Capital de Graças – Vamos transbordar as Talhas
Romulo Romanato – Por estes dias foi publicado nas redes sociais, por Schoenstatt Internacional, algumas fotos (lindas, diga-se de passagem) de alguns Santuários pelo mundo. E uma, em especial, chamou minha atenção: estou falando da foto acima.
Talvez ela não seja a mais bela no sentido estético fotográfico, mas ela me marcou profundamente assim que a vi, pois tem um detalhe muito especial que pode passar desapercebido num olhar desatento. Estou falando do detalhe que mostra a Talha que se rompeu e está amarrada com um cordão e, mais ainda: ela está como que transbordando de contribuições ao Capital de Graças, sugerindo, logicamente, que se rompeu por isso.
Sabemos que no Evangelho das Bodas, a ordem de Jesus é muito clara: “enchei as talhas”. E o Evangelho diz que os serventes foram obedientes e encheram até em cima, ou seja, até a borda. E sabemos também que Jesus fez o milagre sobre o trabalho humano, que foi a água retirada do poço e colocada nas Talhas. Se os servos fossem preguiçosos e tivessem enchido até a metade, a quantidade de água transformada em vinho seria pela metade, é claro. Mas esse tema podemos tratar em outra oportunidade, pois também merece uma bela reflexão. O importante é que os serventes encheram até em cima as Talhas e o milagre aconteceu.
Voltemos para a foto …
Por que, então, a imagem me tocou, se estamos acostumados a ver, nos Santuários, as Talhas repletas de contribuições ao Capital de Graças, até em cima? Explico: foi justamente pela foto que sugere que ela transbordou e por isso se rompeu. Foram tantas ofertas que a Talha não suportou. Isso é verdadeiramente Schoenstatt, isso é verdadeiramente a nossa pedagogia, entendida em uma só palavra: a “magnanimidade”. Ela é uma das grandes virtudes de nossa Mãe Santíssima.
A magnanimidade consiste em fazer muito mais do que o esperado, a magnanimidade pressupõe o que não é obrigatório: não faço porque me mandaram, ou porque tenho receio da punição. A magnanimidade ultrapassa a obrigação, o medo, o “para quem faço”, o interesse no fazer: eu faço por minha livre e espontânea vontade. Eu faço por liberdade, eu faço por amor, exclusivamente por amor. O que faço não tem limites, vou além das minhas forças, porque amo o meu Senhor e a Ele sirvo. Amo o meu próximo e por ele faço além, amo minha família e por ela as minhas tarefas não são fardo e sim um serviço abnegado, anônimo. Amo a minha comunidade, o meu ramo e por ele eu gasto a minha vida, porque alguém será beneficiado por minha atitude, por minha tarefa, pelos meus recursos. Amo o meu trabalho, mesmo que tenha um ambiente péssimo e nele eu faço além das minhas obrigações, pois sou magnânimo e não estarei preocupado em ser reconhecido, em ser premiado. Não faço para aparecer, mas faço porque precisa ser feito, pois o amor de Deus vive em mim e me move. Por minhas próprias forças jamais conseguirei, mas lembre-se, meu amigo, minha amiga: “Caritas Christi urget-nos” – o amor de Cristo me impulsiona, o amor de Cristo me move, o amor de Cristo me empurra, o amor de Cristo me faz suportar, tudo, tudo, tudo. Tudo mesmo. Isso é “Schoentatt raiz”, como diriam os jovens de hoje.
Essa foto mostra que podemos fazer mais…
… que podemos oferecer tanto ao Capital de Graças que fará escorrer além da borda e com isso poderemos romper as Talhas. Vamos além dos supostos limites e seremos assim magnânimos como nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, viveu. Ele viveu a magnanimidade em plenitude. Ele fez as Talhas de Schoenstatt se romperem pelo Capital de Graças e moveu a Mãe de Deus a assumir o Trono de Graças em nossos Santuários. Por que, então, não podemos fazer o mesmo?
Estás em perigo familiar? Transborde a Talha. Estas com problemas financeiros? Transborde as Talhas. Estas feliz, tudo tem dado certo? Transborde as Talhas. Estas com muitos planos? Transborde as Talhas. Sua comunidade, seu ramo, está definhando? Transborde as Talhas. Estás desanimado? Transborde as Talhas!
Vamos transbordar as Talhas schoenstattianas, as Talhas de nossos Santuários Lares, as Talhas de nossos corações, não apenas com nossos sacrifícios e sofrimentos – estes são imprescindíveis – mas também com as Eucaristias, as nossas alegrias, os nossos trabalhos, o labor de nossas mãos, as nossas incontáveis orações, as nossas viagens missionárias, as de lazer também, as formações, encontros, reuniões, enfim, toda a ação humana do bem, mas também as nossas quedas, os nossos fracassos, os nossos pecados arrependidos.
Sejamos magnânimos! Pare de reclamar, pare de murmurar. Pare de dizer: “Eu não faço porque ninguém faz”, ou de ficar dizendo: “Só eu faço”. Lembre-se que nas prisões Paulo escreveu as mais lindas expressões de amor. Lembre-se que no campo de concentração Pe. Kentenich escreveu as mais lindas orações que temos, fundou comunidades. Lembre-se que no auge de seu sofrimento, Jesus, no alto da cruz, moribundo, nos deu sua Mãe Santíssima, como nossa Mãe.
Do nosso sofrimento, qual a flor que podemos ofertar ao mundo? O que eu, você, podemos fazer? Transbordar as Talhas.
O que um par de meias me ensinou…
Me lembro de um dia, voltando à noite numa sexta-feira (eram umas 11 horas da noite), depois de um jantar com a família (as meninas ainda eram pequenas – temos duas filhas), na avenida de casa vimos um rapaz, talvez morador de rua, andando pela avenida. Era inverno e o frio naquela noite era intenso e o rapaz estava de camisa, calça jeans e descalço. A avenida estava praticamente vazia e ele andava todo encolhido. Aquela cena nos chamou a atenção, porque, de fato, estava muito frio. Dei meia volta na avenida, parei o carro e dei a ele minha jaqueta e meus sapatos. Voltei para o carro somente de meias e minhas filhas disseram: “Pai, como ele vai colocar os sapatos sem meia?” Voltei, tirei as meias e dei a ele. Os olhos desse rapaz se encheram de lágrimas, ele se agasalhou e continuou a andar. Todos voltaram para casa mudos e nenhuma palavra foi dita.
O que aprendi naquela noite, com as minhas filhas, foi que devemos fazer tudo por completo, devemos fazer o além, o mais. As meias me ensinaram isso!
A magnanimidade liberta a alma, desprende e faz o outro feliz.
Que 2020 seja o ano da nossa magnanimidade. Vamos romper as Talhas, vamos transbordar as Talhas com nosso amor.
* Esta foto foi tirada pela Ir. Francine-Marie Cooper e faz parte de um concurso organizado pela Coordenação Internacional do Movimento de Schoenstatt. Você pode participar deste concurso votando em uma das imagens finalistas: clique
*Contribuição da União de Famílias de Schoenstatt