Hoje, 22 de março, é o Dia Mundial da Água. Nosso Pai e Fundador ensina-nos que todas as coisas criadas “são pequenos profetas de Deus que, por incumbência divina, nos anunciam a boa nova e nos revelam seus atributos e intenções, para assim inflamar-nos de um grande amor a Deus… Toda a natureza, também as criaturas inanimadas podem e devem participar no louvor que tributamos a Deus.”[1] Por isso, convidamos Wagner Luiz Kreling, da União de Famílias, em Londrina/PR, para falar-nos sobre a água, sua realidade, seu valor e a dar-nos sugestões concretas para nossa auto educação no cuidado com ela, para fazê-la participar de nosso louvor a Deus.
Wagner Luiz Kreling – Por que um dia dedicado para celebrar, comemorar a água? Fui convidado para escrever um pouco sobre esse rico e importante recurso natural, o que agradeço, pois todos precisamos sim, falar, escrever, defender a nossa casa comum, o planeta Terra, com os seus recursos naturais, grande parte finito.
Sou geógrafo e trabalho com os recursos hídricos há mais de 20 anos,[2] por entender que a água é um recurso natural de extrema importância para a vida humana e para toda a biodiversidade. Sem ela, a vida deixa de existir. Deus, no seu infinito amor e bondade, sabia dessa importância ao criar esse bem natural.
Vamos analisar alguns pontos que nos remete a valorização desse importante recurso da natureza.
Sobre a escassez da água
Fala-se que a água vai acabar. Mas, temos tanta água, não é mesmo? Contudo, vamos relembrar algumas coisas rapidamente:
a) A quantidade de água que temos é a mesma que havia no início de sua existência no mundo (há bilhões de anos atrás);
b) Toda essa quantidade de água é conservada por meio da gravidade da terra e porque passa por um ciclo, denominado Ciclo da Água, que a maioria de nós já conhece: evaporação, condensação, precipitação, escoamento superficial e infiltração, e novamente evaporação, iniciando novamente o ciclo, assim como as ondas do mar também constantemente surgem e se quebram nas praias.
c) Nós temos aquilo que denominamos de água doce e água salgada. Em síntese, a água salgada de nosso planeta representa 97% da quantidade total de águas e a água doce, 3%. Desses 3% de água doce, a maior parte se concentra nas geleiras (2%). O restante, apenas 1%, representa as águas dos rios, do subterrâneo, da atmosfera. São as águas desse 1% que nós e toda a biodiversidade, podemos utilizar para estarmos vivos.
Boa parte desses 1% de água não está disponível, acessível.
Vejamos no Brasil: As águas superficiais de muitos rios, da região amazônica, que nem conhecemos ou é de difícil acesso. Os grandes aquíferos, reservatórios de águas subterrâneas, também são de difícil acesso, como o Aquífero Guarani, um grande manancial, um grande reservatório de água que, de forma subterrânea, atravessa diversos estados brasileiros.
Há uma “má distribuição” de água no Planeta: Sabe-se que apenas 0,7% de toda água doce do planeta estão na região do Oriente Médio e que lá, na perfuração de um poço, mais fácil encontrar petróleo, do que água.
Portanto, apesar da quantidade elevada de água que temos no planeta, esse panorama nos mostra que não é assim que toda água do planeta está disponível, ou pode ser usada.
Temos muito pouca água – e também biodiversidade – disponível para o uso. E, se associarmos ao aumento da população e ao uso indiscriminado que fazemos da água, por meio do desperdício, da contaminação e da poluição dela, vamos ver que estamos cada vez mais próximos de uma situação de escassez e, até mesmo, de sua ausência total.
Diz-se que a água dos rios é para a terra (parte sólida) aquilo que é o sangue para os órgãos vitais de nosso organismo, ou seja, é um indicador do que está acontecendo com os mesmos. Se o sangue está bom, é sinal de que o organismo está bem. Se está ruim, algo deve estar acontecendo com o organismo. Compreende-se também, que a cada um real investido em saneamento (água, esgoto, lixo, drenagem urbana e controle de vetores), economiza-se quatro reais em gastos com a saúde.
Sobre sua grande importância para a vida
Comenta-se que a falta de água representa a ausência da vida. E é verdade. Sem discorrer sobre a importância da água para a biodiversidade, o que é muito importante, a água é essencial para a vida humana. Ela compõe 60% do organismo humano. Por isso, é fundamental para o seu funcionamento equilibrado: auxilia na produção de energia, transporta substâncias necessárias (minerais, nutrientes, vitaminas) para as células (pelo sangue), ajuda na desintoxicação do organismo, por meio dos rins, regula a temperatura do corpo, o funcionamento do intestino, entre outras funções. Por isso, necessitamos de pelo menos 2 litros de água por dia para recuperar o que se perde pelas atividades do organismo.
O simbolismo religioso da água
Desde a criação, em Gênesis, se fala sobre a água na Bíblia – “O Espírito de Deus pairava na água”, “Haja entre as águas um firmamento que separe água das águas”, “Ajuntem-se num só lugar as águas que estão debaixo do céu, e apareça a parte seca (terra)”. A água representava para o povo hebreu, a presença de Deus (Gn1,1-22, Js3,14-17, 2Sm22,17, Sl144, Jd9,11-12): sua bondade e a sua ira e, também, a sua ausência (Ex2,1-10, Ex13,17-14,31, Sl42, Sl69, Sl87). Aquele que vive o projeto de Deus (o justo) é como uma árvore a beira da água (Sl1, Sl23, Pr21,1, Eclo24,28-29, Pr18,4, Is55,1, Is58,11, Jr2,13).
No Novo Testamento vemos diversas passagens que tratam da água, sejam relacionadas a Jesus Cristo ou sejam relacionadas a seus apóstolos: Jo7,38-39 “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre”, Jo 4,14 “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.
A água é considerada por São Francisco de Assis, uma irmã útil e humilde, preciosa e casta.
No Batismo, a água significa a ação do Espírito Santo. Ela se torna o sinal sacramental eficaz do novo nascimento (Catecismo da Igreja Católica – CIC – 694). A Igreja nasceu do coração trespassado de Cristo, onde jorrou sangue e água, porque foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu o crescimento admirável de toda a Igreja (CIC 766). Ainda sobre o Batismo, a imersão na água simboliza a sepultura do catecúmeno na morte de Cristo, de onde sai pela ressurreição com Ele como “nova criatura” (2Cor5,17; Gl6,15) – CIC 1214. Este sacramento é também chamado “banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo” (Tt 3, 5), porque significa e realiza aquele nascimento da água e do Espírito, sem o qual “ninguém pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5) – CIC 1215.
Por fim, sobre a água, o CIC, no número 1218, diz: “Desde o princípio do mundo, a água, esta criatura humilde e admirável, é a fonte da vida e da fecundidade. A Sagrada Escritura vê-a como “incubada” pelo Espírito de Deus: “Logo no princípio do mundo, o vosso Espírito pairava sobre as águas, para que já desde então concebessem o poder de santificar”. Por tudo isso, podemos dizer que a água é santa, é vida, é casta (pureza). E, sendo santa, vida e casta, devemos dela cuidar.
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O que podemos fazer, além de comemorar o Dia Mundial da Água?
Podemos e devemos cuidar para não desperdiçar a água, nem a contaminar ou polui-la. Estrategicamente, devemos defender políticas públicas que visam a conservação e preservação das águas, por meio da proteção dos mananciais, do reflorestamento das margens dos rios, do tratamento dos esgotos e dos efluentes de atividades industriais e agropecuárias, a fiscalização e punição por conta de ações de degradação e poluição das águas.
Cultivar hábitos salutares para nossa vida e assim valorizarmos a nossa água, podemos também contribuir com o seu uso racional, pelas seguintes ações:
a) ao lavar as mãos ou a louça, não deixe a torneira aberta todo o tempo; b) seja rápido no banho. Cada 5 minutos embaixo do chuveiro ligado consomem aproximadamente 70 litros de água; c) para escovar os dentes é necessário apenas um copo de água. Evite deixar a torneira aberta; d) antes de lavar a calçada, use vassoura. Jamais use a água da mangueira para “varrer” a sujeira; e) diminua as descargas. Regule periodicamente a válvula hidra ou a caixa de descarga; f) junte roupas para lavar todas de uma só vez. Aproveite a água usada no tanque ou na máquina para lavar calçadas; g) os maiores ladrões de água são vazamentos, torneira pingando e descarga desregulada. Faça manutenção regularmente; h) use baldes, e não a mangueira, para lavar o carro. Seu automóvel fica limpo e a economia pode chegar a 300 litros de água; i) não faça a barba com a torneira aberta o tempo todo. Use a água somente para molhar e enxaguar o rosto; j) lavar as mãos com a torneira aberta o tempo todo causa um grande desperdício. Ao ensaboar as mãos, deixe a torneira fechada; k) a água do último enxágue das roupas, no tanque ou na máquina, pode ser usada para ensaboar tapetes, tênis, cobertores, pisos e calçadas; l) ao lavar a louça, encha a cuba de água e deixe-a fechada. Evite deixar a torneira aberta, enxágue a louça toda ao final da lavagem. Assim, o gasto de água é bem menor; m) nunca jogue cigarros, absorventes ou papéis no vaso, porque o lugar deles é na lixeira; o) se puder, utilize a água da chuva para lavar calçadas e dar descarga na patente; p) quando viajar, feche o registro do cavalete de entrada de água, evitando desperdícios e vazamentos. |
Por fim, podemos dizer que: A água é um recurso natural criado e valorizado por Deus, é um recurso natural essencial para a vida humana e para a biodiversidade. Por isso, devemos ter o maior respeito e o maior cuidado para com esse recurso. O que fizermos ou deixarmos de fazer para a água ou para a terra, será a nosso favor ou contra nós.
O projeto de Deus para o homem justo (que busca a santidade) é: Use o que lhe dei com responsabilidade, integridade, respeito. Cuide da minha criação, cuide da Casa Comum. Leiamos a “Laudato Si”, escrita pelo Papa Francisco!
Água limpa sinaliza a vida! Água suja, a doença! A falta d’água, a ausência da vida!
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[1] In Santidade de todos os dias
[2] Trabalhei no COPATI (Consórcio Intermunicipal de Proteção da Bacia do Rio Tibagi) e, posteriormente, no Instituto das Águas do Paraná, órgão estadual outorgante e fiscalizador, relacionado às águas. Atualmente, atuo como gestor de educação socioambiental na Sanepar, Companhia de Saneamento do Paraná, empresa responsável pelo tratamento e distribuição de água, coleta e tratamento de esgoto para a população de 345 municípios, entre os 399 do estado do Paraná. Em todos esses anos, foram muitos projetos desenvolvidos: Recuperação de nascentes, recomposição de mata ciliar, repovoamento de peixes, educação ambiental, construção do sistema de gerenciamento de recursos hídricos em diversas bacias hidrográficas do Paraná, especialmente a do rio Tibagi, auxílio na construção do Comitê da Bacia do Rio Paranapanema, auxílio aos órgãos ambientais, reuniões com prefeitos, industriais, produtores rurais e muita sensibilização junto a escolas, universidades, entre outras atividades desenvolvidas.