Ana Christina Melquiades -A vida espiritual, assim como as estações do ano passam por diversas etapas, temos momentos de alegria e disposição interior, onde tudo floresce como no verão e na primavera e momentos de aridez, abandono e solidão como no outono e no inverno.
Podemos comparara nossa vida espiritual a um Carvalho
O Carvalho é uma árvore conhecida por suas grandes raízes, que podem tirar água de profundidade sob a terra, tornando-os mais resistentes à seca. Um carvalho estabelecido possui raízes grossas que se expandem na terra ajudando também em sua estabilidade. Possuem longa vida e como tudo na natureza passa por todas as fases de crescimento e maturação.
Estamos vivenciando em nosso hemisfério atualmente o inverno e a grande característica desta estação é que as folhas caem, não há tantas flores, a chuva pode ser escassa, porém é o melhor momento para a árvore fortalecer suas raízes, deixá-las mais profundas e estáveis, para que nasçam as folhas e os frutos de forma exuberante na primavera e no verão.
A importância do inverno na vida espiritual
As horas de crise ou podemos também dizer de inverno, diz nosso Pai Fundador, Pe. José Kentenich, são as mais importantes de nossa vida, a verdadeira santidade consiste no abandono filial, na entrega filial de si mesmo, que se manifestam nos momentos de aridez espiritual.
Na maior parte das vezes, a aridez espiritual é permitida por Deus justamente para que possamos obter crescimento em nossa vida espiritual, assim como o Carvalho é capaz de fortalecer suas raízes, buscando água nas profundezas nos tempos de seca.
A busca pela água é para nós a visão sobrenatural diante dos acontecimentos, pois ela permite receber esses momentos com fé e confiança na condução de Deus.
Quando o coração está árido
Assim nos diz nosso Pai e Fundador:
“A vida espiritual é cheia de dificuldades. Também o cristão terá de sofrer seus efeitos não raras vezes. Então sua alma se encontra vazia como uma cisterna em meio à secura do deserto, sua inteligência obscurecida já não encontra pensamentos que a estimulem. Tudo vacila em seu interior, não há sossego. O coração está árido e sente aversão contra toda espécie de oração.
Deus não é tirano. Por isso, não permite que as almas de seus filhos se consumam muito tempo na obscura masmorra do abandono e da desolação. Ele é inteiramente Pai e se compraz em presentear a seus filhos com abundantes consolações espirituais.
Deus não trata todos como Santa Tereza que padeceu aridez espiritual durante 18 anos. Mas, tão pouco oferece graças extraordinárias de oração como concedeu a Santa Tereza, depois de ter ela perseverado fielmente na oração durante quase duas décadas de noite escura”.1
Deus em seu infinito amor, permite a cada um de forma pessoal aquilo que é necessário para o crescimento no amor e na entrega generosa à Ele. Ele sabe qual é a medida da cruz que cada um poderá carregar e o faz de forma amorosa e paternal.
Como podemos superar isso
Podemos destacar algumas atitudes que nos ajudarão a viver estes momentos:
- A paciência, aceitando a falta de consolação e entendendo que se trata de uma maneira de servir melhor a Deus e procurando receber dela algum fruto.
- a humildade diante de Deus. Reconhecendo nossas limitações, nossa pequenez e necessidade de Deus.
- A incorporação a Jesus. Nosso Senhor sofreu grandes angústias no Horto das Oliveiras, também passou pelo inverno espiritual. Passar por momentos de crise espiritual, é também assemelhar-se a Cristo.
Um grande remédio para a aridez espiritual é a generosidade o que, na prática, significa aumentar o tempo de oração, o tempo dedicado às coisas de Deus. O Pe, Kentenich diria: “Age contra por amor”. A vida de oração e o esforço pela vida espiritual, é um ato feito por amor que, tanto se torna mais valioso na medida que for mais sacrificado. Colocar-se em oração, mesmo não querendo, torna este momento precioso aos olhos de Deus, pois está contido nele nosso esforço e luta interior contra nossas próprias vontades e sentimentos.
A contribuição da Aliança de Amor
Schoenstatt oferece um meio valioso para viver estes momentos de luta interior. Não há lugar melhor para estar que no coração da Mãe de Deus quando nos sentimos sem forças para seguir. Ela nos ajudará e nos conduzirá ao amor pleno e a máxima perfeição. Ela foi a que soube viver com maior serenidade e generosidade a solidão no momento da Crucificação e em tantas situações no cumprimento de sua missão como Companheira e Colaboradora de Cristo.
“Queremos nos fortalecer novamente como um carvalho, queremos chegar a ser resistentes diante de todas as tendências do tempo atual….si queremos ser resistentes temos que cuidar que a raiz seja saudável e permaneça saudável. E se usamos mais uma vez a imagem do carvalho, então devemos cuidar para que a raiz de nossa própria grandeza Schoenstattiana seja enterrada profundamente.
E qual é o aspecto desta raiz? Sabemos, é a Aliança de Amor que a Mãe de Deus selou conosco, é a Aliança de Amor que também nós selamos com a querida Mãe de Deus como Mãe, Rainha e Vencedora três Vezes Admirável de Schoenstatt. Portanto queremos nos preocupar novamente de fortalecer nossas raízes, procurando renovar e aprofundar nossa Aliança de Amor com a Mãe de Deus”.2
Pedimos a graça da fidelidade no cumprimento de nossa Aliança de Amor em um grau de maior perfeição, para que assim possamos passar por cada estação de nossa vida seguros de que tudo se realiza segundo os sábios planos de Deus que nos conduz a eternidade.
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1 Pe. Kentenich e Ir. M. Annette Nailis, Santidade da Vida diária, pág. 124
2 Pe. José Kentenich, Padre te entrego mi dolor, pág. 104-105
* A Sra. Ana Christina pertence ao Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt
Muito bom o texto. Nestes tempos tão difíceis, encontramos muitas pessoas vivendo este inverno espiritual. A atualidade deste tema é bem apresentada e embasada no olhar do nosso Pai e Fundador, PE Kentenich, indicando um caminho…