Símbolos singelos para uma vida inteiramente sacrifical
Ir. M. Nilza P. da Silva – Neste dia 22, recordamos a carta de Ir. Mariengard, em 1941, que deu início ao “Jardim de Maria”, um ato de enlaçamento de vida com o Fundador, pela fé no atuar divino. Compromisso de amor e fidelidade que iniciou no Instituto das Irmãs de Maria e expande-se até hoje em toda a Obra.
Vejamos como surgiu e de que se trata
A primeira vez que Pe. José Kentenich, nosso Pai e Fundador, usa a expressão Jardim de Maria é poucos anos após sua ordenação sacerdotal, ainda na década de 1910: “Relacionado com as anotações sobre São Luís Grignion de Montfort, aparece pela primeira vez (nos escritos do Pe. Kentenich) o tema do “Jardim de Maria”, que mais tarde deverá desempenhar um papel especial em sua vida: ‘Quem se consagra a Maria deve aspirar a ser semelhante a Ela. Isto supõe que faça de seu coração um jardim de Maria’.”[1]
Deus abre caminhos por meio de uma singela carta
Na noite de Natal de 1941, Pe. Kentenich está preso, pelo nazismo, na cidade de Coblença. Ele já havia iniciado uma correspondência ilegal com membros de liderança da Obra de Schoenstatt, pois reconhecia que a sua prisão, assim como de muitos outros, era totalmente ilegal, uma visível tentativa do demônio de destruir a Igreja, destruir também a Obra de Schoenstatt, pela qual muitas pessoas recuperavam o entusiasmo de viver heroicamente a sua fé.
Na calada da noite, ele ouve um barulho e vê que alguém passa uma cartinha por baixo da porta, levanta-se sem ruído e, como o luar ilumina a cela, consegue ler imediatamente, sentado na cama. Trata-se de uma carta anônima ao Menino Jesus, assim como as crianças costumam escrevê-las antes do Natal, escrita no dia 22 de dezembro. Embora a autora não tenha escrito seu nome, pela letra ele reconhece que se trata da jovem Irmã Mariengart, que com 54 coirmãs, vive uma situação bem difícil, trabalhando duramente no hospital militar de Coblença, não muito longe da prisão. O que lê desperta no seu coração grande alegria. A Irmã escreve:
“Querido Menino Jesus!Em breve descerás novamente à terra, na noite de Natal… Neste ano tenho um grande pedido a te fazer. Nosso querido Pai já está longe de nós há tanto tempo e todas temos saudades dele. Não poderias, quando na noite de Natal desceres à terra, enviar um anjo ao Pai? Então, sua cela ficaria de repente cheia de luz. O anjo diria: não temas, eu te anuncio uma grande alegria. Hoje em Schoenstatt nasceu Jesus. Vai depressa à Capelinha onde encontrarás o Menino nos braços da Mãe! Então chegariam muitos anjos e abririam ao Pai o caminho ao pequeno Santuário. Ali, ele contemplaria o ‘Milagre da Noite Santa’, o Menino diria: agora podes ficar sempre junto de mim e falar muito de mim a tuas filhas, para que me encontrem pela mão da minha Mãe. E todos os filhos de Schoenstatt teriam uma imensa alegria e louvariam a ti e tua Mãe durante toda a noite. E mais tarde ainda se falaria do ‘Milagre da Noite Santa’.”[2] |
Como a carta chegou na prisão
A superiora do Hospital São José, encontrou essa carta na sua caixa de correspondência e achou, não sem razão, que estas linhas causariam alegria ao Pe. Kentenich. Por isso, enviou-a para a prisão. Pe. Kentenich não só se alegrou com a carta, mas considerou-a um sinal da Divina Providência e, na noite de 24 para 25 de dezembro, escreveu uma resposta à Irmã, como se o remetente fosse o Menino Jesus. Fazendo um jogo de palavras com o nome da Irmã, Mariengard, relacionou-o com Mariengarten (Jardim de Maria):
“Minha pequena e querida Mariengard: Realizarei o teu desejo quando o teu coração e o coração de toda a Família se tornar um florescente “Jardim de Maria”. Assim, o cumprimento de teu desejo, o “Milagre da Noite Santa”, está em tuas mãos e nas mãos dos filhos de Schoenstatt. Apressai-vos para que não seja demasiado tarde…”. |
Unidade e responsabilidade mútua
Não se trata de uma fútil conversa poética, porque a situação em que vivem é muito séria. Por trás da imagem do Jardim de Maria encontra-se o pedido de um crescimento no amor e na liberdade interior, em união com ele, numa mútua responsabilidade.
Pe. Kentenich diz claramente que sua libertação será obra da graça divina. Mas, Deus a faz depender da vida e da aspiração de seus seguidores, do seu esforço por realizar o ideal da liberdade dos filhos de Deus, tendo Maria como modelo, a grande Filha de Deus.
Ele expressa tudo isso na antiga imagem do jardim de Maria, usada pelos místicos: “Quando o teu coração e o coração de toda a Família se tornarem um florescente jardim de Maria”. As linhas escritas pelo próprio punho do Fundador têm o efeito de uma fagulha que inflama e faz brotar em catarata ideias sobre como aproveitar a vida diária para dar mais alegria a Deus. O duro dia a dia do hospital militar, é dominado pelo único pensamento de contribuir com serviços prestados por amor a Deus aos doentes, médicos e coirmãs, em mil e uma pequenas oportunidades, para a libertação do Pai e Fundador da prisão, para que ele possa trabalhar de novo livremente para Schoenstatt. Não se trata de uma “ação de libertação” usual, porque está sustentada pela fé na realidade de Deus e na mútua vinculação em Deus. O que cada um faz, não fica sem efeito sobre os outros. Essa inciativa tão singela gerou um “entrelaçamento de sorte” entre a Família e ele, ele e a Família.
Enlaçados em Cristo, para fazer a vontade de Deus Pai
Pe. Kentenich sempre foi um verdadeiro pedagogo da liberdade. Sua vocação sacerdotal encaminhara-o a viver para outros. Mas, agora há algo mais. Reconhece que Deus realmente lhe deu como missão ser Pai da sua Família de Schoenstatt, que o seguia, acreditava nele e em sua missão dada pelo Espírito Santo.
Nas cartas de São Paulo, na Bíblia, ele encontra as palavras que confirmam sua responsabilidade.
“Dou graças a meu Deus, cada vez que de vós me lembro. Em todas as minhas orações, rezo sempre com alegria por todos vós, recordando-me da cooperação que haveis dado na difusão do Evangelho, desde o primeiro dia até agora. Estou persuadido de que aquele que iniciou em vós esta obra excelente lhe dará o acabamento até o dia de Jesus Cristo. É justo que eu tenha bom conceito de todos vós, porque vos trago no coração, por terdes tomado parte na graça que me foi dada, tanto na minha prisão como na defesa e na confirmação do Evangelho” (F1 1,1 ss.).
No dia 25, dia de Natal, Pe. Kentenich escreve para Schoenstatt:
“O mais precioso que a pessoa humana possui é sua liberdade.Com sincero e ardente amor ofereço esta liberdade em oblação para que o bom Deus conceda em abundância à Família, até o final dos tempos, o espírito da liberdade dos filhos de Deus a que tanto anseio… Antes de iniciar sua paixão, Jesus rezou: ninguém me tira a minha vida… eu a ofereço porque quero. Eu faço o mesmo: ninguém me priva da liberdade, eu a sacrifico livremente… porque Deus assim o deseja… E o meu alimento é realizar os desejos daquele que me enviou”. |
Jardim de Maria é viver a verdadeira liberdade dada por Deus.
É levar a sério a comunhão dos santos, pela qual a ação de cada um se irradia sobre outros. O vínculo com o Fundador é decidir-se livremente, na vida diária, a fazer parte da graça que nos é nada por meio do Fundador.
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Fonte dos textos – livros: Pe. Monnerjahn Pe. José Kentenich: Uma vida pela Igreja e Dorothea M. Schlickmann: José Kentenich: Uma vida à beira do vulcão
[1] Pe. Monnerjahn Pe. José Kentenich: Uma vida pela Igreja
[2] Dorothea M. Schlickmann: José Kentenich: Uma vida à beira do vulcão