“Não estacione na beleza exterior; a flor esconde o néctar no seu interior” (Lc 21, 5-11)
Roberta Queli Santi / Salete Schiavo – Para refletir: “Não estacione na beleza exterior; a flor esconde o néctar no seu interior. Jesus percebeu que muitas pessoas estacionavam na beleza do Templo, que era muito grande, imponente, com belas pedras, enfeitado com ofertas votivas… e algumas pessoas, extasiadas diante daquela maravilha arquitetônica, esqueciam-se até de rezar. E Ele disse: “Tudo isso será destruído! Não ficará pedra sobre pedra”! E Ele falava do Seu Templo, que era o Seu Corpo, que seria reerguido em três dias. Ele iria ressuscitar. Mas essa era a beleza interior, a verdade escondida por trás daquela beleza esplêndida do Templo de Jerusalém! Não estacione na beleza das canções! Existe muita coisa que está por trás da beleza exterior (Lc 21,5-11)”, Pe. Joãozinho, scj
Quando paramos para pensar sobre cuidados com a beleza, normalmente nos focamos naquilo que é exterior, ou seja, na aparência física. Corremos então o risco de esquecer uma dica fundamental: a verdadeira beleza é algo que se conquista e se constrói por dentro e, a partir daí, se irradia para fora de uma forma bem natural.
Para manter-se exteriormente feliz, a sociedade hoje tem à sua disposição tantos recursos que a ciência dispõe para “manter a juventude exterior”, para provar que, apesar da idade, ainda estamos jovens, lindas e com o corpo perfeito. Diante das redes sociais, muitos querem mostrar exteriormente o que são, os bens que possuem, como vivem nos seus momentos de lazer, que aparentemente são felizes, realizados, suas conquistas e suas realizações pessoais.
Mas, como manter-se sereno(a), interiormente livre para que possamos irradiar e cultivar a beleza interior em meio a uma sociedade tão regida por padrões de belezas exteriores, padrões muitas vezes inacessíveis?
Francisco Carvajal escreve que “No princípio, depois da primeira criação, a criatura era nova, perfeita, tal como Deus a havia feito. Mas o pecado a envelheceu e causou nela grandes estragos. Por isso, Deus fez outra nova criação: a graça santificante, uma participação limitada na natureza divina pela qual o homem, sem deixar de ser criatura, se torna semelhante a Deus, participa intimamente na vida divina”. É uma realidade interior que produz “uma espécie de resplendor e luz que limpa todas as manchas das nossas almas e as torna formosíssimas e muito brilhantes”. Esta graça é a que une a nossa alma a Deus num laço estreitíssimo de amor.[1]
“A graça santificante – continua o autor – diviniza o cristão e converte-o em filho de Deus e templo do Espírito Santo. Esta semelhança no ser deve refletir-se necessariamente no agir: nos pensamentos, ações e desejos – à medida que progredimos na luta ascética –, de maneira que a vida puramente humana vá dando passagem à vida de Cristo”.
Mas, a beleza física tem relação com essa graça santificante?
No livro “Madre Teresa – Uma vida maravilhosa”, Pe. Leo Maasburg relata: “Quando me encontrei com ela pela primeira vez, escrevi ao bispo para contar-lhe com quem estava. Na realidade, ela cumprimentava cada pessoa com um sorriso luminoso, independentemente de sua ocupação ou de sua posição social. Irradiava uma alegria interior que, na maior parte das vezes, rapidamente fazia ruir quaisquer preconceitos e ressentimentos que pudessem existir… [as pessoas] saíam do primeiro encontro confortadas e animadas, com o coração derretido e, muitas vezes, completamente transformadas depois de dez minutos de conversa”.[2]
Um jovem padre fez espontaneamente a seguinte pergunta a ela: “Madre Tereza, afinal, qual é o seu segredo?” Ela o olhou pelo canto do seu olho, um pouco de soslaio, e respondeu: “É muito simples: eu rezo”.[3]
Também Gertraud von Bullion, a primeira mulher a ingressar no Movimento de Schoenstatt, conquistava as pessoas com a beleza que existia em seu ser: “Sua beleza interior, que cativava todos à sua volta, lhe rendeu muitas homenagens. Palavras marcantes pronunciou o presidente, conde von Spreti, em nome do distrito da Suábia, o representante do município Schraudy e representantes do batalhão de saúde”.[4]
Como elas, Gertraud e Madre Teresa, alcançaram esse grau de beleza interior? Pe. Francisco Carvajal descreve: “Para chegarmos a essa identificação, é necessária uma orientação muito clara de toda a nossa vida: que colaboremos com o Senhor na tarefa de nossa santificação, sabendo corresponder à graça. Há de ser uma disposição habitual, que se torne realidade dia a dia, minuto a minuto, e que poderia resumir-se em três pontos principais: sermos dóceis às inspirações do Espírito Santo, mantermos em todas as circunstâncias uma vida de oração e cultivarmos um constante espírito de penitência”[5]
Em busca da beleza interior
Para conservar a beleza e juventude exterior, muito se recorre a procedimentos estéticos variados, caros. Atualmente, fala-se bastante sobre os procedimentos de harmonização facial para manter uma aparência jovial. Antes disso, no entanto, é necessário refletir se a beleza interior está avançando assim como a beleza física. Como diz a professora Geni Maria Hoss (Instagram, 2021): “A harmonização interior é resultado da vinculação com Deus, consigo mesmo, com o próximo, com a natureza, com o trabalho, com o lazer… A beleza interior não depende das aparências, cuja harmonização pode acarretar risco de vida.”
No livro “A Riqueza do ser puro”, Pe. Kentenich escreve que: “A intranquilidade de nosso coração e todos os sonhos de nossa vida são, em última análise, sonhos do paraíso. A saudade do paraíso perdido, isto é, da perfeita transformação e divinização de nosso ser, de toda a humanidade, não nos deixa tranquilos”.[6]
Para um impulso em nossa vida, levemos a certeza de que, independentemente da beleza exterior, Deus tem um grande amor para com cada pessoa e que: “Meu ser mulher tem sua grandeza na beleza interior. Meu ser mulher tem também aparência que fala da essência. Meu ser mulher tem imenso valor na alegria e na dor. (Geni Maria Hoss, Instagram, 2021).
* Contribuição da União Apostólica Feminina de Schoenstatt
Referências
[1] CARVAJALL, Francisco Fernandez. Falar com Deus: meditações para cada dia do ano, Volume 3: Tempo comum. Semana I-XII / Tradução de Luiz Fernando Cintra – 6ª edição- São Paulo: Quadrante, 2015. Páginas 456 e 458
[2] Idem – capítulo 11 – pagina 104
[3] Ibidem, capítulo 10, página 96
[4] LAUER, Nikolau. Gertraud von Bullion: Serviam resposta de amor. Lisboa: Paulus, 2009, pg 225
[5] CARVAJALL, Francisco Fernandez. Falar com Deus: meditações para cada dia do ano, Volume 3, página 458
[6] KENTENICH, Pe. José. A Riqueza do ser puro. 3ª edição, página 42