Foto: Nogueirense
Juliana Gelatti Lovato – O dia 2 de novembro já entrou para a rotina cristã e civil com o nome popular de “Dia de Finados”, data em que se costuma visitar os cemitérios e rezar pelos entes falecidos. Mas, além de um costume enraizado na nossa cultura, dedicar preces e missas pelos mortos é um ato de misericórdia, de caridade para com o próximo.
Para isso, o Pe. Clécio Almeida, sacerdote diocesano na Arquidiocese de Santa Maria/RS, nos explica o sentido e a origem da data, como também o que devemos fazer para aliviar a espera das almas que estão no purgatório.
1 – Qual o sentido ou a origem da celebração do Dia de Finados?
Talvez o melhor nome para o que popularmente chamamos de Dia de Finados seja Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. É este o nome que a Igreja dá para este dia, porque é marcado pela caridade. E por que nós comemoramos os Fiéis Defuntos? Por que temos um dia especial do calendário litúrgico para oração por eles? Em razão da caridade que nós devemos para com o próximo. Essa celebração tem sua origem no século X, especialmente na Abadia de Cluny, na França, mas está sustentada desde a escritura.
Sabemos que os primeiros cristãos se reuniam em cemitérios para a oração, lá eles rezavam pelos seus, tanto que se olharmos, por exemplo, o cânon romano, ou mesmo a oração eucarística número II, que são as duas orações eucarísticas mais antigas que temos na Igreja, as duas mencionam o momento em que fazemos memória dos defuntos. Então, desde o início do Cristianismo, nós fazemos essa obra de caridade. É uma obra de caridade rezar pelos nossos irmãos.
Agora, por que nós fazemos isso?
Primeiro, porque nós estamos, enquanto Igreja peregrina, num caminho em direção a Deus. Esse caminho em direção a Deus é marcado pela nossa vida eucarística, nossa vida de oração, nossos trabalhos. Em algum momento desse caminho que nós vamos fazendo, a morte nos assalta, ela aparece. E nem sempre nós estamos prontos para esse encontro com o Senhor. Então, existe, na misericórdia divina, dentro da nossa fé, a realidade o purgatório, um lugar de purificação, um estado de purificação. Então quando nós falamos em Comemoração dos Fiéis Defuntos, estamos falando do que? De exercer a nossa caridade, como Igreja militante, como Igreja peregrina nesta terra, para com os nossos irmãos que estão se purificando, que ainda não estão prontos para entrar no Céu, mas que com a nossa oração, visam entrar no Céu.
Eles não podem rezar mais por eles mesmos.
Por isso que é importantíssima essa obra de misericórdia, de rezar por aqueles que já partiram, nossos amigos, nossos parentes, e também por aqueles que não recebem nenhuma oração. Rezar pelas almas do purgatório em geral também é importante. Com essa celebração, nós percebemos a unidade que há na Igreja: nós, Igreja peregrina, que rezamos pela Igreja que está em purificação, em vista da Igreja triunfante no Céu. Há aqui bem claramente esta união, perfeita, da Igreja.
2 – Deve ser um dia de tristeza?
Humanamente falando, esse dia tem quase uma conotação de tristeza, porque somos seres humanos, é o tempo que nós nos recordamos dos nossos falecidos, amigos, parentes. Humanamente falando pode aparecer a tristeza, ou a saudade, ou uma saudade boa, é bom que seja uma saudade boa e não um remorso, mas esse dia na verdade é marcado pela esperança. No mistério pascal de Cristo, nós cremos que iremos habitar o Santuário do Senhor e ressuscitaremos um dia como Cristo ressuscitou. Porque do ponto de vista cristão não existe tristeza.
3 – No Dia de Finados, o que não podemos deixar de fazer para bem celebrar a data?
Em primeiro lugar, está a Missa. Ela ocupa o primeiro lugar, sempre. É o momento em que essas três igrejas estão bem visivelmente unidas: peregrina, purgativa e triunfante. A Missa é importantíssima. Mas também podemos lucrar indulgências para uma alma que está no purgatório.
4 – Quais são as indulgências previstas para esta data? Como obtê-las para algum familiar falecido?
Mas também nesse dia a Igreja abre o seu tesouro dos méritos de Cristo, do qual ela é a tutora, para nos conceder indulgências. E neste dia 2 de novembro, a indulgência é aplicável apenas às almas do purgatório. De que modo? Temos que cumprir algumas exigências, que estão explicitadas no Enchiridion Indulgentiarum, o manual das indulgências, reformado por São Paulo VI. Então primeiro, a visita ao cemitério. É possível que se lucre a indulgência na visita ao cemitério, de 1º de novembro até 8 de novembro. E o que eu faço nessa visita? Eu rezo pelos falecidos. Segunda coisa que posso fazer? Visitar piedosamente uma igreja ou oratório e aí recitar o Pai-Nosso e o Creio. Além de visitar o cemitério ou a igreja, também devo comungar e confessar.
Em outros dias do ano, é possível que eu lucre para alguma alma do purgatório uma indulgência parcial. Como é possível isso? Através da visita ao cemitério, rezando pelos mortos, ou recitando as laudes ou as vésperas, do ofício dos defuntos, ou mesmo, de modo bastante simples, a invocação: ‘Dai-lhes, Senhor, o repouso Eterno. E brilhe para eles a Vossa Luz. Descansem em Paz. Amém’.
5 – Qual a importância por rezar e encomendar missas para os falecidos? E quando posso deixar de rezar por algum ente querido que já morreu?
Como foi exposto no início, os nossos irmãos já não podem mais rezar por eles próprios, e nós temos esse dever de caridade com eles. Porque existe uma unidade, nós vivemos a comunhão dos santos. Essa comunhão se dá justamente pelo fato de que aqueles que estão no céu intercedem por nós, nós rezamos por aqueles que estão em purificação, e estes que estão em purificação um dia chegarão ao céu e também intercederão por nós. Aí está um pouco a razão de nós rezarmos pelos nossos parentes falecidos, confiando sempre na misericórdia de Deus. Não há um tempo especificado pela Igreja, para que nós deixemos de rezar pelos mortos. Nós temos este hábito de rezar de modo especial nos dias fechados: 7º dia, os 30 dias, primeiro ano, segundo ano de falecimento. Isso tudo nos ajuda até mesmo psicologicamente a fazermos memória dos nossos amigos. Mas não há um tempo para que deixemos de rezar por eles. Porém, também é sempre necessário confiarmos na misericórdia de Deus, sem desespero, sem colocar as pessoas no inferno, confiando sempre na misericórdia de Deus.
Indulgência plenária
De 1º a 8 de novembro, posso lucrar a indulgência plenária para uma alma do purgatório de minha escolha. Que obra devo fazer? Devo ir a um cemitério de minha escolha, com fé e devoção, eu rezo pelos falecidos. Não podendo fazer isto, eu faço uma visita a uma igreja e rezo o Creio e o Pai-Nosso. Ainda preciso: confessar, comungar e rezar nas intenções do Papa.