Chegamos ao terceiro Conselho Evangélico, refletindo sobre o Conselho Evangélico da Pobreza na vida familiar. Refletimos antes sobre a Castidade e a Obediência
Romulo Romanato – Ao ouvirmos o Evangelho no qual Jesus diz ao jovem rico…
Disse-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus” (Mt 19. 16-23)
Nós nos assustamos, pois aquele jovem, além de não atender o pedido de Jesus, saiu triste, porque tinha muitos bens. Infelizmente, devido a essa passagem, muitos amaldiçoam o dinheiro, fazendo parecer que é coisa do mal e que, assim, por consequência, todos os que têm dinheiro não terão direito ao paraíso.
Será que, realmente, ter posses nos leva para a ruína?
Sim e não. Sim, porque na medida que o dinheiro, as posses, me dominam e minha vida gira em torno disso, coloco ali toda a minha segurança, meu prazer e, principalmente, meu coração, acabo me afastando de muitas experiências boas na vida e, assim, dificilmente poderei experimentar a providência do bom Deus. O problema não é somente o ter, mas essencialmente é como nos portamos diante do dinheiro, das posses, como administramos e como vivemos isso em nossa vida, em nossa família.
Ao mesmo tempo, ter posses pode não ser uma ruína, quando conseguimos viver desapegados e exercitamos a partilha, contribuindo em tantas oportunidades que a vida nos apresenta.
Viver o Conselho Evangélico da Pobreza em família, numa sociedade hedonista – como a atual – é um enorme desafio. Como educar nossos filhos, e a nós mesmos, diante de tanto consumismo, tendo tantas facilidades, tantos créditos à nossa disposição?
A palavra de Jesus: “se queres” nos remete à liberdade. Eu tenho que primeiramente querer. E não é fácil conquistarmos esse “querer”.
O ponto central é: O que de fato é minha segurança? Qual é o meu maior bem?
Hoje somos escravos de muitas coisas. O termo “desapegar”, nada mais é do que ser “livre”. Eu sou livre e nada me prende, a minha confiança não está na minha conta bancária, não está nas minhas posses, não está na minha suposta competência, na minha intelectualidade, nos meus méritos. A minha confiança deve sim, estar em Deus.
Vejam, isso não significa que não devemos ser prudentes e não ter algo como uma “reserva”. Mas, há uma longa distância entre ser prudente e colocar a confiança em tudo que eu tenho.
Viver o Conselho da pobreza é viver a liberdade, sou livre, não tenho amarras. Sou disponível, nada me prende.
Se eu tenho uma casa no campo, ou uma casa na praia, não significa que todo o final de semana eu tenho que estar disponível para usufrui-la. Será que quando não me sinto feliz se não for lá todo final de semana, não me tornei escravo dessa posse? Às vezes, posso deixar de fazer tantas coisas, porque me coloco como “obrigação” usufruir de algo. Falei de uma casa, mas se aplica até a uma Bicicleta, tão em moda nos dias atuais.
Com isso, sem perceber, virei escravo. A arrogância do ter, da posse, não está apenas nos bens materiais, pode ser também a posse da intelectualidade, tão presente em muitos egos, com muitos pensamentos egoístas, do tipo: eu mereço, fiz por merecer, estudei e trabalhei para isso e mereço ter. Esse sentimento de que “sou competente, sou inteligente, estudei, sou capaz” e por isso posso usufruir, nos leva na maioria das vezes à escravidão dessas pequenas coisas.
Ao contrário, quem procura viver o Conselho Evangélico da Pobreza, experimenta algo que é fantástico: posso experimentar a “providência Divina”. Experimento o “prover” que o bom Deus quer me dar. Deus proverá! Esta é a minha certeza!
Na vida em família, devemos exercitar a liberdade de viver sem o apego, livres e de modo simples. É possível ser simples, mesmo com muitas posses? Com certeza sim. Constantemente somos surpreendidos por tantos gestos simples, mas que fazem uma diferença enorme na vida dos outros. Um vizinho compra pães todos os dias para sua casa e, nessa ocasião, aproveita para comprar pão também para o café dos funcionários do prédio onde vive. Outro, quando compra uma pizza, compra mais uma e deixa como jantar para o porteiro. Outro, quando compra roupas, imediatamente doa as usadas. Outros, mês a mês partilham de seus ganhos com os mais necessitados. Não estamos falando de esmolas, estamos falando de partilhas. Também conhecemos alguém que quando troca de carro, geralmente de grande valor, compra um de menor porte e nessa economia aproveita e faz uma doação de um carro para uma entidade que precisa tanto. Enfim, cada um deve encontrar a sua maneira de partilhar os seus bens, mesmo que não os tenha, mesmo que seja o pouco, porque sempre há o que partilhar e sempre haverá algo a nos prender, a nos amarrar.
Será que preciso mesmo ter sempre o último lançamento de qualquer coisa, do celular, por exemplo?
A partilha do que eu tenho é o modo mais útil de desapegarmos de nossos bens, de nossas posses. Seja de nossos bens, seja de nossa intelectualidade. Eu me lembro um dia que, numa pregação sobre esse assunto, o sacerdote fez um desafio: doaríamos toda a roupa que estávamos usando naquele momento, inclusive os sapatos. Era uma noite fria de um domingo à noite.
Parece que naquela noite eu estava usando tudo o que mais gostava, a jaqueta, o sapato, a calça, a camisa, enfim, tudo. E quando fui doando peça a peça aos moradores de rua, senti na alma como a gente se liberta em dar o que nos pertence.
Viver o Conselho da Pobreza em família é saber que somos peregrinos nesse mundo, nada trazemos e nada levaremos e se, por algum motivo, temos mais recursos que o outro, não se deve apenas aos nossos méritos, longe disso, mas sim ao bom Deus, que nos dá a oportunidade de partilhar, seja o muito, seja o pouco que temos.
Viva na liberdade, sem amarras que te prendam ao mundo, porque nós não somos daqui. Nossa morada eterna é o Céu. Lembre-se que só estaremos lá, porque o bom Deus partilha conosco a sua própria casa, pelo seu infinito amor! Existe alguém que viva tanto o Conselho da Pobreza quanto o nosso Deus? Ele partilha toda a sua criação com cada um de nós, inclusive a sua vida.
Deixe tudo para seguir o Mestre, se liberte, especialmente daquilo que te prende, que te amarra. Pertencemos ao céu e é lá que queremos estar um dia e preste atenção: não será por nossos méritos, mas sim, pelo amor e pela misericórdia do bom Deus. Só por isso!
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