Joelma Melo* – Para esse Dia das Crianças, fui convidada pela Equipe de Pautas deste site, a escrever algo sobre o tema: A filialidade, segundo os ensinamentos do Pe. José Kentenich. Para deixar bem claro e ajudar os leitores a entenderem de modo mais profundo, vou convidá-los a passear na minha vida…
Imaginem um post, viralizando nas redes sociais:
“Pe. Kentenich e sua filha vendendo sanduíches natural na Praia de Copacabana”.
Então, isso não viralizou, mas aconteceu verdadeiramente e foi fruto de uma profunda e prática vivência de filialidade madura, de um profundo sentimento de pertença, de confiança. Vou contar sobre isso:
Sempre fui uma menina medrosa, indecisa, envergonhada. Cresci e isso se refletiu na minha vida adulta. Eu não tinha ideia que essas atitudes eram sintomas de uma causa: A vivência filial com a ausência de experiências de uma paternidade saudável. Mas, isso foi mudando a partir do dia que conheci o Pe. José Kentenich, em 2005.
Enfrentar a crise
Estava passando por uma crise financeira e precisava tomar uma atitude para mudar aquela situação. Uma amiga me sugeriu que eu vendesse sanduíches na praia e vi nesse conselho um aceno providencial de Deus. “Pode dar certo”, pensei. Preparei os sanduíches e sai de casa, no subúrbio do Rio de Janeiro, há duas horas de distância da zona sul. Entrei no primeiro ônibus e desci no Centro do Rio.
Para minha tristeza, o tempo começou a ficar nublado e eu, medrosa que era, pensei em desistir e voltar para casa. Mas, venci este primeiro momento de medo. Meu pensamento era: “Preciso ser forte, o Pai está comigo.” Entrei no segundo ônibus e desci em frente à Praia de Copacabana. Não estava cheia, o tempo estava um pouco nublado. Mas, o sol brilhava entre as nuvens.
Ali me veio uma profunda tristeza, uma vontade quase incontrolável de chorar. Começou a me invadir um sentimento de vergonha, misturado com solidão, e algumas lágrimas correram dos meus olhos. Fui andando pela areia, com meu isopor nos ombros, por um bom pedaço, sem falar nada. Pensei “não consigo fazer isso. Vou voltar pra casa.
O Pai está comigo
Então me veio novamente o pensamento “Eu não estou sozinha. O Pai está sempre comigo”. Então eu imaginei o Pe. Kentenich caminhando comigo ali, na praia. Imaginei como ele se sentiria ali, vendo aquelas pessoas, o que ele me falaria. De uma forma inexplicável e sobrenatural, eu senti ele realmente comigo. Fechei os olhos rapidamente e o vi sorrindo para mim.
Neste momento, me invadiu uma alegria e confiança e eu comecei a gritar: “SANDUÍCHE NATURAL, OLHA O SANDUÍCHE NATURAL! Já não tinha mais vergonha, não tinha medo, porque o Pai estava comigo. Eu não estava sozinha.
Em menos de 1 hora vendi todos os sanduíches que havia levado e doei um, para um menino em situação de rua. Voltei para casa com uma profunda gratidão, com uma profunda vivência prática: Isso é ser filho.
É preciso ser filho para ser maduro e forte
O tema da filialidade é um dos assuntos fundamentais, para aqueles que são chamados a se imergir no grande mistério que é Schoenstatt. Pe. José Kentenich, com uma clarividência profética, destacou a necessidade do cultivo do sentido filial para o desenvolvimento da personalidade humana madura, sadia e forte.
No início de seu trabalho apostólico, ele já afirmava que o grande problema da humanidade, neste tempo, consistia numa falta de abrigo, na ausência de um ponto de apoio para o espírito humano, uma falta de vinculação, que gera um sentimento de insegurança e incerteza, de falta de sentido e de uma profunda angústia.
Para o fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, a filialidade tem um valor central na vida de todas as pessoas. É necessário e urgente fazer crescer na alma a capacidade de superar as exigências de nosso tempo, por meio de uma filialidade ousada, confiante e heroica, como Cristo nos ensinou.
A Mãe educa-nos para sermos filhos heroicos
O que vivenciei naquele dia na praia tem a ver com isso, vivenciei na prática o que significa a liberdade que Deus nos presenteia, quando decidimos não somente ser filhos pelo batismo, mas assumir essa filiação como estilo de vida. A Mãe de Deus, ali, me deu a graça se ousar viver essa filialidade, para superar as exigências, que até então me sufocavam. A partir dali, sinto que ela me educa cada dia para que essa filialidade se aprofunde sempre mais.
Sim, para ser filialidade heroica, o ser filial deve se desenvolver genuinamente em cada filho de Schoenstatt e deve ser a mensagem que cada um deve transmitir com a própria vida, nos desafios da vida cotidiana.
Hoje, 12 de outubro, dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil, Dia das Crianças, devemos refletir se temos consciência da nossa filiação divina. Devemos nos recordar que a nossa essência é sermos filhos, filhos desta Mãe, pequenas crianças, filhos amados do Pai: “Se não vos converterdes e não vos fizerdes como as crianças…”
Por fim, indico para leitura o livro “Ser filho diante de Deus”, do Pe. Kentenich. É por meio dessa leitura que descobri que tenho um Pai e isso mudou a minha vida.
* Joelma pertence a União Feminina de Schoenstatt e reside no Rio de Janeiro/RJ