“Chorem de alegria e que a Mãe enxugue as vossas lágrimas”
Fabrício Furtado – No dia 18 de julho do ano 2000, um grupo formado por cinco pessoas conduziu, em caminhada, uma imagem da Mãe e Rainha saindo da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Mauriti/CE, com destino ao Sítio Gravatazinho, distante 18 quilômetros da sede municipal. Essa caminhada fora o prenúncio do que hoje se tornou uma romaria conhecida não somente nos arredores do Gravatazinho. Milhares de pessoas das diversas localidades do município, de outras cidades, estados e dioceses do país acorrem ao santuário paroquial para manifestar sua devoção à Mãe tão querida, venerada, nesta pequena porção do povo de Deus sob o título de Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt.
20 anos depois, a participação presencial na Romaria da Mãe e Rainha, que reunia mais de 20 mil pessoas por ano, reduziu-se, novamente, ao pequeno número de pessoas que a iniciou, em vista do contexto mundial modificado pela pandemia da Covid-19. Obedecendo às orientações do Estado e da Diocese para evitar qualquer tipo de aglomeração e combater o avanço do novo coronavírus, a Romaria foi celebrada, no entanto, com transmissão ao vivo pelas redes sociais do Santuário e os devotos, em casa, participaram das novenas e momentos celebrativos.
“Fizemos de nossos lares uma Igreja Doméstica”
“Neste tempo em que vivemos momentos difíceis diante desta pandemia e em isolamento social, fizemos dos nossos lares uma Igreja Doméstica, na qual vivenciamos este período muito forte. Perante o aumento de casos positivos e óbitos em nossa cidade, nunca perdemos a nossa fé e confiança na Mãe e Rainha; sempre entregando, confiando e agradecendo. Os meios de comunicação social vêm para enriquecer a nossa espiritualidade”, partilhou a devota Gervasiana Almeida, que viveu a Romaria em casa com a família.
Desafios vencidos e graças alcançadas
Para o Diác. Francisco Alves, organizador da Romaria e responsável pelo Movimento de Schoenstatt na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em primeiro momento, foi um “choque” ter que reduzir a participação a seis pessoas, uma vez que a experiência da Romaria é do encontro, do abraço e da partilha. Outros desafios também vieram como, exemplifica, o domínio das redes sociais e ferramentas de comunicação para levar a programação às famílias. No entanto, as orações fizeram com que todas as barreiras fossem vencidas e, com ela, muitos aprendizados foram adquiridos: “Desde o dia 7 de junho, a cada dia um grupo do Movimento era responsável por ficar um dia inteiro de oração”, disse. “A gente rezou muito durante essa Romaria. Nunca tínhamos rezado como rezamos este ano porque a gente não tinha tantas atividades externas, eram mais internas e, assim, tínhamos oportunidade de rezar mais”, comenta o diácono que esteve a todo momento em quarentena numa casa nas instalações do Santuário com a equipe de voluntários. Sobre o contato com os devotos e romeiros por meio das redes sociais, o diácono diz que, em sua vida, nunca recebeu tantas mensagens. “Foi necessário criar um WhatsApp próprio para o Santuário, porque eu não consegui dar conta de tantas mensagens e testemunhos que estavam chegando”.
De acordo com o ele, a novena, rezada em cada família, foi também algo marcante: “Muitos testemunhos de graças alcançadas, reconciliação entre maridos e esposas, filhos afastados e que foram resgatados pela tradição de, no final da novena, pedir a bênção aos pais. Escutei muitos áudios de pessoas que diziam: ‘faz tempo que meus filhos não me pediam a bênção e, agora, estão me pedindo’”. E Continua: “Pessoas que não se falavam e agora estão se falando porque tinham que rezar a novena juntas. Isso foi muito importante”.
Por último, a vinculação do povo simples ao Santuário é algo de que não se resta mais dúvidas, afirma. “Realmente o Santuário tem uma força espiritual grandiosa e a gente precisa, como Igreja, apoderar-se desta situação para Evangelizar. O Santuário é do povo e a gente precisa fazer com que esse lugar se torne cada vez mais um lugar de Evangelização, oração e oportunidade de trazer de volta as pessoas para a vivência de fé”, concluiu.
Missa de encerramento
Ao cair da tarde de sábado, dia 18 de julho de 2020, as imediações do Santuário se achavam completamente vazias. Sem o barulho do povo nem a poeira no ar, como se vê em anos anteriores, apenas os pássaros a cantarolar e uma suave ventania se notava no espaço, enquanto, “no meio do mundo”, ouvia-se o rumor de fogos vindo de todas as partes.
Ao olhar para a cena, o Sr. José Miguel de Souza, pai do Diác. Francisco, que mora ao lado do Santuário, disse: “A gente suporta porque Deus tem misericórdia”, referindo-se a saudade da Romaria com a participação da multidão. Porém, esperançoso: “Vamos rezar muito para que Deus toque no coração da ciência para descobrir uma vacina pelo menos daqui para o final do ano”, pede. “E pedir a Nosso Senhor que, quando ela [a pandemia] se acabar, não venha outra contrariedade igual a ela”, continua.
Às 17 horas, no Santuário Paroquial Tabor da Misericórdia, inicia a missa de encerramento da Romaria. Em sua homilia, de forma profética, Pe. Edivan Guedes, pároco de Mauriti e presidente da celebração, afirma que a Romaria deste ano, no contexto que foi vivenciada, é uma preparação para a do próximo: “Vamos nos preparando e já fazendo [as ofertas para] o nosso grande Capital de Graças. Nós temos muito o que, no próximo ano, trazer de graças [recebidas] para este Santuário. Não esqueçamos disso!”, exorta. “No próximo ano, se Deus quiser, estaremos aqui rendendo louvores à Santíssima Mãe Peregrina e agradecendo a Ela por estarmos juntos em mais um ano. Este ano foi um ano de preparação para vivermos o tempo da graça do Senhor. Deus nos prepara para isso. E quem está conosco nestes tempos? Ninguém melhor que a Santíssima Virgem!”, considera referindo-se ao trabalho da equipe de voluntários representando nela todos os demais servos e romeiros que, durante aquele dia, gostariam de estar no espaço sagrado. “Neste momento estão as lágrimas descendo por não estarem [fisicamente] aqui, mas chorem de alegria e que Maria enxugue, purifique e santifique as nossas lágrimas”.
Em Romaria, Santuário Vivo na construção de uma Igreja do Pão e da Palavra
A respeito do tema da Romaria, “este Santuário quis viver, neste tempo espiritual, dois pilares fortes da caminhada de evangelização da Igreja nesses próximos quatro anos: o Pão e a Palavra. Durante este ano espiritual profundamente vivido, escutando mais a palavra, saboreando mesmo à distância o Pão Eucarístico que fortalece e anima a nossa vida, este Santuário que quis e quer transmitir aos seus peregrinos, filhos da Virgem Maria, este encontro espiritual com o Pão e com a Palavra”.
Ao final da Missa, a queima de fogos no Santuário encerrou oficialmente a XX Romaria da Mãe Rainha no Sítio Gravatazinho, na esperança que, no ano vindouro, esse momento de fé e de graças seja vivido com ainda mais fervor pelos seus devotos, juntos, partilhando do abraço e calor humano.
Texto e fotos: Diácono Francisco Alves de Souza / paroquiamauriti.blogspot.com