Ir. M. Nilza P. da Silva – Esta frase do título deste artigo ressoa em nossos ouvidos há muitos anos, referindo-se ao nosso Fundador, Pe. José Kentenich. Na Carta Fraterna, escrita em sinodalidade, durante o Congresso de Pentecostes, consta:
Acreditamos que a nossa Família internacional de Schoenstatt é chamada a compreender em maior profundidade o carisma profético e a pessoa do Padre Kentenich. Precisamos, nós mesmos, estar enraizados neles para fazê-los frutificar no nosso Movimento, na Igreja e no mundo
Mas, o que é um carisma?
Os carismas, segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, “são dons especiais do Espírito, concedidos a alguém para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e, em particular, para a edificação da Igreja” (160). Ninguém dá o carisma a si mesmo e quem o recebe tem a missão de desdobrar corajosamente esse dom, para que por meio dele a Igreja realize sua missão de conduzir todos, em Cristo, ao Pai.
É Deus quem confiou ao Pe. José Kentenich seu carisma. “A grande incumbência que recebeu de Deus foi a de auxiliar a Igreja a assumir de novo seu caráter pronunciadamente missionário, a fim de salvar o mundo não só de suas angústias temporais, econômicas e sociais mas, sobretudo, do afastamento de Deus.”1
Um dom a serviço da Igreja
Ao mesmo tempo, o carisma é um dom de Deus para a Igreja. O Catecismo continua a explicar que “nenhum carisma dispensa da reverência e da submissão aos Pastores da Igreja. A eles em especial cabe não extinguir o Espírito, mas provar as coisas e ficar com o que é bom, a fim de que todos os carismas cooperem, em sua diversidade e complementaridade, para o bem comum. (801)” É natural, portanto, que haja certas tensões no processo de discernimento dos carismas. Faz parte do amadurecimento no carisma saber aceitar as provações impostas pela Igreja.
A Igreja conta com nosso carisma
Pe. José Kentenich foi muito provado e permaneceu unido a Igreja. O Cardeal Stanisław Ryłko, disse que Pe. Kentenich foi muito provado em seu carisma, “particularmente, ao longo exílio nos Estados Unidos que lhe foi imposto pelas autoridades da Igreja. No entanto, nesses anos difíceis, o amor à Igreja não diminuiu no coração do Pe. Kentenich, nem no coração de sua Família de Schoenstatt… Justamente hoje, a Igreja necessita de um novo ardor missionário e olha com esperança os movimentos eclesiais. Ela olha com grande esperança para Schoenstatt. A Igreja conta com Schoenstatt!”2
As provas vem de Deus
O Papa Francisco se disse impressionado com a “incompreensão e a rejeição que teve que sofrer o Padre Kentenich”. E explicou: “Esse é o sinal de que um cristão vai à frente: quando o Senhor o faz passar pela prova da rejeição. Porque é o sinal dos profetas. Os falsos profetas nunca foram rejeitados, porque diziam aos reis ou às pessoas o que eles queriam ouvir.” Os falsos profetas concordam com tudo, dizem: “Ah, que bonito. E mais nada.” Já para os que são rejeitados, continua ele, se faz necessária “a capacidade de aguentar”, ou seja, “suportar na vida ser deixado de lado, rejeitado, sem se vingar com a língua, com a calúnia e a difamação.”3
“Deus presenteou à Igreja, na pessoa do Pe. Kentenich, um Profeta de Maria, Portador e Anunciador de suas glórias. Também hoje, Maria deve gerar Cristo nas almas e assim salvar o mundo. Para isso, ela se estabelece nos Santuários de Schoenstatt e os transforma em lugares de sua especial atuação.”1
Um carisma que permanece vivo
Esse carisma do Pe. Kentenich continua atuante em nosso tempo. Deus chama instrumentos que se enlaçam na Aliança de Amor com a Mãe e Rainha e continuam a colaborar com sua missão.
Dom Milton Kenan Júnior, Bispo de Barretos/SP, testemunha: “O Pe. Kentenich faz parte da minha história. Desde a minha adolescência, aprendi a admirá-lo e nutrir por ele um grande afeto. No decorrer da minha vida, fui descobrindo no Pe. Kentenich a figura de “pai”. Ainda quando não o conhecia melhor, achava que ele era um homem profundamente sobre naturalizado, longe de sentir afeto pelas pessoas. Mas, lendo o texto de Ir. M. Petra Schnuerer: ʽUm encontro com o Padre Kentenichʼ, descobri que, sem deixar de ser profundamente sobre naturalizado, Pe. Kentenich era um homem normal capaz de estabelecer relações saudáveis com as pessoas e demonstrar sua ternura paternal por cada um que se aproximava dele. Hoje, vejo o Pe. Kentenich como um modelo para minha vida sacerdotal! Profundamente enraizado em Deus, Pe. Kentenich tornou-se uma imagem viva do Pai do céu para nós.”
Buscar a verdade com lucidez
É por crer na ação de Deus por meio do Pe. Kentenich que aceitamos com fé as acusações que se levantam contra ele. Interessa-nos a verdade, porque sabemos que Deus está atuando também por meio dessa situação. Como diz Dom Milton, essas questões “devem ser examinadas com muito rigor e calma.
Em primeiro lugar, penso que cabe a Família de Schoenstatt esclarecer os fatos. Talvez isso leve tempo, mas é de grande importância que os responsáveis pelos Institutos de Schoenstatt e pela Causa se debrucem sobre as ʽdenúnciasʼ e façam vir à tona a verdade dos fatos.
Em segundo lugar, creio que a Família de Schoenstatt deve continuar a falar do Pai e Fundador e divulgar a sua espiritualidade, como invocar a sua intercessão. Pelo que li, o Bispo de Treves não impede que se continue a invocar a intercessão do Pe. Kentenich.
Em terceiro lugar, oferecer contribuições no Capital de Graças toda a dor que a suspensão da Causa de Beatificação do Pe. Kentenich gerou. Creio que esta situação enfrentada com lucidez, na busca da verdade, e na confiança no Pai Deus haverá de obter grandes frutos para toda a Família de Schoenstatt!”
Dizer sim e ser fiel ao Fundador
Continua o bispo: “Por outro lado, penso que lendo a vida do Pe. Kentenich vemos que no decorrer de toda a sua vida, teve que conviver com situações que colocavam em risco não só a sua vida, mas também a sua Obra. Certamente é fruto da sua Inscriptio, ou seja do seu desejo de acolher todo sofrimento para ser fiel à vontade do Pai. Agora, a família de Schoenstatt é chamada a pronunciar o seu ʽIta, Pater!ʼ, para ser fiel como o seu Fundador ao sofrimento que Deus lhe permite, em prol da própria Igreja e do mundo que vivemos.”
Meditemos sobre isso nesta semana, em que recordamos o dia em que Deus levou Pe. Kentenich desta terra, confiando que nós, seus aliados, seguiremos realizando a missão de colaborar na transformação do mundo, por meio da Aliança de Amor.
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1 Livro: Pe. Kentenich, dom de Deus, Irmãs de Maria, Santa Maria
2 Conferência na abertura do Centenário, em Schoenstatt, em 2013
3 Audiência com a Família de Schoenstatt, em outubro de 2014