Ir. M. Nilza P. da Silva – Brasileiros são “caracteres genuínos, sadios, dos quais realmente se pode esculpir algo de grande. Quero exprimir-me de outra maneira: Material do qual se pode esculpir santos.” Essa descrição que nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, faz de nós, comprova-se sempre mais.
A jovem Benigna Cardoso, será beatificada no próximo dia 24 de outubro, em Santana do Cariri, Diocese de Crato, no Ceará. A missa será presidida pelo Cardeal Leonardo Steiner, no Parque de Exposições e aguarda-se a presença de cerca de 60 mil pessoas. Ela foi martirizada no dia 24 de outubro de 1941, em defesa de sua castidade.
Mas, como explica o Pe. Wesley Barros, “Benigna não é santa (somente) porque morreu de modo cruel. Mas, porque ela viveu com muita intensidade a sua fé e a caridade. Aos 13 anos, ela é uma mulher que não se cala perante o agressor, mas, o denuncia ao pároco. Por caridade com a pessoa de quem ajudava a cuidar, ela não tem como evitar totalmente as possibilidades de encontro com aquele que a assediava.”
Benigna Cardoso da Silva, nasceu em Santana do Cariri/CE, no dia 15 de outubro de 1928, filha de José Cardoso da Silva e Thereza Maria da Silva. Ficou órfã de pai e mãe, muito cedo, sendo adotada, juntamente com seus irmãos mais velhos, pela família “Sisnando Leite”, proprietária do Oiti dos Cirineus, no povoado de Inhumas.
Sua infância foi cercada pela alegria das inocentes brincadeiras, com cantigas de roda, bonecas, casinha, piqueniques, passeios etc., ao lado de suas irmãs de criação, Tetê e Irani, que ainda vivem. Benigna gostava muito de uma cantiga de roda que dizia mais ou menos assim: “Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, olhai pro céu, olhai pro céu, pro céu, pro céu, para ver Nosso Senhor, Senhor, Senhor, e todos se ajoelharem…”
Era uma jovem muito simples e cheia de humildade. De estatura média, Benigna era magra, de cabelos e olhos castanhos meio ondulados, morena clara, rosto arredondado e queixo afinado. Tinha um leve estrabismo em um dos olhos. Modesta por natureza, tímida, reservada e meditativa, não usava vestidos sem mangas, curtos nem com decotes. Sua generosidade, carisma e simpatia a fazia querida e cativada por familiares, amigos e conhecidos, tornando-se um modelo de juventude para época. Em casa, desenvolvia bem todas as tarefas domésticas, com intuito de ajudar sua família adotiva. Era boa filha, sempre obediente e prestativa.
Extremamente religiosa e temente a Deus, nutria um grande desejo de fazer a Primeira Eucaristia, e depois desse sonho realizado, seguia à risca os mandamentos divinos. Não perdia as missas e fazia penitência nas primeiras sextas-feiras em devoção ao Sagrado Coração de Jesus, sempre na companhia de sua “madrinha Ozinha” e da “Tia Bezinha.” Era assídua na participação eucarística.
Aos 12 anos de idade, já lendo e escrevendo, Benigna começou a ser assediada, por um rapaz chamado Raul Alves, com propostas de namoro, rejeitadas de forma categórica por ela, que nada queria com ele a esse respeito. Ela procurou imediatamente o seu pároco, Pe. Cristiano Coelho, para pedir conselhos sobre a perseguição de Raul. O padre a aconselhou ir estudar em Santana do Cariri e a presenteou com uma Bíblia, que se tornou seu livro de cabeceira, guardado com esmero e carinho. Benigna se encantava com as gravuras e as histórias do Antigo e do Novo Testamento. Neste Livro Sagrado ela encontrou apoio para resistir às tentações de Raul e fortalecer cada vez mais sua fé.
A caminho para a escola, se mostrava sempre uma defensora da natureza, não deixando que seus colegas maltratassem as plantinhas e nem tirassem suas flores ou galhos. Na sala de aula, era uma aluna exemplar; por demais estudiosa, cuidadosa, pontual e colaboradora. Sempre gostava de ajudar seus colegas, para não vê-los punidos com a palmatória, ou de joelhos nos caroços de milho, castigos usados e permitidos na época, que a deixava demasiadamente triste e, às vezes, ela chorava com os castigos que eram aplicados aos seus colegas.
Benigna tinha 13 anos e, como toda adolescente, seu corpo tomava as delicadas formas femininas, o que atraiu a atenção de Raul. Depois de várias tentativas sem sucesso, numa tarde de sexta-feira, dia 24 de outubro de 1941, sabendo que Benigna ia pegar água num poço, próximo à sua casa, Raul ficou à espreita, atrás do mato, observando-a com o pote de água na cabeça. Quando ela se aproxima, ele a aborda sexualmente. Ela recusa seu convite e ele insiste, tentando violentá-la. Ela diz firmemente que “não” e luta heroicamente para se defender.
Raul, ao perceber que Benigna nada aceitaria em relação ao contato sexual, é tomado por um ódio feroz, tira um facão e a golpeia, cortando-lhe os dedos da mão. A adolescente continua a lutar, de forma sobre-humana, contra seu algoz, preferindo morrer em defesa de sua castidade. Os golpes com o facão continuam e lhe atingem a testa, as costas e por fim no pescoço, deixando-a quase decepada. Ao vê-la morta, com o corpo inocente caído e o sangue a jorrar entre as pedras, Raul foge. Quando encontrada, Benigna já não tinha mais como ser socorrida.
O assassino foi preso, pagou pelo seu crime e se arrependeu muito do que fez. Em 1991, 50 anos após o assassinato, ele volta ao local do crime para rezar. Em lágrimas, pede perdão para Benigna e testemunha sua sincera mudança de vida, sua conversão ao cristianismo. Fez penitências para salvar sua alma e, pedindo a intercessão de Benigna, alcançou graças. Ela se torna sua intercessora divina, a quem ele sempre rogava nas horas de aflição. Segundo ele, seu ato foi de loucura e “ela se mostrou virtuosa, quando resistiu para não pecar e não apenas para ver se escaparia.”
No livro de registro de batismo, Pe. Cristiano deixou escrito, na época, ao lado do seu batistério de Benigna: “Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941.
Anualmente, milhares de peregrinos acorrem ao local do martírio da jovem Benigna para agradecer e suplicar sua intercessão junto a Deus. Sua vida é exemplo da fé aplicada nas situações cotidianas, da fortaleza na luta em defesa contra o mau.
Fonte: Raimundo Sandro Cidrão – Imagens: Reportagem Especial – Tv Assembleia do Estado do Ceará.
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