Flávia Costa Ghelardi* – No Capítulo V da exortação apostólica Amoris Laetitia o Papa Francisco trata o tema da abertura à vida e a beleza de acolher os filhos que Deus enviar para o casal. O amor, por sua natureza, é fecundo e quer gerar vida. Veremos aqui a primeira parte deste capítulo.
Acolher uma nova vida
Os filhos são amados antes mesmo de existirem. Mesmo em situações em que a gravidez acontece de maneira não desejada, existe o amor infinito de Deus que criou essa nova alma imortal para um dia estar com ele no Céu. “Se uma criança chega ao mundo em circunstâncias não desejadas, os pais ou os outros membros da família devem fazer todo o possível para aceitá-la como dom de Deus e assumir a responsabilidade de a acolher com magnanimidade e carinho”. (AL 166)
O amor na expectativa da própria gravidez
A gravidez é um período de desafios, mas também um tempo maravilhoso. É dentro do ventre da mãe que Deus infunde a alma imortal naquele filho e assim, a mãe participa nesse mistério da criação. Esse período de gestação é um período de sonhos e o melhor que se pode sonhar para o filho é a graça de ser filho de Deus, através do sacramento do batismo.
A mãe, que o traz no ventre, precisa de pedir luz a Deus para poder conhecer em profundidade o seu próprio filho e saber esperá-lo como ele é. (…) É importante que aquela criança se sinta esperada. Não é um complemento ou uma solução para uma aspiração pessoal, mas um ser humano, com um valor imenso, e não pode ser usado para benefício próprio. (AL 170)
O Papa expressa um pedido especial para toda mulher grávida: “Cuida da tua alegria, que nada te tire a alegria interior da maternidade. (…) Vive, com sereno entusiasmo, no meio dos teus incómodos e pede ao Senhor que guarde a tua alegria para poderes transmiti-la ao teu filho.” (AL 171)
Amor de mãe e de pai
Neste tópico, o Santo Padre enfatiza a primordial importância de a criança receber o amor do pai e da mãe. E não só o amor individual de cada um, mas da criança saber que existe o amor entre o pai e a mãe “captado como fonte da própria existência, como ninho acolhedor e como fundamento da família. (…) Se, por alguma razão inevitável, falta um dos dois, é importante procurar alguma maneira de o compensar, para favorecer o adequado amadurecimento do filho.” (AL 172)
O Papa ressalta também o papel insubstituível da mãe na educação dos filhos: “De fato, « as mães são o antídoto mais forte contra o propagar-se do individualismo egoísta. (…) São elas que testemunham a beleza da vida ». Sem dúvida, « uma sociedade sem mães seria uma sociedade desumana, porque as mães sabem testemunhar sempre, mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral. As mães transmitem, muitas vezes, também o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende (…). Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo. (…) Queridas mães, obrigado, obrigado por aquilo que sois na família e pelo que dais à Igreja e ao mundo». (AL 174)
E sobre o pai, ele diz: “Deus coloca o pai na família, para que, com as características preciosas da sua masculinidade, « esteja próximo da esposa, para compartilhar tudo, alegrias e dores, dificuldades e esperanças.” (AL 177)
Fecundidade alargada
O Papa fala sobre a adoção: “A adoção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar aqueles que não podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está privado de um ambiente familiar adequado. Nunca se arrependerão de ter sido generosos.” (AL 179)
Ele lembra que a família deve deixar a sua marca na sociedade em que está inserida “desenvolvendo outras formas de fecundidade que são uma espécie de extensão do amor que a sustenta” (AL 181), não devendo se fechar numa bolha para se proteger da sociedade. “Com o testemunho e também com a palavra, as famílias falam de Jesus aos outros, transmitem a fé, despertam o desejo de Deus e mostram a beleza do Evangelho e do estilo de vida que nos propõe”. (AL 184)
Distinguir o corpo
Neste tópico, lembrando a passagem bíblica de Cor 11,17-34, o Santo Padre faz um alerta para “as famílias que se fecham na própria comodidade e se isolam e, de modo especial, para as famílias que ficam indiferentes aos sofrimentos das famílias pobres e mais necessitadas” (AL 186). Não se deve aproximar da mesa da eucaristia se não buscam socorrer os mais necessitados ou consentem em diferentes formas de divisão ou discriminação.
No próximo artigo continuaremos analisando esse Capítulo V, com o tema da família em sentindo amplo.
Este artigo faz parte da série de artigos que sintetizam a Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Amoris Laetitia do Santo Padre Papa Francisco
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt