Ana Beatriz Biagioli Manoel Suzan – As discussões fazem parte da realidade de muitas famílias, mesmo daquelas que se esforçam e lutam por uma vida de santidade. Como os casais e pais que sempre discutem podem trabalhar mais o respeito e a tolerância na vida familiar? Como diminuir as brigas?
Existe uma área em nosso cérebro que é responsável por nosso comportamento e decisões, bem como por sermos capazes de conviver em sociedade.
Muitas brigas se iniciam a partir de irritações
Você sabia que quando se irrita o problema está em você e não no outro? Porque a irritação é uma reação, ou seja, a forma de processar o estímulo é a irritação, por isso que as pessoas reagem de maneira diferente à uma mesma situação, por isso que o que nos irritam diz mais de nós do que do outro.
A irritação normalmente acontece quando somos contrariados e percebemos que não temos o controle de uma situação, da nossa vida e muito menos da do outro. Criamos expectativas em relação aos outros, muitas vezes inconscientemente, quando queremos que as coisas saiam da maneira que esperamos, quando queremos que nossos desejos sejam atendidos. Se isso não acontece, nos irritamos e brigamos.
Cuidado com as expectativas criadas
Criamos muitas expectativas, especialmente com àqueles que mais amamos, nossos cônjuges, nossos filhos, irmãos, amigos. Porém expectativas geram desapontamentos, porque na grande maioria das vezes a expectativa que criamos e as quais torcemos para que se cumpra, é o papel que definimos para a vida do outro. Explico, quando nos irritamos com alguma coisa que o outro faz, é porque achamos que a nossa maneira de agir é a correta, a nossa maneira de pensar é a correta e que aquela pessoa deveria fazer daquele jeito, e quando ela não faz, é uma frustração.
E por que será que com quem amamos, o que nos irrita geram brigas? Por que será que nos outros ambientes essas brigas não acontecem?
Por que brigamos?
Na dimensão biológica, existe todo esse mecanismo fisiológico que nos leva a reagir, o cachorrinho que habita em nosso cérebro é responsável por isso.
Na dimensão psicológica, estamos acostumados diante daqueles que amamos, a termos mais liberdade para expressar nossas emoções e mais que isso, na vida matrimonial a mentalidade de querer ter razão é a maior inimiga dos casais, na grande maioria dos casos, entramos em discussões como confrontamento para provar que temos razão.
Podemos escolher
Mas, a pessoa humana não é só um ser biopsíquico, ela é também espiritual, ou seja, ela SEMPRE tem uma escolha, o que nos distingue das outras criaturas é a nossa capacidade de escolher, ao que chamamos de liberdade.
Olhemos para o nosso dia a dia, olhemos para as situações que nos levam a discussões, brigas e até mesmo nos afastarmos um do outro. Faça uma análise honesta de consciência, acredito que na grande maioria das vezes, salvo raríssimas exceções, diante dos pequenos embates do dia a dia, termos alguém absolutamente certo, significa que temos de um lado uma pessoa que está absolutamente madura e pronta e do outro lado alguém totalmente infantilizado, onde qualquer tipo de diálogo é um ponto de conflito até que alguém prove que está certo e então o outro cede e muda. Não é assim? Ou seria somente nas famílias de Jupiter que isso acontece?
Amar é uma decisão
Bem, o terceiro princípio fundamental de Schoenstatt é o Amor como a Lei Fundamental do mundo, a dinâmica do casamento é o amor, é uma decisão amar, aposto que ninguém aqui se casou com uma arma na cabeça. Portanto escolheu essa pessoa dentre tantas para partilhar a vida, amar é escolher servir, escolher não pensar em minhas próprias necessidades.
Lembra que lá no início eu disse que essa área do cérebro era a que nos ajudava a conviver em sociedade? Nos ambientes públicos, de trabalho agimos de tal forma para que não sejamos prejudicados, colocamos certas máscaras, engolimos sapos e nos comportamos como um animalzinho adestrado.
No casamento muitas vezes essas máscaras caem, nos sentimos a vontade para sermos quem a “gente é”, nosso cérebro relaxa e a ignorância pode vir à tona. Nesse movimento egoísta achamos que nosso cônjuge e filhos são obrigados a aguentar nossa imaturidade, por conhecer nossos defeitos e falhas. Isso acontece porque vivemos uma vida desatenta, mecânica e nos afogamos na rotina, como se tudo fosse um check list e então nossa vida vai se despersonificando. Já dizia Ortega y Gasset um tigre não se destigra, já a pessoa humana pode sim se desumanizar, se despersonalizar.
Observem que coloquei entre aspas o ser quem “a gente é”, afinal quem de fato eu sou? Sou imagem e semelhança de Deus, que é amor. Quem é meu cônjuge? Também é imagem e semelhança de Deus, portanto também é amor.
Como faço então para diminuir as brigas na minha casa?
Primeiro se conheça, o caminho do autoconhecimento é urgente, não no sentido de se ensimesmar, mas no sentido de como posso amar mais, servir mais, me doar mais. Para que diante de uma discussão, pare e reflita sobre a verdade dos fatos, pois na grande maioria das vezes ambos estão parcialmente certos, assim poderão ceder.
Segundo, foi para o cônjuge que juramos amor eterno, não no trabalho ou em qualquer ambiente que convivemos, portanto ofereçamos o nosso melhor, estejamos atentos às demandas que as circunstâncias nos pedem; esse movimento de saída de si constrange, aquele que está diante de você é imagem e semelhança de Deus, então surpreenda!
Terceiro e mais importante, conte com a graça santificante do Sacramento do Matrimônio, peça à Mãe de Deus para que nunca falte vinho em sua casa, o vinho do amor.
Olhe para a sua realidade, como ela se encontra hoje, ali está a vontade de Deus para sua vida, ali você é chamado a responder no maior dom de si, não se nivele por baixo, reagindo como um animal. Divergências, diferenças, dificuldades, sofrimentos fazem parte da vida, não conseguimos controlar absolutamente nada, mas podemos escolher a nossa atitude diante das circunstâncias da vida, essa é a personalidade firme nos princípios, livre para escolher e sacerdotal para amar mais e mais, deixando rastros de luz por onde passamos.
Você escolhe!
* Ana Beatriz Biagioli Manoel Suzan pertence a União de Famílias e é Psicoterapeuta na linha da Análise Existencial e Logoterapia Frankliana
Plena verdade este texto.
Hoje fiz uma reflexão