O Papa Francisco nomeia uma Irmã de Maria para a Comissão Teológica
Karen Bueno – A Ir. M. Isabell Naumann, do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt, foi nomeada pelo Papa Francisco como membro da Comissão Teológica Internacional. O anúncio foi divulgado nesta quarta-feira, dia 29 de setembro de 2021, no Boletim Vaticano. Além dela, outras 11 pessoas foram nomeadas para a mesma comissão, incluindo o novo secretário geral, Pe. Piero Coda.
Ir. M. Isabell Naumann, da Austrália, é presidente do Instituto Católico de Sydney – a Faculdade Eclesiástica para Austrália, Nova Zelandia e Oceania – onde é professora de Teologia Sistemática; também atua como professora adjunta de Teologia Sistemática na Universidade de Notre Dame, Austrália.
Além de dar conferências nos Estados Unidos, Filipinas, Cingapura, Taiwan, Itália e Alemanha, Ir. M. Isabell faz parte de vários conselhos e comissões acadêmicos nacionais e internacionais, incluindo o Pontifício Conselho para a Cultura de Roma.
Em uma entrevista para o projeto “100 mulheres de Schoenstatt”, ela conta sobre as experiências que a moldaram como mulher: “Evidentemente, como Irmã de Maria de Schoenstatt, é a relação de Aliança com a Mãe de Deus que, como Imaculada – como a mulher que, em sua resposta humana, se relaciona perfeitamente com o plano de Deus – moldou meu conceito antropológico e, em particular, de verdadeira feminilidade. Além disso, já antes de entrar em nossa comunidade e mais tarde dentro dela, tive e tenho excelentes exemplos de mulheres que representaram de forma tangível as qualidades da Imaculada, a verdadeira dignidade feminina e liderança autêntica. Também na minha vida profissional tive o privilégio de experimentar uma autêntica liderança feminina”.
A liderança feminina na Igreja e na sociedade
Ir. M. Isabell também fala, na entrevista, sobre a participação feminina em cargos de liderança na sociedade e na Igreja, o que é tão desejado pelo Papa Francisco:
A princípio, não existe profissão alguma que as mulheres não possam exercer, pois, nas palavras de Edith Stein, “nenhuma mulher é unicamente ‘mulher’, porém, cada mulher é única e possui uma disposição individual da mesma forma que o homem”. Esta disposição particular determina a competência para esta ou aquela profissão, artística, científica, técnica, etc. No entanto, ela destaca que existem certas profissões em que a particularidade feminina é especialmente necessária e atual.
O chamado da mulher é dar vida a todas as esferas da vida, ou seja: a maternidade (espiritual). É uma tarefa animadora e característica de toda mulher. É o carisma que conduz à vida, seja em cargos no mundo secular ou na Igreja, no campo científico ou na família. Sempre que uma mulher governa, dirige e lidera, ela o faz como animadora, esse é o seu carisma e, agindo como tal, pode ajudar a transformar a civilização de hoje de uma sociedade degradada, muitas vezes brutal e sem coração, para uma comunidade baseada no reconhecimento respeitoso da dignidade e dos diferentes papéis de cada um.
No que diz respeito à Igreja (deixando de lado a discussão sobre as mulheres e o sacerdócio), além da necessidade de uma sólida reflexão teológica sobre a questão da autoridade e do poder no governo eclesial, para mim se trata, sobretudo, de reconhecer em teoria a presença ativa e responsável das mulheres na Igreja e que isso se faça na prática em todos os níveis, como por exemplo:
A nomeação de mulheres para departamentos e órgãos eclesiais de assessoramento e decisão de alto nível, exercendo a corresponsabilidade com os bispos, sacerdotes e religiosos, inclusive a representação nos conselhos financeiros diocesanos; que as mulheres assumam um papel fundamental na seleção e formação dos seminaristas e participem na equipe de avaliação que decida sobre a idoneidade para a ordenação, bem como no respectivo discernimento que é necessário antes de se apresentar um candidato à ordenação; que os bispos incluam mulheres ao consultar o colégio de consultores ou a um painel de nomeação do clero ao fazer mudanças em relação ao clero; que leigos devidamente qualificados, especialmente mulheres, sejam encorajados a servir como juízes em processos sobre matrimônio e casos penais e que sejam oferecidas oportunidades de formação para ampliar o leque de pessoas capazes de fazê-lo.
A história e os dons das mulheres para a Igreja (tanto religiosas como seculares), que foram simultaneamente proféticos e problemáticos, vão desde a submissão conservadora até a resistência contemplativa inteligente e a capacidade de inovação.
Minha experiência pessoal de liderança feminina na Igreja é de luzes e sombras. Muitas vezes, as mulheres na Teologia, especialmente em cargos mais elevados, precisam ser duas vezes melhores do que seus colegas, na maioria homens, para ter alguma chance de serem ouvidas ou levadas a sério. O reconhecimento é muitas vezes marcado por um temor cortês, mas condescendente, e a possibilidade de passar a vida servindo a mensagem cristã em importantes cargos eclesiásticos seniores ou responsabilidades pastorais é limitada e sempre frágil. Na base dessas experiências também se encontram pressupostos culturais sutis em relação às mulheres e ao seu lugar chamado ‘predestinado’ …
Em minha atual função de presidente do Instituto Católico de Sydney, sou responsável por uma das mais antigas instituições de educação superior em nosso país. Os estudantes provem de uma diversidade de culturas e origens e incluem seminaristas, professores, agentes pastorais e muitos outros interessados em aprofundar sua compreensão da fé e explorar a forma como ela é vivida na sociedade contemporânea.
Um aspecto importante do meu papel é promover e fomentar um diálogo genuíno entre todas as partes interessadas e, assim, ajudar a facilitar a mudança de uma cultura de discussão e debate para uma cultura de diálogo. O diálogo não é simplesmente uma troca de ideias, mas uma troca de presentes (Ut unum synt, 28).
Seguindo o exemplo de nosso Fundador, considero que minha tarefa é reconhecer, fomentar e promover esses dons nos outros para o bem dos demais. É a bela tarefa de engendrar e alimentar a imagem dada por Deus ao outro, como imagem e com a ajuda de Maria, a Imaculada, a harmoniosa personalidade ordenada, na qual encontramos o exemplo do que significa ser “uma nova criação em Cristo”.
⇒ Veja a entrevista com a Ir. M. Isabell no site das Irmãs de Maria
Com informações de frauenprofile-schoenstatt.com