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Ir. M. Nilza P. da Silva – Hoje, quarta-feira de cinzas, e sexta-feira santa são os dias em que a Igreja coloca o jejum como preceito. “Os dias de penitência que devem ser obrigatoriamente observados em toda a Igreja nas sextas-feiras do ano e Quarta-feira de Cinzas.” [1] Mas, toda a quaresma e toda sexta-feira são dias especiais para penitências. “Os dias e tempos de penitência na Igreja universal são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma.” [2]
Antes de começar a falar sobre o jejum, é muito importante sabermos que a Igreja indica uma tríade para crescer no verdadeiro amor a Deus e amor ao próximo, pelo desprendimento de si mesmo: A oração, o jejum e a caridade. [1] Esses três meios são caminhos indispensáveis para a santidade.
Jejum como penitência
O jejum indicado pela Igreja não tem por finalidade a estética e nem a desintoxicação do organismo, mas, sim, como sacrifício, de nós mesmos, expressão de nosso amor a Jesus, que tanto sacrificou-se por nós, e oferecido como contribuição pessoal para a salvação das almas. A constituição apostólica Paenitemini, de São Paulo VI, regula esse tema e explica que o jejum deve ser sinal de “conversação interior do espírito, como exercício voluntário de obras externas de penitência.” [1]
O documento indica que a penitência seja feita com perseverança, sem interferir nos deveres diários, “com a aceitação das dificuldades decorrentes do próprio trabalho e da convivência humana”. [1]
Quem deve fazer jejum?
O número 1252, do Código de Direito Canônico, indica que “Estão obrigados à lei da abstinência os que completaram catorze anos de idade; à lei do jejum estão sujeitos todos os maiores de idade até terem começado os sessenta anos.” [2]
As pessoas muito frágeis, doentes, atingidos pela pobreza, infortúnio, ou “perseguidos por justa causa”, são dispensadas do jejum e “convidadas a unir suas dores ao sofrimento de Cristo.”[1] “Todavia os pastores de almas e os pais procurem que, mesmo aqueles que, por motivo de idade menor não estão obrigados à lei da abstinência e do jejum, sejam formados no sentido genuíno da penitência.” [2]
Jejum e abstinência[3] de carne
- A prática do jejum exige apenas uma refeição completa durante o dia, mas não é proibido tomar um lanche simples pela manhã e à noite, caso a refeição principal seja o almoço. O importante é o autocontrole e que não haja consumo de alimentos nos intervalos entre essas refeições.
- A abstinência indica que não se coma carnes, mas não restringe ovos, laticínios ou qualquer alimento à base de gordura animal.
- Se o jejum é obrigatório para dois dias no ano, a abstinência da carne é indicada para esses dois dias e para cada sexta-feira.
Diz o Cânone 1253, que os bispos podem fazer ajustes a esses preceitos, segundo a realidade de sua diocese. [2]
A necessidade da mortificação
Pe. José Kentenich, no livro Santidade de todos os dias, reflete e aprofunda sobre a prática da oração, do jejum e da caridade: “Assim como a ave com uma só asa não pode voar, nem se elevar às alturas, também a alma somente com a oração não poderá chegar a um verdadeiro e intenso amor a Deus. Se ela quiser penetrar tão profundamente quanto possível no coração de Deus, deverá fortificar-se e valer-se também da segunda asa, a mortificação. O espírito de mortificação e o espírito de oração ou espírito de amor não podem andar separados. Mortificação sem amor leva facilmente à destruição da própria pessoa. O amor sem mortificação cria visionários e sonhadores.[4]
Explica que Jesus nos dá o exemplo de “séria e energicamente a mortificação. Toda sua vida pode ser resumida numa única idéia: para mim o mínimo de bens terrenos, de prazeres dos sentidos e honras humanas; mas, ao mesmo tempo, o máximo de amor ao Pai celestial e às almas imortais.” E continua: “Ao redor de nós: o demônio e o espírito do mundo; em nós: a cobiça, o orgulho e a sensualidade. Podemos proteger-nos destes inimigos, exercitando-nos através de uma sábia e diligente mortificação. Contudo, precisamos aumentar a vida divina em nós, pelas boas obras e a recepção dos santos sacramentos.
Ela será tanto mais fecunda, quanto mais colaborarmos em atividades apostólicas, visando conduzir outros a esta plenitude da vida. Deus espera a nossa colaboração. Ele se compraz conosco assim como a mãe, que, ao carregar um pesado cesto, se alegra, quando o filhinho, em sua encantadora fragilidade, se oferece para ajudá-la.
Não há maneira de santificar-se, seja qual for, sem a mortificação. Oração e mortificação são as asas e o alimento de que necessita o nosso amor a Deus para poder viver e crescer. Caso venham a faltar, bem depressa, o amor esfria e morre.”
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Referências
[1] Constituição Apostólica Paenitemini – Documento que explica sobre o jejum – https://www.vatican.va/content/paul-vi/es/apost_constitutions/documents/hf_p-vi_apc_19660217_paenitemini.html
[2] Código de Direito Canônico https://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf
[3] Abster-se, deixar de comer.
[4] Esta e todas as demais citações são do livro Santidade de todos os dias, M. A. Nailis
Atualizado com a colaboração do Diác. Adelino Stefanello