Teresa Reis e Geni Maria Hoss – Ao celebrar os 100 anos de existência, o Movimento Feminino de Schoenstatt volta seu olhar para a grande mulher de um pequeno, quase imperceptível, começo. Na verdade, trata-se daquela que tornou possível a presença das mulheres em Schoenstatt: Gertraud von Bullion.
Ela tomou a inciativa de reivindicar um espaço para as mulheres, num Movimento de espiritualidade e educação que ainda dava seus primeiros passos. As dificuldades não tardaram, mas a fé na Divina Providência e a docilidade às inspirações do Espírito Santo permitiram que, tanto o Fundador como seus fiéis colaboradores próximos, percebessem, na voz das mulheres, uma porta aberta para a acolhida de mulheres em Schoenstatt.
Sabemos que ao pequeno início do Movimento Feminino, sucedeu a adesão de inúmeras mulheres, igualmente protagonistas, para desenvolver e consolidar esta Obra, cujos frutos não tardaram a se revelar e são hoje para nós razão de profunda gratidão.
Gertraud von Bullion insistiu: “Não temos somente o direito, mas também a obrigação de nos engajarmos, com todas as nossas forças, pela obra de vida de Cristo.” Como horizonte, as mulheres tinham o lema que motivava os jovens desde o Congresso de Hoerde (1919): Caritas Christi urget nos!
Superadas as barreiras iniciais, instaurou-se um processo de desenvolvimento, graças ao generoso e incansável empenho de Gertraud von Bullion e suas companheiras mais próximas. Dar vida a uma obra de tal envergadura, embora os primeiros passos fossem tão modestos, exigiu muito das primeiras mulheres, particularmente Gertraud von Bullion. Ela reconhece numa carta: “Na verdade, a responsabilidade é enorme e eu não estou à altura da tarefa da União. Ajuda-me a rezar para que, da minha parte, eu faça tudo o que a nossa Mãe espera de um instrumento seu.”
Ao mesmo tempo que se entende como instrumento demasiado frágil para a missão, confiante no auxílio de Maria, ela se dedica à missão com solicitude maternal e espírito de serviço, próprios de alguém que tinha como lema pessoal: Serviam – eu quero servir. Referindo-se ao começo do Movimento Feminino, Pe. José Kentenich, explica: “As primeiras Liguistas vieram para cá […] participaram de cursos que eram destinados a teólogos. Elas, porém, forçaram mais e mais para alcançar autonomia. Através de sua autonomia veio o Movimento Feminino, surgiu a União.”
O Fundador reconheceu que as mulheres não poderiam ser meras coadjuvantes de um Movimento de renovação religiosa e moral constituído até então por teólogos e outros jovens homens. A mulher deveria ter participação plena, com seu modo de ser e missão própria desejada por Deus. A autonomia não se alcança num toque de mágica, mas por meio de um processo de discernimento e ação, de convicção e inspiração. Daí a necessidade de líderes e protagonistas como Gertraud von Bullion e outras tantas mulheres que edificaram o Movimento Feminino.
Por ocasião do lançamento da pedra fundamental da casa destinada a formação e encontros, em 9 de junho de 1927, Gertraud von Bullion afirma: “Assim, a União deve edificar-se sobre nós como este edifício será edificado sobre esta pedra fundamental.” Mais tarde, ela volta ao assunto e relaciona mais uma vez o desenvolvimento e consolidação do Movimento Feminino, particularmente a sua comunidade, a União Feminina, com a construção desta casa, na época chamada Casa da União (hoje Casa da Aliança) e reinterpreta sua própria afirmação: “Eu refleti sobre o assunto: uma pedra fundamental é algo importante, que salta aos olhos, não, nós queremos ser apenas uma pedra colocada bem lá no fundo, no fundamento, que fica despercebida, escondida na terra e, apesar disso, ajuda na sustentação de todo o edifício.” Trata-se da postura de quem focaliza na missão e nos planos de Deus e se retira quanto possível do primeiro plano. Uma pedra escondida, porém, essencial para a obra inteira, hoje e sempre.
No jubileu de 100 anos desta maravilhosa história temos muitos motivos para agradecer. Agradecemos primeiramente a Gertraud von Bullion e todas aquelas mulheres que atenderam o convite dos teólogos para participarem das primeiras jornadas e que tiveram coragem para conquistar seu espaço no Movimento. Gertraud tinha consciência de que só a união de forças poderia levar o Movimento Feminino à plena florescência. Por isso, encoraja sua prima Marie Christmann na véspera da consagração de 08 de dezembro de 1920: “Uma por todas e todas por uma”.
A mesma fonte de graças e espiritualidade, o mesmo projeto de educação e espírito apostólico, mas, com o jeito próprio de mulher, este foi o desafio da época e que hoje motiva muitas mulheres a consagrar sua vida aos ideais de Schoenstatt. Ousamos vislumbrar o quanto Schoenstatt foi enriquecido com as mulheres? Perceber na voz das mulheres uma porta aberta permitiu que hoje não só existissem mulheres em Schoenstatt, mas que Schoenstatt pudesse contar com um amplo e abençoado Movimento Feminino constituído de muitas possibilidades de pertença e distintos modos de aspiração. “Era seu desejo do coração conquistar muitas pessoas, sim, muitas mulheres, para esta iniciativa, uma dádiva divina. Isso ela fez na confiança da parceria da Aliança, a MTA, com qual ela passou a viver em união sempre mais profunda e. a partir da qual, realizava suas tarefas.”
Gratidão a Gertraud von Bullion e todas as mulheres inspiradoras em nossas comunidades femininas do Movimento de Schoenstatt:
- pela coragem de dizer SIM ao Movimento, inicialmente constituído só de homens e assim abrir caminho para outras mulheres;
- pela ousadia para lutar e superar as barreiras e dificuldades próprias de um começo;
- pela fidelidade aos princípios do Pai e Fundador, Padre José Kentenich, transmitindo-os às gerações vindouras;
- pela prudência e discernimento para dar os próximos passos até se consolidar todo o Movimento Feminino;
- pela modéstia e humildade ao se colocar como pedra ‘escondida’ nos fundamentos do início da Obra;
- pela fortaleza de cada uma fazer renúncias significativas em prol do Movimento Feminino;
- pela bondade e respeito recíproco que consolidaram o espírito de família;
- pela solidariedade que amenizou as dificuldades e desafios de cada pessoa que Deus colocou no caminho de Schoenstatt.
Fica um convite para que cada mulher que hoje faz parte do Movimento de Schoenstatt entoe um hino de louvor pelas bênçãos recebidas através da preciosa herança que recebemos do Fundador, Padre José Kentenich, das pioneiras e de todas as heroínas ao longo destes 100 anos de história.