Nos últimos dois anos de vida do Servo de Deus João Luiz Pozzobon, ele contou com uma ajuda especial em sua missão. A jovem Denise Moro, da Juventude Feminina de Schoenstatt, tornou-se sua secretária a pedido dos Padres de Schoenstatt. Denise passou muitas horas junto com João Pozzobon, lendo e organizando todos os seus escritos e anotações, pois João sabia que aquilo tudo era muito precioso para mostrar as grandes obras que a Mãe realizava.
Denise também acompanhou os momentos finais da vida de João Pozzobon, em 27 de junho de 1985, e hoje ela nos conta como foi essa experiência:
A minha participação na missa da manhã começou quando o Sr. João fez um comentário comigo, dizendo que ele tinha dificuldade para atravessar a avenida. Assim, começamos a nos encontrar de manhã.
Na saída da missa, após cumprimentar algumas pessoas, o Sr. João ia para o Monumento dos Heróis. Isso era diário, frequente e não mudava nunca. Várias vezes nos encontrávamos sob chuva forte e, claro, com guarda-chuva aberto, ficávamos ali e ele rezava suas três Ave-Marias. Elas tinham, para o Sr. João, o sentido de receber as graças do Santuário e estar vinculado à origem. Naquele momento ele ia até Schoenstatt em pensamento, estava vinculado ao Santuário Original e à geração fundadora. Certa vez eu perguntei a ele o porquê disso? E ele disse que era para buscar o espírito heroico da primeira geração, pois ele queria ser uma Cruz Negra, um herói de Schoenstatt.
Aí nós saíamos dali, ele passava em frente ao Santuário e fazia uma genuflexão, mesmo com a porta fechada, e seguíamos até a Rua Pe. Kentenich, bem no alto do morro, onde ele precisava atravessar. A faixa era bastante movimentada, devido ao início do dia e por ser o caminho para a universidade. Eu lembro que tinha bastante medo, porque o Sr. João ficava parado, olhando para frente, mas ele não olhava para os carros, pois não enxergava. Eu ficava cuidando e rezava para o Anjo da Guarda, para que parasse os carros e eu pudesse ajudá-lo a atravessar com tranquilidade, já que tinha muito medo de acontecer algum acidente.
Depois de atravessar, a gente se despedia e ele voltava para casa rezando a Via Sacra. O Sr. João compreendeu a importância da Via Sacra e a incluiu na sua rotina espiritual diária.
Quando voltou a enxergar
Na viagem para a Argentina, o Sr. João fez uma cirurgia nos olhos e voltou enxergando. Ele estava muito feliz, porque agora podia ver as filhas, podia ver a cor das paredes, das flores… Ele pode também me conhecer, já que não enxergava e não sabia como era meu rosto. Isso me deu uma certa tranquilidade, porque agora eu não precisava mais cuidar tanto dele. Mesmo assim, depois da missa eu seguia com ele até a Rua Pe. Kentenich para atravessar e a gente continuava conversando sobre a Campanha, sobre o que aconteceu na Argentina, as coisas do momento…
Uma manhã diferente
No dia 27 de junho, eu cheguei ao Santuário e ali na entrada da capela e já vi uma movimentação. As Irmãs disseram que Sr. João tinha sido atropelado. Eu me lembro que a Ir. M. Áurea [Dotto] estava segurando a bengala do Sr. João, porque alguém a recolheu. E logo em seguida tocou o telefone e eu fui atender. A Vilma [filha de João Pozzobon] me falou, chorando, que o papai tinha sofrido um acidente. O Pe. Esteban [Uriburu] chegou e nós fomos de carro para o hospital, foi também a Ir. M. Áurea. Estávamos assustados, em silêncio, fomos rezando Ave-Marias. Eu segurava a bengala do Sr. João, no banco de trás do carro.
Segundo sua vontade
Ao chegarmos ao pronto-socorro, o Sr. João estava para ser atendido. Ele estava vivo e só dizia: “Não posso mais, não posso mais”. Acho que foi a primeira vez que a Mãe ouviu isso dele, porque em toda sua vida ele sempre disse “sim”. Logo em seguida o levaram e nós ficamos na sala de espera, rezando. As filhas chegaram e uma hora depois nos avisaram que ele faleceu.
O Pe. Esteban e a Ir. M. Áurea começaram a conversar sobre o que seria feito. Eu disse que o Sr. João tinha deixado tudo explicado sobre como ele queria o seu velório. “Nós precisamos ir à sua casa”, eu disse. Inclusive, ele havia me mostrado algo que guardava, uma caixa que ficava embaixo da sua cama, uma caixa grande com muitos pertences; ele havia mandado fazer um quadro com uma moldura e o fundo era de feltro vermelho; ele me mostrou e pediu: “Denise, quando eu morrer, eu quero que coloquem aqui os símbolos que eu carrego no terno”. Esses símbolos eram a bandeira, a espada e a cruz. O Pe. Esteban foi providenciar as coisas necessárias, avisar as pessoas que precisavam ser avisadas. Eu fui com a Ir. Áurea buscar uma roupa para vestir o Sr. João e peguei esse material, esse quadro e uma pasta que ele havia guardado separadamente, onde estava seu Testamento Espiritual.
“Embora morto, quero andar com o povo de Deus” (João Pozzobon)
O velório começou, na igreja de Nossa Senhora das Dores, às 11 horas. A Paróquia das Dores tinha um significado muito grande para ele, onde serviu como diácono. Ali ele foi velado até o final da tarde, quando a gente saiu em romaria, segundo ele mesmo pediu. Foi uma romaria muito bonita.
Ficamos velando o Sr. João, no Santuário de Schoenstatt, até mais ou menos meia-noite, quando partimos, de novo em peregrinação, e fomos até a capela Nossa Senhora das Graças. Passei a noite ali, junto com outras pessoas, e toda hora entravam pessoas: Irmãs, Irmãos, os pobres da Vila Nobre, todo mundo vinha.
Houve então a missa, com o bispo. As filhas do Sr. João recolheram todas as rosas que tinham no seu jardim e colocaram as pétalas em sacos plástico, para que a gente, ao enterrar, jogasse as pétalas.
Um presente para João
Houve uma tarde em que eu estava escrevendo, antes do Sr. João Pozzobon morrer, e ele colocou uma fita que tinha um hino, o Hino da Juventude Heroica. E ele me disse que gostaria de ouvir esse hino quando fosse enterrado. Quando nós estávamos no cemitério Santa Rita, eu fiz tocar esse hino para o Sr. João.
Acredito que eu entrei na vida dele, nesses dois últimos anos, para ajudá-lo, como se fosse um presente da Mãe. Não que eu seja esse presente, mas sim um instrumento para levar os mimos e o carinho da Mãe até ele, pois ele pode ver realizada toda a sua vontade até o último minuto. A ele, que nunca negou coisa alguma para a Mãe, também nada foi negado, inclusive o Hino da Juventude Heroica.
Ouça a entrevista completa com a Denise:
Foto destacada: Ir M Raquel Mainardi