Flávia Costa Ghelardi* – Continuarmos a análise do quarto capítulo da exortação apostólica Amoris Laetitia, sobre como crescer na caridade conjugal. Vamos ver o que o Papa Francisco ensina para os casais.
A primeira coisa é definir a caridade conjugal: “é o amor que une os esposos, amor santificado, enriquecido e iluminado pela graça do sacramento do matrimônio” (AL 120). A graça específica que os casais recebem quando celebram o sacramento do matrimônio é a santificação do seu vínculo conjugal e essa santificação se dá através do fortalecimento do amor. E este amor forte, derramado pelo Espírito Santo, é reflexo da aliança indestrutível entre Cristo e a humanidade que culminou na entrega até ao fim na cruz.
Como nos diz S. Paulo: “este mistério é grande” (Ef 5,32). O matrimônio é um ícone, ou seja, uma imagem do amor entre Cristo e sua Igreja. Ao olharmos um casal que contraiu o sacramento do matrimônio, devemos enxergar esse amor que Cristo tem por sua Igreja e a Igreja por Cristo. Em virtude do sacramento, os esposos são investidos numa autêntica missão, para que possam tornar visível, a partir das realidades simples e ordinárias, o amor com que Cristo ama a sua Igreja, continuando a dar a vida por ela. (AL 121). Esse é um grande ideal para todos os casados.
A vida toda, tudo em comum
É próprio daqueles que se amam desejar a exclusividade, um vive só para o outro e vice-versa; e também a indissolubilidade: ninguém quer se casar por tempo determinado. O amor tem o anseio do infinito, de durar para sempre. Essa fidelidade e indissolubilidade faz parte da própria natureza do amor conjugal, não é algo que se impõe de fora.
Apesar de vivermos numa cultura do provisório e do descartável, prometer um amor que dure para sempre é possível, quando se descobre um desígnio maior que os próprios projetos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa. Para que este amor possa atravessar todas as provações e manter-se fiel contra tudo, requer-se o dom da graça que o fortalece e eleva. (AL 124)
Alegria e beleza
A alegria matrimonial, que se pode viver mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o matrimónio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a cuidarem um do outro: prestam-se recíproca ajuda e serviço. (AL 126)
A beleza – o valor sublime do outro, que não coincide com os seus atrativos físicos ou psicológicos – permite-nos saborear o carácter sagrado da pessoa, sem a imperiosa necessidade de a possuir. (AL 127)
O amor matrimonial nos ajuda a contemplar o outro com o olhar de Deus. Enxergar na pessoa que escolhemos para passar a vida juntos, o belo e sagrado, uma alma imortal que é muito amada por Deus e foi confiada a mim para que eu possa ser um instrumento privilegiado para Deus poder demonstrar seu amor por ela.
O Papa nos convida a exercitar esse olhar contemplativo para o outro e também a cultivar a alegria: as alegrias mais intensas da vida surgem, quando se pode provocar a felicidade dos outros, numa antecipação do Céu. (AL 129)
Casar-se por amor
Neste tópico, o Santo Padre explica aos jovens que o matrimônio como instituição ajuda a proteger o amor e não é simplesmente uma imposição, um peso. Sem a proteção gerada pelo matrimônio, a família corre o risco de se perder. Ele explica que “comprometer-se de forma exclusiva e definitiva com outrem sempre encerra uma parcela de risco e de aposta ousada. A recusa de assumir um tal compromisso é egoísta, interesseira, mesquinha; não consegue reconhecer os direitos do outro e não chega jamais a apresentá-lo à sociedade como digno de ser amado incondicionalmente.” (AL 132)
Amor que se manifesta e cresce
Para que o amor cresça e se fortaleça, é necessário que seja expresso em gestos, atitudes. As palavras: “com licença, desculpa e obrigado” nunca devem faltar no convívio familiar. O amor que não cresce, começa a correr perigo; e só podemos crescer correspondendo à graça divina com mais atos de amor, com atos de carinho mais frequentes, mais intensos, mais generosos, mais ternos, mais alegres. (AL 134)
O diálogo
O diálogo é uma modalidade privilegiada e indispensável para viver, exprimir e maturar o amor na vida matrimonial e familiar. Mas requer uma longa e diligente aprendizagem (AL 136). É preciso aprender a linguagem do outro para que o diálogo seja possível. O ser humano é complexo e cada pessoa se expressa de uma maneira, então os cônjuges precisam de muita paciência e abertura para entender como um e outro se comunicam e comunicam seu amor. É muito importante saber ouvir, permitir que o outro fale sem ser interrompido. Sem esse esforço para entender a linguagem do amor um do outro, não é possível crescer no amor conjugal.
Este artigo faz parte da série de artigos que sintetizam a Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Amoris Laetitia do Santo Padre Papa Francisco
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt