“Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). A vida se faz história
Karen Bueno – Com o tema deste Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco convida todos a serem narradores e, ao mesmo tempo, protagonistas de boas histórias. A mensagem do Santo Padre (clique aqui para ler), dirigida especialmente aos que atuam nos meios de comunicação social, é também inspiradora para aqueles que desejam fazer de sua vida uma saga de coragem, amor, fidelidade, doação… uma instigante jornada de amor.
“Em cada grande história, entra em jogo a nossa história. […] quando metemos amor nas nossas histórias diárias, quando tecemos de misericórdia as tramas dos nossos dias, nesse momento estamos a mudar de página. […] Sim, porque ninguém é mero figurante no palco do mundo”, afirma o Papa Francisco.
A mensagem do Santo Padre foi escrita para este domingo, 24 de maio de 2020, dia da Ascensão do Senhor e, justamente por isso, Dia das Comunicações Sociais. A assessora nacional de comunicação do Movimento Apostólico de Schoenstatt, Ir. M. Nilza Pereira da Silva, reflete sobre o conteúdo e a prática dessas boas histórias:
Sabendo que todos somos comunicadores em nosso dia a dia, nos deparamos com essa mensagem do Papa, na qual ele pede que reproduzamos “histórias que edifiquem, e não as que destroem”. Existem muitas dessas belas histórias, mas, ao mesmo tempo, o mundo apresenta situações tristes de destruição. É possível, e de que forma, mostrar essas histórias tristes de uma maneira positiva e sem fugir da realidade?
É missão do comunicador dizer a verdade, Deus é a verdade. Disse Jesus, “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida” (Jo 14,6). Se nosso tempo apresenta situações tristes, de inseguranças e medos, é verdade também que, justamente nesse tempo, há muito de positivo, de pessoas que se entregam, é um tempo em que podemos ver o melhor de muitas pessoas. Descrever a histórias dessas pessoas é descrever a realidade, são histórias que edificam.
Em todo fato triste há algo de bom que pode ser mostrado, sem ser frio ou indiferente ao sofrimento, porque Deus é bom e Ele está presente em todos os fatos. O mal não tem a última palavra. Cabe ao comunicador, com a ajuda do Espírito Santo, ter esse olhar luminoso, que vai além da tristeza e encontra a esperança, para apresentar em suas histórias.
Exemplo disso é nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, que era capaz de ver e ajudar outros a encontrar Deus num lugar de extermínio, como foi o Campo de Concentração de Dachau, a tal ponto que falou uma vez sobre o “céu de Dachau” e alguns prisioneiros diziam que nunca riram tanto como quando conversavam com o Pe. Kentenich.
Quando é inevitável narrar fatos tristes, a conclusão dessa narração deve ser de esperança, pois nós cremos que é Deus quem tem nas mãos o desfecho final de todas as histórias e Ele é Amor.
“Desde pequenos, temos fome de histórias, como a temos de alimento. Sejam elas em forma de fábula, romance, filme, canção, ou simples notícia, influenciam a nossa vida, mesmo sem termos consciência disso”. Onde podemos encontrar as boas histórias na Obra de Schoenstatt? Por que é importante conhecê-las?
Todos nós gostamos de história porque temos memória. Gostamos de ver a ação de Deus, a resposta das pessoas, suas consequências na vida, e aprender com experiências. “A memória é um voltar atrás para encontrar forças e poder caminhar para a frente. A memória cristã é sempre um encontro com Jesus Cristo”, disse o Papa Francisco. Pe. Kentenich dava grande valor para a história, a vida é uma continuidade. “Somos herdeiros de um grande passado, portadores de um grande presente e construtores de um grande futuro”, dizia ele.
Schoenstatt é um movimento de vida. Não é somente um movimento de ideias ou uma linha pedagógica. Mas, é um “movimento”, uma contínua ação de Deus e de pessoas, por isso, somos um Movimento que valoriza muito a história. Todo schoenstattiano autêntico, não somente gosta e valoriza a história, mas ele continua a tecer a história, por meio de sua fé na Divina Providência.
Por isso, encontramos boas histórias da Obra de Schoenstatt, do passado, em muitos livros, nas narrações de nossos irmãos mais velhos, que construíram nossa história, mas também a encontramos em toda parte onde há um schoenstattiano que se empenha, com sinceridade, para viver a Aliança de Amor. Cada um de nós faz parte da grande e santa história que Deus escreve nas páginas de nossa Família de Schoenstatt. Os leitores do futuro esperam e precisam que lhes deixemos histórias edificantes, para que continuem a se empenhar pela Cultura da Aliança.
“A estrutura prevê ‘heróis’ – mesmo do dia a dia – que, para encalçar um sonho, enfrentam situações difíceis, combatem o mal movidos por uma força que os torna corajosos, a força do amor. […] Não existem histórias humanas insignificantes ou pequenas”.
Como autores, somos chamados também a sermos protagonistas de boas histórias. Então, como compartilhar os bons exemplos do cotidiano sem fazer autorreferência ou autopromoção? E, isso é necessário?
O Magnificat de Maria é o maior exemplo disso. Ali ela compartilha com Isabel e com todos nós uma parte gloriosa de sua história, coloca-a no contexto de toda a história de Israel, fica no presente e olha para o futuro. Ela sabe que é protagonista de uma grande história: “Todas a gerações me proclamarão bem aventurada” (Lc 1, 48). Mas, em nenhum momento ela coloca a si mesma no centro, porém, reconhece e diz claramente que tudo é obra de Deus que “olhou para sua pobre serva e realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc, 48-49).
Isso é ser humilde: reconhecer com sinceridade que, no dia a dia, Deus realiza coisas grande por meio de nós. Somos todos heróis, quando escolhemos o amor e nos esforçamos para educar a nossa personalidade, segundo o ideal que Deus tem de nós. Se cultivarmos a filiação divina e fizermos dela nossa atitude, então, nossas ações são reflexos disso, não precisamos de “muletas” para que os refletores se voltem para o nosso ego e fazermos cara de humildes. Mas, saberemos ver as belezas e as grandes obras que Deus realiza também na vida de outras pessoas.
Então, sempre que formos descrever a história que Deus está escrevendo conosco ou por meio de nós, tenhamos como meta duas coisas: 1. Glorificar a Deus, não a nós mesmos ou nossa família. Se termos muito claro os erros que já cometemos na vida, isso será fácil. É intuitivo para o leitor perceber nas entrelinhas a quem a narração coloca no centro. 2. Narrar somente o que pode motivar outros a descobrir as grandes coisas que Deus realiza também em suas vidas e sentirem-se valorizados. Se não for para ajudar outros, não tem porque contar a minha história e nem a história de outros.
A mensagem do Papa Francisco para esse dia é uma boa leitura para quem quer aprofundar-se nesse tema. Somos todos historiadores e contadores de histórias, nossa vida se irradia e deixa mensagens para os que convivem conosco. Desconfiemos de quem só sabe destacar o que não é belo, porque essa pessoa precisa descobrir a beleza de sua própria história. É com cada um de nós que Deus continua a escrever a história da salvação, começada na Bíblia. Ele selou a Aliança conosco e é fiel a ela. “Sua misericórdia se estende, de geração em geração” (Lc 1,50) Deixemo-nos educar por Maria, para vermos e escrevermos belas histórias, pois Deus continua a realizar maravilhas.