Queremos gerar uma atmosfera de abertura que permita que mais pessoas, em diferentes circunstâncias, possam participar de nosso Movimento. Carta Fraterna
Ir. M. Nilza P. da Silva – Quem chegou, hoje na manhã de domingo, na pequena cidade de Quipapá/PE, provavelmente, se encontrou com uma senhora simpática, deficiente visual, que caminha apressada em direção a paróquia, apoiada num ombro amigo. Não tem como passar sem cumprimentá-la, pois sua alegria é contagiante e ela sempre arruma um jeito de puxar uma prosa. Mas, afinal, quem é ela? Para onde vai?
O que a faz tão alegre?
“É a minha Aliança de Amor com Maria,” diz Maria José Ferreira da Silva, coordenadora e missionária da Campanha da Mãe Peregrina. Hoje, ela se levantou bem cedo, já ajeitou as coisas em sua casa e vai para a Santa Missa de renovação da Aliança de Amor, às 8 horas, na paróquia Nossa Senhora da Conceição. Ontem, a encontramos numa família que perdeu um ente querido, ela foi para rezar e dar consolo. Amanhã, ela tem compromisso com o projeto social da comunidade, vai arrecadar e distribuir ajuda aos mais necessitados, com os vicentinos. Assim vai Maria José, sem enxergar, mas, com um coração que abraça o mundo e transfigura a realidade de muitas pessoas.
E se o tempo estiver ruim?
Então, ela vai do mesmo jeito e sempre alegre, apoiada em seu esposo, Josué Ferreira da Silva, em seus filhos Maria Arimateia, Abraão e André Ferreira da Silva, ou em uma pessoa amiga. “Quer chova que faça sol, eu saio de casa e não meço distância para ir rezar com as famílias, porque Deus é a nossa segurança e Maria Santíssima passa em nossa frente,” me conta ela.
Aqui recebo um vídeo, que parece ser de um grupo de crianças, sob a chuva, se divertindo no meio da rua enlameada. Mas, é Maria José, seu esposo e umas amigas. O barulho da água que bate forte sobre os guarda-chuvas não impede que se ouça as suas gargalhadas contagiantes. Maria José vai se divertindo com os próprios tropeços, devido a falta de visão, com a lama na qual se escorrega ou que lhe gruda nos pés. “A alegria dela é sempre assim,” diz Cícera Maria Gonçalves Lima, ao enviar-me o vídeo, com essa façanha de gente que sabe rir nas adversidades, pois, como diz o Papa Francisco: “O santo é capaz de viver com alegria e senso de humor.”[1]
Cícera é coordenadora paroquial, da Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, e é quem me apresentou a Maria José. Disse-me que ela é seu braço direito na coordenação: “Ela é uma pessoa muito alegre e amada por todos. O testemunho dela é muito lindo e emociona todos que a conhecem.”
Há uma união entre eu e a Mãe e Rainha
Vamos, pois, seguir juntos, caminhando com a Maria José até a paróquia, nesse dia em que, a Família de Schoenstatt do mundo inteiro se une para renovar a Aliança de Amor, selada em 18 de outubro de 1914. Deixemos que ela mesma nos fale:
“Selei a minha Aliança de Amor há 22 anos e já renovei (solenemente) duas vezes, no Santuário de Garanhuns/PE. Pois, eu lhes digo, que existe uma união entre eu e a Mãe Rainha. Estou com setenta e um anos e sou deficiente visual (desde os 13 anos). Mas, isso não me impede de cumprir a minha missão, como missionária da Mãe Peregrina. Tenho vinte e nove famílias, com a minha são 30. Uma vez por semana, sempre nas quartas-feiras, visito a família onde a imagem da Mãe Peregrina está. Vou lá conversar e rezar com eles.”
Fiz uma Aliança de Amor
Cícera conta que, além do cuidado pelas famílias que recebem a Mãe Peregrina em seu grupo, Maria José também é “coordenadora auxiliar” e a ajuda a dirigir as reuniões com 80 missionários em sua cidade. Maria José conta como colabora para que, a partir de Quipapá, todo o Brasil se torne um Tabor:
“Todos os meses, na segunda terça-feira, a coordenadora Cícera reúne todas as missionárias. Ali a gente se encontra, faz a leitura do livro da Campanha da Mãe Peregrina e troca conversa sobre como atuar bem com nossas famílias. Quando a gente precisa se organizar, por exemplo, para ajudar na festa da paróquia ou em outra coisa necessária, a gente convida também todos os missionários. Eu tenho um contato muito bom com os missionários e as missionárias da Mãe e Rainha, aqui na cidade. Não tenho malquerença com nenhum deles. Gosto de todos, como gosto da minha família. Tenho eles como irmãos na fé, amigos e irmãos da igreja.
Quero lhe dizer que nada impede de a gente seguir o caminho de Deus. Nem deficiência, nem nada pode nos impedir, porque se a gente ama verdadeiramente a Deus, tudo se torna fácil. Eu fiz uma Aliança com Nossa Senhora e ela está sempre em minha vida, me ajudando em todas as dificuldades.
A Aliança de Amor nos torna mais fortes.
A minha vida mudou depois da Aliança de Amor. Eu me sinto mais fortalecida, com mais forças para evangelizar e levar a Palavra de Deus aos meus irmãos. Porque sem Deus e sem Maria a gente nunca chega lá. Minha vida mudou muito com a Aliança de Amor e, por isso, vou seguir sempre em frente com o Movimento de Schoenstatt.”
Maria José continua a me dizer que a força da Aliança de Amor não a deixa ficar parada. A Aliança de Amor é missão e há a chama do Espírito Santo que a impulsiona. Ela faz parte do conselho paroquial, ajuda na catequese de preparação para o batismo, acompanha as famílias enlutadas, reza semanalmente na Capela São Sebastião, numa comunidade.
Tudo isso, sem descuidar da própria família
“Estou disposta para fazer tudo isso e cuido da minha casa sozinha, lavo, cozinho, arrumo e aonde vou, meu esposo está comigo.
Entrego tudo isso no Capital de Graças, minhas alegrias, tristezas, sofrimento, desejos, tudo enfim, desde que me levanto. Rezo: ʽMãe, eu te ofereço meu dia de hoje, meu trabalho, o almoço que vou preparar e tudo o que vou fazer hoje. Eu te entrego também meus filhos, meu esposo, meus netos, entrego todo o Movimento de Schoenstatt. Tu és, Mãe, a minha fortaleza, meus olhos, meus pés e minhas mãos. Aonde irei sem ti, Mãe? Toda a minha vida é para o Capital de Graças.ʼ
Quero dizer também que sou feliz, sou alegre.
Enquanto eu viver, nunca vou abandonar a minha Igreja e nem o Movimento de Schoenstatt. Eu não sinto cansaço de ir em busca das pessoas, porque a Mãe e Rainha é tudo. Ela é que me dá forças para eu seguir os seus caminhos.” Com isso, Maria José confirma sua autenticidade schoenstattiana, segundo as palavras do Pe. José Kentenich, “se realmente quisermos ser Tabor, o sinal característico deve ser incansável alegria, contentamento… Não só fazer um rosto alegre para fora, não! Estar alegre interiormente, cultivar as alegrias, isto é, alegria interior, atitude de alegria em todas as situações.” [2]
Somos uma verdadeira Família
Durante a missa, é Maria José quem faz a proclamação de uma leitura. Pergunto para a Cícera como Maria José consegue ler. Cícera me explica que ela não consegue ler e nem escrever. Mas, o amor a Palavra de Deus é tão grande, que Maria José decorou alguns capítulos inteiros da Bíblia. Então, algumas vezes ela é convidada para, literalmente, proclamar a Palavra e o faz com muito entusiasmo.
Assim, neste dia 18 de setembro, renovamos a Aliança de Amor bem unidos aos coordenadores, missionários e famílias que recebem a Mãe Peregrina, na paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Quipapá, onde a atmosfera familiar é cultivada de modo que as pessoas de diferentes circunstâncias participam ativamente do Movimento. Mas, antes de nos despedirmos, Maria José ainda tem uma última mensagem:
“Nós todos somos uma verdadeira Família de Schoenstatt e por isso devemos ser cada vez mais unidos.”
Feliz e abençoado dia da Aliança de Amor!
[1] Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate.
[2] Conferências do Pe. Kentenich, no Brasil, em 1947
* * Fotos dos arquivos de Cícera Gonçalves Lima. Ela também é quem tornou possível essa matéria, entrevistando a Sra. Maria José **
Deus seja louvado por este testemunho dessa nossa irmã pois ela nos mostra que quando nos enchemos da graça de Deus queremos transbordar aonde quer que seja este amor incondicional