Para muitos de nós, viver o período de isolamento social requer sacrifício e entrega. Já certas pessoas, por vocação ao chamado de Deus, buscam a solidão e o silêncio quase que em tempo integral: esse é o caso dos eremitas, um caminho de vida tão antigo e peculiar na vida da Igreja.
Em nosso Movimento Apostólico de Schoenstatt, pelo menos duas comunidades têm eremitas entre seus membros, é o caso das Irmãs de Maria (veja o relato aqui) e dos Padres de Schoenstatt. Atualmente três sacerdotes e um leigo compõem o círculo de eremitas no Instituto dos Padres de Schoenstatt. Eles não vivem totalmente isolados, já que pertencem a uma comunidade de vida e, justamente por isso, o âmbito comunitário também faz parte de sua vocação, mas vivem uma realidade muito diferente dos demais membros, como nos explica um deles:
Sou Pe. Agustín Alvarez, de Santiago/Chile, tenho 60 anos e em 2021 completarei 28 anos de sacerdócio. Desses, 23 anos foram dedicados à adoração, na comunidade dos Padres de Schoenstatt.
Um pouco da história da Adoração
A corrente de Adoração nasce, em Schoenstatt, na comunidade das Irmãs de Maria, junto ao Santuário Original, um pouco depois da fundação deste Instituto. As Irmãs Adoradoras se dedicaram a estar presentes no Santuário, a guardar o Santíssimo e, quando se deslocaram para o Monte Schoenstatt e construíram a Igreja da Adoração e a casa das adoradoras, também construíram Ermidas, quatro Ermidas para Irmãs que queriam seguir uma vida como eremitas.
Os primeiros Padres de Schoenstatt Eremitas
Na comunidade dos Padres de Schoenstatt, o círculo dos adoradores surge no tempo da construção do Santuário Sião, em Schoenstatt, no ano de 1970. Junto ao Santuário, os primeiros Padres da Adoração construíram uma cabana na qual viveram por sete anos, se me recordo bem, até que construíram sua casa, também junto ao Santuário.
E, dentro dos Padres da Adoração, nascem os eremitas. O primeiro foi um dos nossos padres alemães, o Pe. Wolfgang Gürth. No ano de 1987, ele começou a realizar seu sonho que era levar a vida de eremita, como Padre de Schoenstatt, no Monte Sião (local, em Schoenstatt, onde fica a casa central do Instituto). E ele vive justamente em meio ao bosque, cerca de 10 ou 15 minutos caminhando a partir do Santuário.
Eu fui o próximo que o seguiu. Cheguei ao Monte Sião há dois anos e estou vivendo como eremita. O que caracteriza a vida dos Padres da Adoração, eu diria, é o silêncio, a solidão e também viver isso em comunidade. E esta forma de viver corresponde à realização de um anseio que alguém leva no coração e que podemos chamar, então, de vocação.
Já a vida dos eremitas é caracterizada por tudo o que mencionei sobre os Padres da Adoração, só que a vida comunitária é muito menor. Nós passamos a maior parte do dia em solidão. O trabalho, as refeições, as leituras, as orações, as liturgias nós fazemos sós, cada um em sua ermida e eu, que estou aqui na casa paterna, em uma ala separada.
Qual o sentido da nossa solidão?
E o sentido dessa solidão é poder acentuar justamente a busca de estar na presença de Deus, de buscar sua companhia e crer que esse estilo de vida é nossa entrega ao Capital de Graças por nossa Família e pela Igreja. Nossa vida não se explica sem a fé. Nós não produzimos nada que seja visível, mas nossa fé nos diz que tudo o que fazemos, se fazemos com esse selo de amor que é o nosso Capital de Graças, tem uma repercussão imensa nos planos de Deus.
Nosso Pai e Fundador, quando esteve em Dachau, teve contato com monges gregos do Monte Atos. Ali ele conheceu a vida eremítica e teve conversas com eles. Desde esse momento de encontro com os monges, o Pai se deu conta que também essa vida haveria de ter um lugar em nossa Família. Depois de Dachau, quando ele começa com as suas viagens internacionais, não se cansa de mencionar sobre a vida eremítica como algo possível em nossa Família. Quando esteve no Brasil, ele também falou sobre a vida eremítica. Ele queria, como um semeador, espalhar essa semente nos diversos países e ver se, em algum lugar, essa semente poderia crescer.
Essas sementes, todavia, estão por aí e acreditamos que no momento adequado e propício elas vão germinar. De toda forma, até o último momento de sua vida, para o Pai tanto a adoração como a vida eremítica eram muito apreciadas e importantes. E, por isso, confiamos que também do céu ele intercede para que esta vida possa crescer cada vez mais em nossa Família de Schoenstatt.
Uma pequena apresentação dos quatro eremitas que somos:
O Pe. Wolfgang Gürth começou como eremita no ano de 1987, em uma cabana no bosque, próximo ao Santuário de Sião. Ali ele vive os cinco dias da semana sozinho e outros dois ele compartilha com os Padres da Adoração.
Em sua vida cotidiana ele tem que preocupar-se da lenha para o inverno, já que na Alemanha o inverno é muito rigoroso, então grande parte de seu trabalho é cortar lenha. Ele também cria abelhas, que produzem mel, o que é também uma contribuição para os Padres da Adoração.O Pe. Klaus Krenz trabalhou muitos anos em um hospital em Berlim, na Alemanha Oriental. E, ao aposentar-se, quis começar uma vida eremítica na cidade, ele é um eremita urbano. Ele vive, então, em um pequeno apartamento, em um bairro retirado de Berlim, bastante tranquilo, e ali vive uma vida de oração, de silêncio e busca especialmente levar as intenções que lhe confiam as pessoas que vivem nessa cidade, nesse bairro, também nos hospitais.
Depois tem eu, Pe. Agustín Alvarez, que comecei como Padre da Adoração no ano de 1998, na Argentina, depois segui no Chile e depois aqui em Schoenstatt. Eu me dedico, quanto ao meu trabalho, especialmente ao cuidado do Santuário, também da nossa casa paterna e dos jardins ao redor.
O quarto eremita é um leigo e não pertence à comunidade dos Padres de Schoenstatt, está unicamente ligado a nós. Ele foi Irmão Trapista por vários anos, se retirou e chegou aqui ao Monte Sião. Já faz 8 anos que vive aqui. Ele traz uma grande contribuição para o cuidado e a assistência dos padres idosos. Ele também se dedica à criação de abelhas.
Nós três que vivemos aqui no Monte Sião temos dois encontros na semana, um encontro de estudo e outro para compartilhar a hora do café, de forma mais espontânea e relaxada, que termina sempre com a adoração no Santuário.
Curiosidade: O Pe. Agustín, antes de ser eremita, compôs algumas canções conhecidas em nosso Movimento, ouça abaixo: