Somos do “partido Igreja”, uma instituição apartidária e que pertence unicamente a Cristo
Fernando Gabriel de Carvalho e Silva – Em tempos de forte polarização ideológica, muitos católicos se perguntam: qual espectro político a Igreja Católica adota? Inicialmente a resposta parece simples. Nenhum! O próprio Jesus Cristo rejeitou qualquer “cargo” político, afinal Ele veio nos libertar do pecado e pregar a boa nova, e não iniciar uma revolução política contra os romanos.
Portanto, não poderia ser diferente. A Igreja Católica reserva-se no direito da distância crítica frente a formas de organizações políticas e ideológicas.
“A Igreja, que, em razão da sua missão e competência, de modo algum se confunde com a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado”
“No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autônomas” (Gaudium et spes)
Na realidade, sobretudo partidos políticos, mas também outras organizações sociais, como sindicatos, associações civis, ONGs… acabam por defender doutrinas próprias e grupos determinados. A Igreja Católica, por outro lado, está a serviço de todos e tem como principal missão a salvação das almas e a pregação do Evangelho, ainda que essa missão vá de encontro com algum sistema ou espectro político vigente. Vale, portanto, aquilo que Jesus nos ensinou “De a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. (Mt 22:21).
Justamente por defender determinados grupos e ideologias, em regra, é vedado aos sacerdotes, que são homens a serviço de todos e em busca da fraternidade espiritual, tomarem parte em partidos políticos e outras organizações (Cân. 287, §2º). Tomar partido envolve o sério risco de dividir. A Igreja, pelo contrário, busca unir todos em volta do Cristo e do Evangelho.
Mas, então, por que existem padres que se candidatam? Em algumas cidades acontece, por exemplo, de sacerdotes se filiarem a partidos e concorrem a cargos públicos. Sobre isso, o Pe. Rodrigo Cabrera, do Instituto dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt, explica: “Na maioria das vezes, nesses casos, uma providência que o bispo toma (geralmente num diálogo entre ambos) é suspender o padre de ordens. Nesse período da candidatura e do exercício do cargo político, o padre não pode exercer o ministério sacerdotal: não pode rezar missa, não pode celebrar os sacramentos e nem deveria usar o nome de ‘padre’. Se ele perde a eleição, ou cumpre e conclui o período de mandato, e quer retornar ao Ministério, ele pode dialogar com o bispo e rever a suspensão”.
A Igreja não segue partido ou ideologia…
Porém a Igreja não fica em silêncio e, pautada pelo Evangelho, bem como pelo Catecismo e pela Doutrina Social, nos convida a refletir sobre as causas, valores e princípios que um cristão deve levar em consideração quando escolher o seu candidato e partido. Não é novidade que a Igreja defende a existência de princípios éticos fundamentais, valores universais e atemporais, os quais não podem ser relativizados, tais como a defesa da vida desde a concepção, a dignidade da pessoa humana, a igualdade como filhos de Deus, a caridade, entre tantos outros. Não é novidade, também, que a luz do Evangelho, a Igreja se posiciona, com força de advertência, contra ideologias e posicionamentos inegociáveis com a natureza humana, como a ideologia de gênero, a pena de morte e as penas cruéis, e ainda contra posições políticas que favoreçam a violência praticada por órgãos de Estado, maus tratos, a tortura ou mesmo a destruição da natureza, que é criação e presente de Deus.
A reflexão deve ser feita por todos nós: qual o posicionamento do partido e do meu candidato a respeito desses pontos? As propostas do meu candidato estão de acordo com a minha Fé e os valores da minha Igreja?
Esses são questionamentos que devemos fazer de modo sincero e, sobretudo, de maneira livre e autêntica, ou seja, pensando por si próprio sem se deixar levar pelas opiniões da massa, como tanto nos alertou nosso Fundador, Pe. José Kentenich.
É forçoso dizer: em uma sociedade polarizada, como cristãos, precisamos estar verdadeiramente com o coração aberto. Quantas vezes fechamos nossos olhos e ouvidos e não nos preocupamos em buscar a verdade por meio de fontes seguras, só porque determinada opinião partiu de tal ou qual político? Quantas vezes apenas criticamos sem buscar conhecer os reais fundamentos de uma decisão política? Ou ainda, quantas vezes defendemos determinados pontos sem nos preocupar em analisar posicionamentos contrários ou que nos ensina a Santa Igreja? Essas não são atitudes de quem busca o bem comum, principal missão do cristão junto a política. Ao revés, são típicas situações do homem massa, cego por doutrinas ideológicas alienantes que não poucas as vezes desprestigiam os valores das pessoas, da liberdade e da dignidade, como alertou o Papa Francisco em sua homilia em Blaj, na Romênia .
Papa Francisco: Fazer política a partir do Evangelho, superando as ideologias.
Nós, católicos leigos, somos convidados pela Igreja a participar da política não apenas escolhendo bem os nossos candidatos, mas sim nos candidatando para cargos públicos, a fim de que levemos o nosso carisma cristão e espírito evangélico a serviço de todos.
A Igreja nos orienta a não agirmos como Pilatos, ou seja, lavando as mãos e deixando a condução do país para pessoas que não têm compromisso com os valores cristãos. A atividade política é reconhecida pela doutrina católica como forma privilegiada de caridade social, quando exercida em busca do bem comum e da dignidade humana.
“Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão […]. Temos que nos meter na política porque ela é uma das formas mais altas de caridade” (Papa Francisco, encontro de alunos e ex-alunos dos colégios jesuítas da Itália e Albânia, 07.06.2013)
Parabéns pelo seu artigo Fernando Gabriel de Carvalho e Silva…..ótimo, recomendo a leitura!!