Pe. Carlos Padilla Esteban – Marta e Maria representam os dois aspectos da Igreja.
Maria representa a Igreja orante,
sentada aos pés do Senhor, ouvindo a sua Palavra, os seus desejos. É uma Igreja contemplativa que oferece nas mãos de Deus todas as orações da Igreja que precisa de Deus. Uma Igreja que reza, silencia e permanece imóvel aos pés de Jesus.
Quero pertencer àquela Igreja que se prostra aos pés do Senhor em oração. Aquela Igreja que se cala para ouvir sua voz e acalmar a inquietação da alma. Aquela Igreja que entrega a Deus todas as preocupações dos homens. Na Eucaristia, na adoração, no silêncio do deserto. Esta atitude orante é fundamental para viver perto de Deus. Eu preciso fechar a boca e silenciar.
“O que se busca na meditação, Deus ou a si mesmo. Sem dependência de resultados. Independentemente do tempo investido lhe ter sido útil ou não. Estar diante de Deus sem qualquer propósito adicional. Mas, concentrado apenas em e para Deus.”[1] Preciso me desconectar do mundo que vai a toda velocidade. Quero sair das redes sociais e de tudo que me leve a viver na superfície das coisas.
“Trata-se, portanto, de mergulhar amorosamente na contemplação da vida do Senhor e de dar atenção especial aos seus traços de ternura e de atenção, se seu carinho, que se manifestam visivelmente”[2].
Entro no coração para navegar tranquilamente nas águas da vida. Contemplo a minha vida como ela é, no mundo e com sua realidade. Essa realidade e as pessoas que amo me levam para Deus. Como ensina Pe. Kentenich: “Se contemplamos diretamente diretamente a Deus, face a face, verão que, cedo ou tarde, Deus não será nada para nós. Nós subimos a Deus por meio das criaturas ou o perdemos”[3].
Gostaria de aprender a contemplar no presente a vida que Deus me dá. Contemplo as pessoas que amo e que me conduzem a Deus. Contemplar é olhar com o coração o que está diante de mim. Eu não faço mais nada. Paro de pensar no que estava fazendo ou no que preciso ainda fazer. Só penso naquele que posso abraçar, conversar, ouvir. Isso é contemplar Deus na pessoa daqueles que me amam, a quem eu amo. A contemplação é uma arte difícil porque costumamos fugir da realidade que nos limita e nos confronta.
Mas, essa é a Igreja que vive aqui e agora. Que torna Deus encarnado neste momento, neste lugar. Essa Igreja é fundamental para que depois haja uma Igreja missionária, ativa, em ação.
Marta representa aquela Igreja que serve em gestos concretos
Sem serviço, a Igreja não é visível no meio do mundo. Um serviço que não espera ser valorizado e torna presente o amor de Deus, para aquele que mais precisa.
Um serviço que implica renúncias. Sem reclamar, sem mágoas. Com um olhar puro. Por amor, sou capaz de servir em silêncio, amar sem ser notado, dar sem que ninguém o valorize. O serviço da Igreja acontece no oculto da noite. No meio da entrega de tantos corações apaixonados por Cristo.
Como o serviço de Jesus, o meu também pode incluir sofrimento e perdas. Como me recorda o apóstolo: “Agora me alegro pelos sofrimentos que suporto por vós, e completo na minha carne o que falta nas tribulações de Cristo, em favor do seu Corpo, que é a Igreja”. A resignação dói e a inveja pode surgir ao ver que outros vivem de forma diferente. Digo sim ao que Deus me pede. Mas, não fico indignado se outros servirem ou se entregarem de forma diferente. Não julgo, não me comparo. Eu não acho que todo mundo tem que fazer do meu jeito.
O serviço é sempre gratuito.
Não sou pago pelo que faço. Eu não mereço o descanso. O serviço nasce do desejo de seguir Jesus em sua entrega. É isso que conta.
Seu amor que se torna carne em meus abraços, em meus gestos, em minhas palavras. Esse serviço é que, hoje, levanta os caídos, salva aquele que não encontra sentido em sua vida. A Igreja é missão. E a missão da Igreja é o serviço generoso e gratuito às vidas que lhe são confiadas.
[1] Franz Jalics, Ejercicios de contemplación, 52
[2]Kentenich Reader Tomo 3: Seguir al profeta de Peter Locher, Jonathan Niehaus
[3] Kentenich Reader Tomo 2: Estudiar al Fundador de Peter Locher, Jonathan Niehaus