé. “Aos avós, que receberam a bênção de ver os filhos dos filhos (cf. Sal 128/127, 6), está confiada uma grande tarefa: transmitir a experiência da vida, a história duma família, duma comunidade, dum povo; partilhar, com simplicidade, uma sabedoria e a própria fé, que é a herança mais preciosa! Felizes aquelas famílias que têm os avós perto! O avô é pai duas vezes e a avó é mãe duas vezes”, disse o Pontífice [2].
Um manual
Nos ditos populares costumamos ouvir que “família não vem com manual de instruções”, mas, nas Sagradas Escrituras, em Efésios 6, encontramos o quarto mandamento de Deus que nos diz: “Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. Honra teu pai e tua mãe” (versículos 1-3) para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra”. E seguindo: “Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor”.
Para entendermos o papel dos avós na família, bastaria aplicarmos a interpretação do texto Bíblico de forma equivalente, transpondo a relação para: “obedeçam aos pais dos pais, pois isso é justo. Honra o pai de teu pai e a mãe da tua mãe…” e também para: “…criem os filhos de seus filhos segundo as instruções e o conselho do Senhor”.
Sob este olhar, podemos perceber que as relações estabelecidas pelo quarto mandamento ultrapassam o tempo e o limite das relações familiares e devem perpassar gerações, ampliando a responsabilidade e o respeito mútuo devotado também entre avós e netos, bisavós e bisnetos.
Guardiões da memória
Na Exortação Apostólica pós-sinodal Christus Vivit (Cristo Vive), dirigida aos jovens e a todo o povo de Deus, o Papa Francisco fala sobre a importância de preservar as raízes e convoca os jovens: “Pensai bem! Se uma pessoa vos fizer uma proposta dizendo para ignorardes a história, não aproveitardes da experiência dos mais velhos, desprezardes todo passado olhando apenas para o futuro que essa pessoa vos oferece, não será uma forma fácil de vos atrair para a sua proposta a fim de fazerdes apenas o que ela diz?” E continua: “Aquela pessoa precisa de vós vazios, desenraizados, desconfiados de tudo, para vos fiardes apenas nas suas promessas e vos submeterdes aos seus planos. Assim procedem as ideologias de variadas cores, que destroem (ou desconstroem) tudo o que for diferente, podendo assim reinar sem oposições. Para isso, precisam de jovens que desprezem a história, rejeitem a riqueza espiritual e humana que se foi transmitindo através das gerações, ignorem tudo quanto os precedeu” (181).
O Santo Padre continua o texto apresentando um pedido pessoal: “Que peço aos idosos, entre os quais incluo a mim próprio? Peço que sejamos guardiões da memória. Nós, os avôs e as avós, precisamos formar um coro. Imagino os idosos como o coro permanente dum importante santuário espiritual, no qual as orações de súplica e os cânticos de louvor sustentam a comunidade inteira que trabalha e luta no campo da vida”. Ele ainda complementa: “É belo que «os jovens e as donzelas, os velhos e as crianças louvem todos o nome do Senhor» (Sal 148, 12-13)” (196).
Sobre a família, o Fundador Pe. José Kentenich, nos escreve: “O teu Santuário é para nós Nazaré, onde o Sol de Cristo irradia calor. […] Em Nazaré, para tempos de desenraizamento, Deus quer preparar salvação às famílias e bondosamente conceder santidade da vida diária aos que se consagram a Schoenstatt” [3].
Para que Deus consiga obter a salvação às famílias é necessário que seus integrantes estejam dispostos a viver a fé e se façam instrumentos da atuação do Espírito Santo como fontes de graça e salvação. Pais e filhos, avós e netos, tomando à sério a santidade da vida diária, elevam na família a capacidade de santificar-se. Vivendo no exemplo da Sagrada Família de Nazaré concretizam o sonho Deus – salvar as famílias.
O sentimento de como é ser avó está expresso nas palavras de Luciano e Carla De Gregori, integrantes da Liga de Famílias e pioneiros no Movimento Apostólico de Schoenstatt em Santa Maria/RS:
“Ser Avó! Não tem explicação! É uma benção de Deus! É ter nos braços o fruto do teu fruto! Um ser indefeso e ao mesmo tempo tão forte, capaz de despertar o mais puro amor adormecido dentro de ti. Fui avó pela primeira vez aos 44 anos. Foi a renovação da minha alma, pois, apesar de ter dois filhos adultos e uma filha entrando na adolescência, eu sabia que um novo ciclo surgia em minha vida e eu teria que aprender a ser avó, sem interferir na educação daquele anjinho, mas dando todo o apoio necessário e sendo presença constante, sempre que solicitada. Eu me tornei uma pessoa mais terna e carinhosa e amei o meu primeiro neto, o Luigi, desde o momento em que soube da sua existência. Nossas almas se identificam e sinto que fui escolhida por Deus especialmente para ser avó dele e da Valentina, que veio complementar esse amor incondicional e me dar a certeza de que em cada neto que nasce, um pedacinho de mim estará sendo eternizado e o meu ser transformado para melhor”
Nossa experiência pessoal nos faz observar que muitos avôs e avós participam ativamente da vida espiritual de seus netos. Desde cedo rezam juntos, cantam cantigas marianas, como “Mãezinha do Céu”, e cantinhos e orações para o “Anjinho da Guarda”. Muitos netos acompanham seus avós em missas, romarias, peregrinações e momentos de adoração, até mesmo em visitas aos Santuários. Durante as celebrações, muitos avós, carinhosamente oferecem uma singela comunhão espiritual para seus netos ainda bem pequeninos, trazendo um “beijinho” de Jesus quando retornam após terem comungado. Essas pequenas vivências ofertadas pelos avós consolidam a fé desde cedo nos corações de seus netos e semeiam o amor a Cristo e a Maria, perpetuando a devoção a Deus Pai.
* Contribuição da Liga de Famílias de Schoenstatt do Regional Sul
Referências:
[1] PAPA FRANCISCO. Angelus. Palácio São Joaquim, sede da Arquidiocese do Rio de Janeiro, 26.07.2013
[2] PAPA FRANCISCO. Discurso durante o encontro com os idosos e avós. Praça de São Pedro, 28.09.2014
[3] Carta de Santa Maria, 15 de abril de 1948