Ir. M. Nilza P. da Silva – Estamos finalizando o Setembro Amarelo. Essa denominação surgiu nos EUA, quando o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio, em 1994. Ele era muito habilidoso e seus país e amigos não perceberam seus sérios problemas psicológicos. Como pouco antes de tirar sua vida, ele havia feito uma obra de arte na reforma de um automóvel amarelo, em seu funeral havia uma cesta com muitos cartões decorados, com fitas amarelas, com a mensagem: “Se você precisar, peça ajuda.” “A iniciativa foi o estopim para um movimento importante de prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram realmente às mãos de pessoas que precisavam de apoio. Em consequência dessa triste história, foi escolhido como símbolo da luta contra o suicídio, o laço amarelo.”[1]
Estar atento aos sinais
Pe. Lício de Araújo Vale* é especialista no tema, motivado pela perda de uma pessoa da sua família, e alerta que é preciso ter clareza que uma pessoa que tira a própria vida “não quer ‘matar’ a sua própria vida! Ele quer ‘matar’ a dor de alma que sente, provocada por diversos fatores que se associam.”[2] O Padre alerta para a importância de estarmos atentos na “identificação dos sinais: devemos chamar a pessoa para conversar e ouvi-la, com amor, carinho e afeto. Sem julgar, condenar ou despejar discurso religioso. Ter empatia e acolher a dor da outra pessoa. Conduzir e encaminhar a pessoa para um profissional de saúde mental ou para o SUS por meio dos CAPS (Centros de Apoio Psicossocial). A prevenção precisa existir, enquanto estratégias para minimizar os riscos da pessoa se auto exterminar… Precisamos ter a clareza que sobre o suicídio há o tabu: ‘quem se suicida tem falta de Deus no coração’ Isso não é verdade! Pessoas de fé adoecem.”[3]
Buscar a Deus é fundamental, mas, de forma alguma dispensa a ajuda de um profissional de saúde mental e física. Isso vale tanto para quem passa pela cabeça a ideia de interromper a sua vida, como para a família que o acompanha ou para a que perdeu uma pessoa da família. Lembra o Pe. Lucio que precisamos ser humildes para sermos fortes.
Sua Mãe está aqui
Vejamos alguns exemplos de pessoas que superaram o desejo de suicídio, porque o vínculo com a Mãe e Rainha os levou a procurar uma ajuda profissional:
José Reve[4] conta que passou por uma fase muito pesada em sua vida e entrou em desespero. Sua esposa Marta rezava muito por ele e insista para que ele buscasse a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Mas, ele dizia que não estava doente. O sofrimento parecia maior do que suas forças e um dia ele decidiu tirar a vida, saltando da janela de seu apartamento. Quando sua esposa o viu ali, entrou em desespero e não sabia como agir, pois a reação de José era imprevista. Tudo aconteceu em segundos. Ela lembrou-se da Mãe e Rainha, que visitava seu lar, e rezou. Nesse exato momento, toca a campainha e ela abre a porta. Mesmo sem ser a data em que a Mãe Peregrina vinha, ela estava ali, nas mãos de sua vizinha. Marta pega a Mãe Peregrina, coloca sobre a mesa e grita: “José, sua mãe está aqui!”
José conta que, ao ouvir isso, tem um sentimento misto de ternura e de saudade. Ele volta-se para dentro de casa, se ajoelha diante da Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt e chora, durante um longo tempo. Depois, recupera as forças, vai ao Santuário e procura também uma ajuda profissional. Ele e sua esposa são muito gratos que a Mãe chegou no lar deles no dia e na hora exata para salvar uma vida.
A Mãe a atraiu pela curiosidade
Teresa Jansen tinha crises de depressão e de pânico, mas, não buscava ajuda, apesar de já ter tentado tirar a própria vida uma vez. Sua mãe, devota da Mãe e Rainha, insistia para que ela fosse ao menos ao Santuário, pois confiava que a Mãe poderia ajudar a sua filha a se conscientizar de que precisava de um tratamento. Mas, a filha não tinha interesse nem mesmo em saber onde ficava esse Santuário.
Num dia, Teresa entra em forte crise e sai de casa, decidida a colocar um fim em sua vida. Enquanto caminha para o local planejado, vê uma placa indicando, “Santuário da Mãe e Rainha de Schoenstatt”, e pensa: Nunca percebi essa placa aqui!” Num segundo de curiosidade, ela muda de direção e entra pelo portão. Ao ver o Santuário, pensa: “Vou dizer para Nossa Senhora para onde estou indo e o que vou fazer!”
Nisso, encontra-se com uma Irmã de Maria e cai em prantos. Ela não consegue falar, apenas chora desesperadamente. A Irmã, sem saber de nada, a conduz ao Santuário e reza com ela. Ao sair, foram cerca de três horas de conversa. “Eu a ouvi,” diz a Irmã. “Ela realmente estava em um sofrimento quase insuportável. Mas, eu disse a ela que Deus lhe deu mais uma oportunidade para viver.” No final, foram de novo ao Santuário, junto com a Irmã, Teresa rezou a oração de consagração e depois ficou ali, algumas horas, em silêncio, diante de Jesus eucarístico. Quando ela saiu, mudou de direção e voltou para sua casa.
Dias depois, ela voltou ao Santuário com sua mãe e com seu filho, de oito anos. Disse que tinha se confessado e procurado ajuda. Reconciliou-se com Deus e retomou a tranquilidade. A partir daí, tornou-se uma peregrina constante do Santuário. Sua mãe contou que, naquele dia em que viu sua filha sair, sem saber mais o que fazer, ela olhou para a Mãe e Rainha e disse: “Mãe e Rainha, agora é a última chance, por favor, salva a sua filha!” Sem saber disso, sua filha, “só por curiosidade”, decide entrar e ver o que havia dentro do portão do Santuário.
Ela está ali, forte e amorosa, para nos amparar
Infelizmente, há situações em que, apesar de toda ajuda e oração, aconteceu a partida de uma pessoa amada. Nesse caso, precisamos reconhecer que há situações em que nós precisamos da ajuda de um profissional para que nosso coração se abra novamente para a graça do perdão, a nós e a quem se foi. No Santuário, temos uma Mãe que também perdeu seu Filho, de modo incompreensível, e ela está ali, forte e amorosa para nos abraçar e ajudar a completar a nossa cura.
Quando termina Setembro Amarelo esse tema sai das mídias, mas, lembre-se que a Mãe e Rainha nunca tira o seu sofrimento de seu coração materno. Ela permanece ali, com seu Filho que é Vida, Verdade e Luz, a espera de que cada um de nós demos o primeiro passo ao seu encontro, mesmo que seja “só por curiosidade”.
* Pe. Licio pertence a Diocese de São Miguel Paulista, é Sacerdote, Suicidólogo, Educador e Palestrante Site: https://www.liciovale.com.br/
[1] https://www.tjdft.jus.br/informacoes/programas-projetos-e-acoes/pro-vida/dicas-de-saude/pilulas-de-saude/setembro-amarelo-mes-da-prevencao-do-suicidio
[2] https://www.rs21.com.br/noticias/confira-a-entrevista-com-padre-licio-sobre-o-tema-do-suicidio/
[3] Idem
[4] Nessas narrações os nomes foram trocados para garantir o sigilo.