Antes de sua partida para o exílio, dirigindo-se a um confrade, Pe. Kentenich testemunhou o seu saber experimentado: “Obras seculares necessitam de sacrifícios seculares!”
Burrinho de carga de Deus
Numa de suas conferências, empregou a imagem do “burrinho de carga de Deus”. Ele pressentia que seria chamado por Deus, como “burrinho” a carregar novas e pesadas cargas. Por suas palavras, ás vezes Pe. Kentenich nos permitia olhar, como que por uma fenda, ao seu interior. Certa vez, disse ele a alguém e, com isso, revelou também a sua atitude interna: “Compreenda quando lhe peço que aproveite todas as ocasiões de sacrifício, com santa avidez!”
E ele pessoalmente viveu estas palavras, mesmo nas horas mais difíceis! Confiante na Providência, estava convicto de que Deus Pai nunca envia aos seus filhos mais sofrimentos do que são capazes de suportar. Por isso: “Quero, ó Pai, somente o que te agrada, mesmo quando teu desejo prevê para mim a sentença de morte.” (Escrito em Dachau).
No verão de 1941, um grupo de pessoas esteve em reunião com o Pe. Kentenich. Nessa época, o Pe. Fischer já era prisioneiro em Dachau; e o Pe. Eise aguardava na prisão de Coblença o transporte para o campo de concentração. Numa reunião alguém manifestou o cuidado que, muito em breve, iria chegar a vez do Pe. Kentenich. Ele, então, respondeu que, sempre quando tem medo de algo, faz disto o objeto de seus pedidos. Assim, logo fica bem calmo e todos os ruídos concomitantes se calam em sua alma. Com seu senso real podia prever que, em pouco tempo, se abriram também para ele as portas da prisão e do campo de concentração. Por isso, assim se expressou: “Se causar alegria a Deus, ver-me em Dachau, então quero ir para lá”. Isto foi mais do que prontidão ao sacrifício, foi mais do que alegria sacrifical. Foi “Sitio”, isto é, “sede de sofrimento”! Mas não por causa do sofrimento como tal, mas por causa do amor! – Ofertório na missa da vida!
Sua fé heroica no amor de Deus foi a secreta fonte de forças que fez com que ele não desmoronasse sob o peso da cruz. Sempre de novo se perguntava: O que causa mais alegria ao Pai, aqui e agora? Incondicionalmente sem hesitar, na “genialidade de ingenuidade” entregou-se ao amor do Pai Eterno.
Certos escritos do Pe. Kentenich nos mostram claramente o que ele entendia por Missa da vida, sobretudo por ofertório na Missa da vida. Vejamos:
“Por minha Mãe, Senhor, em tua bondade,
aceita o régio dom da liberdade:
razão, memória, tudo com ardor,
recebe em penhor do meu amor…
Dispõe de tudo sempre livremente.
Só peço: amar-te deixa-me somente…”
O deputado Joos que, em Dachau, mantinha boas relações com o Pe. Kentenich, escreve: “O Pe. Kentenich – Fundador da Família internacional de Schoenstatt – é um homem a quem foi concedida elevada medida de sofrimentos, e ele foi capaz de superá-los; um homem que aceitou tanto as pequenas durezas da vida como os pesados golpes; e não ficou resignado sob o fardo que quase o esmagava, porém lutou até poder pronunciar um consciente sim”.
Numa conversa particular com o Pe. Kentenich, alguém lhe contou as desilusões que tivera no contato com as pessoas com quem convivia. Ele ouviu tudo com grande seriedade e depois ensinou-o a ver no sofrimento uma ponte que, segura e diretamente, visava conduzi-lo a Deus. Denominou as desilusões de degraus que nos devem levar a Deus. Para isto gostava de usar a bela imagem da cruz. O amor de Deus no-la oferece como arrimo, e nós – qual sarmento da videira – nela nos firmamos para elevar-nos ao alto.
Certa vez, contou o Pe. Kentenich a um pequeno grupo de seus seguidores, como ele superou as situações difíceis e pesada de sua vida. Sempre que Deus lhe enviava algum sofrimento, ele dirigia o olhar ao alto e perguntava que prova o seu amor paternal queria com isto presentear-lhe. Assim já não sentia mais o sofrimento como sofrimento.
Numa de suas grandes viagens pelo mundo, ao saudar as Irmãs de uma filial, disse: “Eu não vim para levá-la à Alemanha, mas sim para elevá-las a Deus.” Uma estudante que, em Milwaukee, teve diversos encontros com o Pe. Kentenich, anotou o seguinte:
“Ele unia sempre o mundo do aquém com o do além
Por isso espargia em torno de si uma atmosfera natural-sobrenatural, que cativava as pessoas e na qual a gente também se introduzia. Por diversas vezes experimentei como, em meio à conversa sobre Deus, podia-se vivenciar o divino de uma forma mais profunda. E esta vivência se gravou indelevelmente em mim…”
Se continuarmos a interrogar pelo segredo de sua admirável prontidão ao sofrimento, de sua alegria sacrifical, encontramos uma resposta muito expressiva numa declaração do deputado Joos: “Foi a Mãe de Deus que lhe intercedeu (ao Pe. Kentenich) a graça de não esmorecer, quando atingisse algo pesado, duro e doloroso”.
Também outros que conheceram o Pe. Kentenich estão convictos que a força para superar todo o difícil – digamos – para realizar o ofertório em sua Missa da vida – ele a deve à Mãe de Deus. Considerava natural que Ela, sempre de novo, presenteasse cruz e sofrimento ao seu partidário da Aliança. E ele os aceitou sempre como a “preciosidade com que as pessoas que se amam gostam de causar surpresas mutuamente”. Tais comparações não eram para o Pe. Kentenich simples palavras, mas ação e vida. Em certa oportunidade disse:
“Devemos estar profundamente convictos de que cruz e sofrimento são as maiores preciosidade que Deus pode presentear-nos. Tenho a impressão de que ainda levará muito tempo até que realmente nos convencermos desta realidade”.
Texto do livro: Pe. José Kentenich como nós o conhecemos