Entrevista: Estamos conscientes de ter um beato em nossa Família de Schoenstatt?
Claudia Brehm – O Pe. Oskar Bühler fala em uma entrevista por ocasião do 25º aniversário da beatificação de Karl Leisner. O Pe. Bühler, que pertence ao Instituto dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt, é um conhecedor de Leisner e um interlocutor competente para tornar Karl tangível para o nosso tempo e fecundar a sua vida nas nossas vidas.
Pe. Bühler, o que mais o impressiona em Karl?
Fiquei impressionado com a história de seu primeiro encontro com Schoenstatt, na primavera de 1933. Isso me tocou de maneira especial e me lembrou a minha primeira visita a Schoenstatt. Lemos no diário de Karl: «Os dois dias silenciosos lá em cima, na primeira primavera que despontava, nas alturas próximas do Westerwald, e na oração silenciosa na pequena capela diante da imagem de graças da Mãe Três Vezes Admirável, ou as devoções sacramentais vespertinas com as “Orações pelo amor a Deus e ao próximo” tocaram fortemente a minha alma. O sacerdotal e o cavalheiresco em mim, que estavam bastante retraídos e profundamente adormecidos, despertaram-se e se inflamaram profundamente».
Senti o mesmo quando estive em Schoenstatt pela primeira vez, em 1953. Experimentei o Santuário muito intensamente como um lugar espiritual, como um lugar de oração, de modo que me decidi: ficarei aí, pertenço a este lugar.
A vinculação ao Santuário foi para Karl o fator decisivo que o ajudou em situações-chave, como, por exemplo, durante o exame de sua vocação para o sacerdócio, quando, de repente, sentiu que o modo de vida celibatário era um fardo pesado. A caminho do hospital, devido à tuberculose pulmonar que ameaçava sua vida, ele desceu do ônibus em Schoenstatt e rezou com a Família de Schoenstatt daquela época no espírito da Carta Branca: «Querida Mãe, coloco tudo em suas mãos». Meses depois, quando foi detido e esteve na prisão de Friburgo, manteve muito presente esta visita e a oração que rezou – e a rezou novamente.
Nas últimas semanas antes de sua morte, ele pediu que rezassem por ele na pequena capela de Schoenstatt. A vinculação com a Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt foi para ele a fonte de força para sua vida e morte como mártir.
O que Karl tem a nos dizer hoje?
Como todos os santos da história da Igreja, o nosso Beato Karl Leisner é um sinal claro e manifesto do Deus vivo. Dá testemunho de que a fé em Deus, ao nos deixarmos conduzir por Ele, faz com que a vida tenha sentido e valor.
Sua visita a Schoenstatt, aos 18 anos, significou um momento decisivo em sua vida, como ele escreveu mais tarde. Desde então soube que era responsável pela Igreja jovem, pela vida e pela fé dos jovens que lhe foram confiados.
O período do nacional-socialismo ocorreu em seus anos de juventude. Ele observou esse movimento de forma crítica, em uma idade precoce, e reconheceu seu perigo. Forma sua opinião própria e assume a responsabilidade pelas consequências que suas decisões conscientes poderiam ter. Por exemplo, na escola, onde em maio de 1933 ele confiou sua luta interior ao seu diário: «“Algum professor nazista maldito vai querer armar para mim, impedir que eu passe no exame de graduação. Mas eu permaneço fiel às minhas convicções. Como eu deveria estar com Hitler e os nazistas? Devo correr com eles, gritar com eles, seguir a corrente? Não, não vou; sigo sendo alemão e amo minha pátria e meu país. Mas também, e acima de tudo, sou católico».
Claro, também surgiu a questão: como faço para lidar com as pessoas que me perseguem e acusam? Já na prisão de Freiburg, ele começa a rezar por eles: “Do fundo do meu coração peço perdão por todos aqueles que não estão bem-dispostos comigo”. As últimas palavras de seu diário, pouco antes de morrer, são: “Abençoa também, Senhor, aos meus inimigos!”
Pe. Oskar Buhler (foto: Schwarzwader Bote)
Karl foi beatificado há 25 anos. Por que sua Causa de Canonização não está avançando?
Aqui se encaixaria melhor a pergunta: Como a Família de Schoenstatt internacional assumiu e tomou para si a beatificação de Karl Leisner nos últimos 25 anos? Está consciente, em todas as suas comunidades, de que um membro das suas fileiras foi elevado à glória dos altares e pode ser venerado e invocado como beato na liturgia oficial da Igreja? Ou, dito de outra forma: A Família de Schoenstatt, em todos os seus ramos, está consciente de que um Beato da Igreja está unido a ela na Aliança de Amor?
Karl Leisner estava profundamente vinculado ao nosso Santuário. Podemos supor que hoje ele o esteja de forma ainda mais intensa. Muitos que encontraram seu lar espiritual em nosso Santuário estão conscientes da existência de nosso beato? Minha percepção pessoal é que ainda estamos no início dessa questão. Até que possamos dizer que o Beato Karl Leisner ocupa um lugar natural no seio da Família de Schoenstatt mundial, falta a condição mais importante para sua canonização.
25 anos após a beatificação, essas considerações me parecem oportunas e necessárias. Uma palavra do nosso fundador pode nos encorajar e motivar. Em 14 de setembro de 1952, o Pe. Kentenich escreveu de Milwaukee/EUA ao vigário da Catedral de Münster, Heinrich Tenhumberg: «Se São Miguel e Karl Leisner são seus companheiros, nada tens a temer sobre o futuro».
Fonte: schoenstatt.com