“Se Deus te ‘escolher’ para ser sacerdote, responda escolhendo a Ele também”
Karen Bueno – No dia 14 de novembro de 2020, sete seminaristas do Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt serão ordenados diáconos no Chile, entre eles, dois brasileiros.
A celebração será presidida pelo Núncio Apostólico do Chile, Dom Alberto Ortega Martín, às 16 horas. O local da ordenação será confirmado em breve e a missa será transmitida ao vivo pelo YouTube no canal do Colegio Mayor P. José Kentenich. Todos estão convidados a acompanhar as transmissões e oferecer suas contribuições ao Capital de Graças nas intenções de:
Filipe Araujo (Brasil)
Rafael Flausino (Brasil)
Juan Molina (Argentina)
Pedro Brás (Portugal)
Sebastián Espinoza (Chile)
Joaquín Lobos (Chile)
Sergio Abarca (Chile)
Os dois brasileiros, Filipe, de Araraquara/SP, e Rafael, de Poços de Caldas/MG, nos contam mais detalhes sobre este momento e sobre sua caminhada no Instituto:
Como vocês conheceram a Comunidade dos Padres de Schoenstatt e o que os levou, qual o impulso, para mergulharem nessa jornada?
Filipe – Conheço os Padres de Schoenstatt desde criança, pois meus pais participam da Liga de Famílias de Araraquara. Mas foi só aos 15 anos, quando entrei para a Juventude Masculina, que comecei a ter um contato mais direto com a comunidade através dos padres que foram meus assessores. Tive muitas experiências diferentes ao participar do Jumas: ser parte de um grupo, ser dirigente de grupo, ser líder de ramo, participar em missões e jornadas de diversos tipos, entrar em contato com muita gente diferente de outros ramos e fazer muitos amigos. Tudo isso foi marcando a trajetória no Movimento. No fim das contas, ter participado do Jumas me ajudou muito a ir formando minha personalidade, a descobrir que a vida é mais bonita quando formamos comunidade, a ir desenvolvendo as coisas que eu gostava de fazer, a ir descobrindo um gosto de ajudar as pessoas a encontrar a Deus. No meu último ano de universidade, aos 21 anos, comecei a fazer um discernimento mais sério sobre minha vocação e percebi que Jesus me chamava para ajudar a que outras pessoas também tivessem uma experiência de encontrá-lo através de Schoenstatt, da Mãe de Deus, do Santuário, da Aliança de Amor. E esse chamado era entrar para a Comunidade dos Padres de Schoenstatt.
Rafael – Conheci a Comunidade dos Padres de Schoenstatt através do Jumas. Minha experiência de Aliança de Amor com a MTA e das atividades do Jumas, tais como: missões, ser encarregado de um grupo de Pioneiros, participar dos encontros regionais e nacionais, me ajudaram a questionar sobre a possibilidade de que minha vocação fosse a vocação sacerdotal nesta comunidade, especificamente. Na época eu só conhecia o Pe. Alexandre [Awi] e alguns noviços e seminaristas da Comunidade que tinham feito estágio na minha cidade, Poços de Caldas. É engraçado que nunca me senti chamado a ser padre diocesano. A pergunta vocacional surgiu especificamente com relação aos Padres de Schoenstatt, porque achava atrativo o seu modo de viver. Viver uma vida em comunidade, com sua beleza e seus desafios, mas sabendo que no fim do dia teria uma família na minha casa com quem poderia compartilhar meus sonhos e meus desafios do trabalho apostólico. Não estaria sozinho nessa “jornada”. Além disso, sentia que minha vocação era seguir Jesus com a espiritualidade do Movimento de Schoenstatt, fundada na minha experiência de vida em Aliança de Amor com Maria. É claro que esse discernimento que fiz me levou a tomar uma decisão que também continha uma quota importante de incerteza. Foi mesmo um “mergulho” em águas que não conhecia tanto. Mas o que me guiava era o amor a Cristo e Maria e uma vontade grande de estar à disposição para ajudar a quem precisasse e, nesse sentido, consagrar a minha vida a Jesus e aos demais. É difícil pôr palavras ao “chamado” de Deus, mas para mim era algo que dava sentido à minha vida, à minha história e à minha esperança para o futuro.
Por que vale a pena essa escolha em ser sacerdote?
Rafael – A vocação é um mistério. É difícil falar sobre a “escolha” de ser sacerdote. Em parte eu escolhi, mas em parte também fui escolhido. A parte do “eu escolhi” eu posso explicar, mas eu sei que foi algo que não dependeu só de mim, por isso Deus chama a cada um com uma distinta vocação. Por isso, acho que vale a pena responder ao chamado de Deus, responder à primeira “escolha”, que é de Deus. Se Deus te “escolher” para ser sacerdote, responda escolhendo a Ele também, diria eu. Que se entenda bem o que eu quero dizer: Deus escolhe a todos, sem exceção. Alguns para a vida matrimonial, alguns para a vida consagrada, alguns para ser sacerdote, etc. Acho que se você se sentir, como eu, que Deus está te escolhendo para ser sacerdote, vale a pena tomar a sério este chamado e fazer um discernimento. No meu caso, eu acho que valeu a pena responder a esse chamado e escolher este caminho porque através dele eu pude conhecer muitas pessoas que, durante o caminho, foram confirmando este chamado de Jesus. Durante a caminhada fui encontrando-me com o amor infinito de Deus, que era o que eu buscava, e Deus foi me ensinando, com erros e acertos, como acompanhar outras pessoas ao seu encontro. Este caminho de amor, onde eu fui recebendo e entregando amor, é o caminho da caridade cristã e também é o que faz valer a pena qualquer vocação. Especificamente, o meu caminho ao sacerdócio foi um caminho de felicidade que superou qualquer dificuldade que nele estava, e que deu sentido à toda dor pela qual passei. No fim das contas, o sacerdote é esse mediador entre Deus e o seu povo, representando a Cristo. Ele quer ajudar a que as pessoas possam se encontrar com Cristo e, nesse encontro, achar algum sentido para sua vida, suas alegrias e suas dores, para que sejam cada dia mais humanas e, por isso, mais de Deus. Ser este pequeno instrumento, de alguma maneira misteriosa, vale a pena para mim.
Por que ser Padre de Schoenstatt e não de outro carisma ou de uma diocese?
Filipe – Para falar a verdade, nunca pensei em entrar numa outra comunidade. No meu caso concreto, os padres que mais me ajudaram a encontrar a Jesus e a descobrir o sentido para a minha vida eram todos Padres de Schoenstatt, porque foi no Jumas que eu vivi tudo isso. A amizade com esses padres, as diversas conversas e direções espirituais que tive com eles, a presença e a ajuda deles na minha vida… todas essas coisas foram despertando em mim a consciência de que Jesus me chamava para ser parte dessa comunidade.
Clique nos botões abaixo e conheça mais sobre a trajetória vocacional dos dois jovens dentro da comunidade dos Padres de Schoenstatt:
Rafael Flausino
Uma vez dentro da Comunidade, fiz o meu Noviciado no Paraguai, durante 2 anos. Foi um tempo de muito conhecimento pessoal e também de formação do nosso curso, que é o grupo que caminhará todo o tempo de formação de seminário juntos. Dentro destes 2 anos, tive 5 meses, aproximadamente, de estágio social em Santa Maria/RS. Neste tempo de estágio estive junto com o Filipe Araujo e o Joaquin Lobos, do Chile, e fizemos trabalho voluntario em um Lar de idosos, o Lar Vila Itagiba, que estavam sob a administração das Irmãs Filhas da Caridade, de S. Vicente de Paulo. Foi um tempo de viver a caridade à flor da pele e também de confrontação pessoal, porque lá você está 100% voltado ao próximo e isso realmente é cansativo. Porém, todo cansaço valeu a pena, porque o coração vai crescendo e abrindo-se cada vez mais, e o que cansava antes já não cansa tanto, nesta dinâmica da caridade que vai te transformando.
Depois destes dois anos de Noviciado, fui para Santiago do Chile começar os estudos de Filosofia (2 anos) e de Teologia (3 anos). Depois de estudar 2 anos de Filosofia e 1 ano de Teologia, fiz uma pausa nos estudos para fazer outro estágio, mas desta vez era um estágio trabalhando com o Jumas e vivendo em uma casa com outros padres da Comunidade. Meu estágio foi em Lisboa, Portugal, e foi 1 ano de muitas alegrias e de novos desafios também. Tempo de conhecer muita gente nova, novos rostos que também deixaram uma marca no meu coração. É lindo e motivador ver como Schoenstatt funciona em outros países, outras culturas e ver como a MTA transforma o coração das pessoas nestes lugares também. Realmente somos uma única Família. Sinto saudades deste tempo lá.
Depois tive um tempo de formação de 6 meses em Schoenstatt mesmo, na Alemanha, com o meu curso, onde pude conhecer o Santuário Original e aprofundar no conhecimento do nosso carisma.
Voltando para o Chile, estive morando por 1 ano fora do nosso seminário, o Colégio Maior, para ter uma experiência diferente em um município na periferia de Santiago: Puente Alto. Essa experiência foi muito marcante para mim, em termos de ganhar autonomia pessoal, conhecer novas pessoas, fazer amigos por lá e aprender também da fé deles e da maneira com que se constrói a Igreja por lá. Por último, terminei os estudos da Teologia e agora estou estudando para fazer o exame final para conseguir o título de teólogo e depois me ordenar como diácono. Entretanto, comecei uma pós-graduação em estudos em artes, com ênfase na pintura, o que está sendo muito desafiador e motivo de alegria para mim. Creio que esta será uma boa ferramenta de trabalho pastoral no futuro, além de ser uma maneira pessoal de expressão e de comunicação.
Filipe Araújo
A formação dentro da comunidade é longa e abrangente. No início de 2012 ingressei ao Postulado, que é um tempo de conhecer um pouco mais a comunidade, e logo em seguida, no mês de março, me mudei para o Paraguai para começar o Noviciado no Santuário de Tupãrenda. Éramos cinco brasileiros, entre eles o Rafael Flausino que também se ordena agora, e o Gabriel Oberle. Aí conhecemos nossos irmãos de curso e fomos sendo introduzidos aos poucos na vida religiosa. Em 2013, como parte do Noviciado, morei em Santa Maria/RS com o Rafael e trabalhamos juntos em um lar de idosos. Entre 2014 e 2016 fui com o meu curso para o Chile, ao Colegio Mayor P. José Kentenich, e comecei os estudos de Teologia. Em 2017 fiz meu estágio pastoral em Londrina/PR e trabalhei com o Jumas do Regional Paraná. Em 2018, vivi um semestre em Schoenstatt, para o tempo de Terciado, e no meio do ano voltei ao Chile, onde estou até agora, para terminar a Teologia.
Apesar de ter passado por muitos lugares, o que mais me marcou foi a experiência de família dentro da Comunidade dos Padres. Isso inclui tanto os meus amigos e irmãos, quanto o espírito de trabalho em conjunto, que é sempre um desafio. No Brasil há muito trabalho para ser feito, e para isso é importante um espírito de família para levar a cabo a missão de maneira comunitária. Apesar de que muitas vezes cada padre está “sozinho” em uma tarefa, é importante aprender a realizar essa tarefa unido aos demais, pois a missão de trabalhar com o Movimento é de todos nós.